O
Barão da Folgosa
Um mortaguense desconhecido dos seus conterrâneos
Jerónimo
d’Almeida Brandão Sousa nasceu em Mortágua a 30 de Setembro de 1801.
Era neto de Maria
Teresa da Silva e de João de Sousa Brandão, natural do Freixo, e Monteiro-mor
de Mortágua.
O seu pai
era Francisco d’Almeida Brandão e Sousa, natural de Mortágua, que ocupou o lugar de Monteiro-mor de
Mortágua, vago por falecimento de João de S. Brandão. Foi depois comerciante na
cidade de Lisboa. Morreu em 1831, na cadeia
do Limoeiro, vítima de maus tratos a que
foi sujeito, por ser aderente da Carta Constitucional de 1826, e
defensor da causa liberal e dos direitos de D. Pedro IV e D. Maria II.
Jerónimo
Brandão de Sousa seguiu a vida comercial e tornou-se abastado proprietário e
capitalista. Casou com Maria Joaquina Rocha de Castro, filha de José Joaquim de
Castro, também negociante e proprietário em Lisboa.
Desempenhou
vários cargos importantes tais como, Tesoureiro da Alfandega das Sete Casas e
Recebedor da Mesa dos Vinhos da Alfandega.
Serviu como Coronel do Regimento de Artilheria
Nacional de Lisboa e após a sua extinção, foi nomeado primeiro Comandante do novo
Regimento de Artilheria da Carta. 1
Fez parte do
Conselho da Rainha D. Maria II, e foi Comendador da Ordem de Nossa Senhora da
Conceição de Vila Viçosa.
Por Alvará
de 30 de Dezembro de 1840, foi nomeado Fidalgo Cavaleiro da Casa Real.
Após a extinção das Ordens Religiosas em 1834, a Quinta da Folgosa, na margem esquerda do rio Douro,
pertença do Mosteiro de Salzedas desde o século XIII, foi arrematada em hasta
pública a 6 de Novembro de 1841, por Jerónimo d’Almeida Brandão Sousa.
Em 1843 foi-lhe
concedido o título de 1º Barão da Folgosa, em sua vida.2
Em Janeiro de 1846, foi nomeado pela Rainha D.
Maria II para integrar uma comissão para desencadear uma subscrição nacional de
apoio às vítimas das chuvas na ilha de Santo Antão, em Cabo Verde. 3
O monumento fúnebre de homenagem ao poeta
Filinto Elísio, que se encontra no cemitério parisiense de Père Lachaise, foi
em grande parte financiado por Jerónimo Brandão Sousa.
Não
faltaram também alguns detractores do Barão.
No catálogo de um alfarrabista do Porto 4 encontramos a transcrição de uma carta anónima ao redactor
do jornal Estandarte que acusa o Barão de grande crueldade com a sua esposa.
Foi deputado parlamentar, mas é referido como um político que
punha os seus interesses pessoais acima de quaisquer convicções 5 , embora as afirmações
partam de alguém que é, seguramente, um seu opositor.
Morreu em
Lisboa a 10 de Julho de 1848.
1 SILVA, Desembargador Antonio Delgado da : Collecção Official da Legislação Portuguesa. Anno de 1846. Imprensa
Nacional. Lisboa 1846
“Convindo nas circumstancias
actuaes, crear um Regimento de Artilharia de Voluntarios, com o fim de
equilibrar a força que estes Corpos apresenta, e tirar da mesma todo o partido:
Hei por bem Determinar, que immediatamente se reorganize o Regimento de
Artilheria de posição de Voluntarios Nacionaes, sobre o Plano que com este
baixa, assignado pelo Marechal do Exercito, Marquez de Saldanha, Presidente do
Conselho, Ministro e Secretario d'Estado dos Negocios da Guerra; o qual se
denominará - Regimento de Artilheria da Carta=; e Nomear para Coronel
Commandante do mesmo, o Coronel que foi do extincto Regimento de Artilheria
Nacional, Barão da Folgosa.
