quarta-feira, 15 de março de 2017


O Barão da Folgosa


Um mortaguense desconhecido dos seus conterrâneos

Jerónimo d’Almeida Brandão Sousa nasceu em Mortágua a 30 de Setembro de 1801.
Era neto de Maria Teresa da Silva e de João de Sousa Brandão, natural do Freixo, e Monteiro-mor de Mortágua.
O seu pai era Francisco d’Almeida Brandão e Sousa, natural de Mortágua,  que ocupou o lugar de Monteiro-mor de Mortágua, vago por falecimento de João de S. Brandão. Foi depois comerciante na cidade de Lisboa.  Morreu em 1831, na cadeia do Limoeiro, vítima de maus tratos a que  foi sujeito, por ser aderente da Carta Constitucional de 1826, e defensor da causa liberal e dos direitos de D. Pedro IV e D. Maria II.

Jerónimo Brandão de Sousa seguiu a vida comercial e tornou-se abastado proprietário e capitalista. Casou com Maria Joaquina Rocha de Castro, filha de José Joaquim de Castro, também negociante e proprietário em Lisboa.
Desempenhou vários cargos importantes tais como, Tesoureiro da Alfandega das Sete Casas e Recebedor da Mesa dos Vinhos da Alfandega.
 Serviu como Coronel do Regimento de Artilheria Nacional de Lisboa e após a sua extinção, foi nomeado primeiro Comandante do novo Regimento de Artilheria da Carta. 1
Fez parte do Conselho da Rainha D. Maria II, e foi Comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.
Por Alvará de 30 de Dezembro de 1840, foi nomeado Fidalgo Cavaleiro da Casa Real.
Após a extinção das Ordens Religiosas em 1834, a Quinta da Folgosa, na margem esquerda do rio Douro, pertença do Mosteiro de Salzedas desde o século XIII, foi arrematada em hasta pública a 6 de Novembro de 1841, por Jerónimo d’Almeida Brandão Sousa.
Em 1843 foi-lhe concedido o título de 1º Barão da Folgosa, em sua vida.2
Em  Janeiro de 1846, foi nomeado pela Rainha D. Maria II para integrar uma comissão para desencadear uma subscrição nacional de apoio às vítimas das chuvas na ilha de Santo Antão, em Cabo Verde. 3
O  monumento fúnebre de homenagem ao poeta Filinto Elísio, que se encontra no cemitério parisiense de Père Lachaise, foi em grande parte financiado por Jerónimo Brandão Sousa.

Não faltaram também alguns detractores do Barão.
No catálogo de um alfarrabista do Porto 4 encontramos a transcrição de uma carta anónima ao redactor do jornal Estandarte que acusa  o Barão de grande crueldade com a sua esposa.
Foi deputado parlamentar, mas é referido como um político que punha os seus interesses pessoais acima de quaisquer convicções 5 , embora as afirmações partam de alguém que é, seguramente, um seu opositor.

Morreu em Lisboa  a 10 de Julho de 1848.

 

1 SILVA, Desembargador Antonio Delgado da : Collecção Official da Legislação Portuguesa. Anno de 1846. Imprensa Nacional. Lisboa 1846

Convindo nas circumstancias actuaes, crear um Regimento de Artilharia de Voluntarios, com o fim de equilibrar a força que estes Corpos apresenta, e tirar da mesma todo o partido: Hei por bem Determinar, que immediatamente se reorganize o Regimento de Artilheria de posição de Voluntarios Nacionaes, sobre o Plano que com este baixa, assignado pelo Marechal do Exercito, Marquez de Saldanha, Presidente do Conselho, Ministro e Secretario d'Estado dos Negocios da Guerra; o qual se denominará - Regimento de Artilheria da Carta=; e Nomear para Coronel Commandante do mesmo, o Coronel que foi do extincto Regimento de Artilheria Nacional, Barão da Folgosa.

O mesmo Marechal do Exercito, Marquez de Saldanha, Presidente do Conselho, Ministro e Secretario d'Estado dos Negocios da Guerra o tenha assim entendido, e faça executar. Paço das Necessidades, em vinte e um de Outubro de mil oitocentos quarenta e seis. = RAINHA. = Marquez de Saldanha.”

2  Decret, de 8, e Carta de 10 de Novembro de 1843. —(D. Maria II — Regist. no Arch. Nac. da T. da T. - Mercês  da Rainha D. Maria II. Livro 22 a fl. 121 v

3 ASSOCIACÃO MARITIMA E COLONIAL :ANNAES MÁRITIMOS  E COLONIAES, QUINTA SERIE, PARTE OFFICIAL  IMPRENSA NACIONAL. LISBOA 1845.

SECÇÃO DO ULTRAMAR.

Constando por Officio do Governador Geral da Provincia de Cabo Verde, de 11 de Novembro ultimo, que a excessiva abundancia de chuvas que cahiram na Ilha de Santo Antão nos primeiros dias do mez de Outubro, produzira uma alluvião que causou terriveis estragos, deixando os habitantes daquella Ilha reduzidos á fome suas habitações em grande parte destruidas e até muitas inteiramente estragadas : Sua Magestade a Rainha, desejar por todos os meios com os soccorros opportunos ás infelizes victimas daquella calamidade, É servida determinar, pela Secretaria d'Estado dos Negocios da Marinha e Ultramar, que uma Commissão composta do Barão de Lazarim, Major General d'Armada , do Brigadeiro Francisco de Paula Bastos, Membro da Camara dos Deputados, do Barão da Folgosa. do Major Joaquim Bento Pereira, Membro da Camara dos Deputados, e do Negociante da Praça de Lisboa, João Gomes da Costa , os quaes de entre si escolherão Presidente e Thesoureiro, trate de promover pelos meios que julgar mais profícuos uma subscripção nas differentes terras do Reino, cujo producto seja applicado ao soccorro daquelles infelizes habitantes ; confiando Sua Magestade das qualidades de todos os nomeados, que se haverão esta incumbencia por modo que inteiramente corresponderá aos desejos do Seu maternal coração. Paço em Belem em 17 de Janeiro de 1846. = Joaquim José Falcão.”

4Catálogo de : Livraria Manuel Ferreira Lda Alfarrabista. Porto

«CARTA ANÓNIMA não datada, dirigida ao “Snr Redactor” do Estandarte, José Bernardo da Silva Cabral. Dim. 21,5 x 27 cm.
Carta anónima manuscrita sobre papel com timbre “Abelheira-Porto”, onde a autora denuncia os maus tratos a que Maria Joaquina da Rocha e Castro, Baroneza da Folgosa se sujeitava de seu marido Jerónimo de Almeida Brandão e Sousa, primeiro e único barão da Folgosa, rico comerciante e capitalista natural de Mortágua, com propriedades em Lisboa, entre as quais o Palácio da Ega e no Douro…

“Nas - noticias diversas - do “Estandarte”, que V. - tão dignamente dirige, publicou-se que a B. da Folgoza sahira da Companhia do seu marido, para se esquivar aos máus tratos, que este lhe dava. (...) Mas o credito da respeitavel Senhora nem por isso ficou a coberto da critica, da abelhudice, e da maledicencia. (...) Á mais de um ano, que a B. da F. se retirou da sua caza para a da sua infeliz filha cazada, conservando-se alli depois do infausto fallecimento d’esta (...) em quanto não pôde recolher-se, como fez ultimamente, a um convento. As razões circunstanciadas d’isto não é necessario pôl-as aqui a publico; (...) Basta dizer que quando a minha amiga tomou a rezolução de se accolher ao amparo da sua boa filha, já a muito, que encerrada no seu quarto só comia os sobejos da meza das criadas da Caza! É que nem coagido pela justiça das Leis seu marido lhe mandou ainda dar os alimentos, que lhe pertencem pelos mais sagrados deveres (...)”, terminando a autora por pedir ao Redactor do Estandarte a publicação desta carta para a “defeza d’uma Senhora, que a sorte fez desditoza (...)”.»

5 D'ARGA, Eremita da Serra (atribuído a D. João de Avevedo): QUADRO POLITICO, HISTORICO E BIOGRAPHICO DO PARLAMENTO  DE 1842; Tipographia de Manoel J. Coelho, Lisboa 1945  

e barão da Folgosa, o agiota (Perryer como nós lhe ouvimos chamar!) saltava de cá para lá com a agilidade d'um saltimbanco. Se lhe perguntavam o porque, Rodrigo é quem se encarregava de responder: — deixa-lo, dizia elle, que bem avisado anda no como procede. Pouco importa que vote com o governo, porque sempre que convier será nosso.
Esta asserção era exacta; mas no que apenas havia erro era na supressão d'um artigo. Quem, não disse, lhe convier, não tinha dito cousa nenhuma.
Essa occasião não chegou, e por isso Folgosa, parlamentarmente fallando, morreu no posto em que o deixaram as ultimas transações d'agiotagem. “ Pg.17
“Apoz o debate dos discricionarios veio o do decreto do 1.º d'Agosto, e ahi estiveram os ares mais turvos.
Receoso de defecção por surpreza, o governo chamou tudo a seus postos, e quem não appareceu levou nota. Folgosa, foi um dos que não quiz votar, e ignoramos se d’ahi lhe veio, ou de o supporem affecto a Rodrigo, não ser depois reeleito.” Pg. 23 

 



Quinta da Folgosa ou Quinta dos Frades

Fotografia antiga copiada de Jornal dos vinhos.com

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