O mesmo Marechal do
Exercito, Marquez de Saldanha, Presidente do Conselho, Ministro e Secretario
d'Estado dos Negocios da Guerra o tenha assim entendido, e faça executar. Paço
das Necessidades, em vinte e um de Outubro de mil oitocentos quarenta e seis. =
RAINHA. = Marquez de Saldanha.”
2 Decret, de 8, e Carta de 10 de Novembro
de 1843. —(D. Maria II — Regist. no Arch. Nac. da T. da T. - Mercês
da Rainha D. Maria II. Livro 22 a fl. 121 v
3 ASSOCIACÃO MARITIMA E COLONIAL :ANNAES
MÁRITIMOS E COLONIAES, QUINTA SERIE, PARTE OFFICIAL IMPRENSA NACIONAL. LISBOA 1845.
“SECÇÃO
DO ULTRAMAR.
Constando por Officio do
Governador Geral da Provincia de Cabo Verde, de 11 de Novembro ultimo, que a
excessiva abundancia de chuvas que cahiram na Ilha de Santo Antão nos primeiros
dias do mez de Outubro, produzira uma alluvião que causou terriveis estragos,
deixando os habitantes daquella Ilha reduzidos á fome suas habitações em grande
parte destruidas e até muitas inteiramente estragadas : Sua Magestade a Rainha,
desejar por todos os meios com os soccorros opportunos ás infelizes victimas
daquella calamidade, É servida determinar, pela Secretaria d'Estado dos Negocios
da Marinha e Ultramar, que uma Commissão composta do Barão de Lazarim, Major
General d'Armada , do Brigadeiro Francisco de Paula Bastos, Membro da Camara
dos Deputados, do Barão da Folgosa.
do Major Joaquim Bento Pereira, Membro da Camara dos Deputados, e do Negociante
da Praça de Lisboa, João Gomes da Costa , os quaes de entre si escolherão
Presidente e Thesoureiro, trate de promover pelos meios que julgar mais
profícuos uma subscripção nas differentes terras do Reino, cujo producto seja
applicado ao soccorro daquelles infelizes habitantes ; confiando Sua Magestade
das qualidades de todos os nomeados, que se haverão esta incumbencia por modo
que inteiramente corresponderá aos desejos do Seu maternal coração. Paço em
Belem em 17 de Janeiro de 1846. = Joaquim José Falcão.”
4Catálogo de : Livraria Manuel Ferreira Lda Alfarrabista. Porto
«CARTA ANÓNIMA não datada,
dirigida ao “Snr Redactor” do Estandarte, José Bernardo da Silva Cabral. Dim.
21,5 x 27 cm.
Carta anónima manuscrita
sobre papel com timbre “Abelheira-Porto”, onde a autora denuncia os maus tratos
a que Maria Joaquina da Rocha e Castro, Baroneza da Folgosa se sujeitava de seu
marido Jerónimo de Almeida Brandão e Sousa, primeiro e único barão da Folgosa,
rico comerciante e capitalista natural de Mortágua, com propriedades em Lisboa,
entre as quais o Palácio da Ega e no Douro…
“Nas - noticias diversas - do
“Estandarte”, que V. - tão dignamente dirige, publicou-se que a B. da Folgoza
sahira da Companhia do seu marido, para se esquivar aos máus tratos, que este
lhe dava. (...) Mas o credito da respeitavel Senhora nem por isso ficou a
coberto da critica, da abelhudice, e da maledicencia. (...) Á mais de um ano,
que a B. da F. se retirou da sua caza para a da sua infeliz filha cazada,
conservando-se alli depois do infausto fallecimento d’esta (...) em quanto não
pôde recolher-se, como fez ultimamente, a um convento. As razões
circunstanciadas d’isto não é necessario pôl-as aqui a publico; (...) Basta dizer
que quando a minha amiga tomou a rezolução de se accolher ao amparo da sua boa
filha, já a muito, que encerrada no seu quarto só comia os sobejos da meza das
criadas da Caza! É que nem coagido pela justiça das Leis seu marido lhe mandou
ainda dar os alimentos, que lhe pertencem pelos mais sagrados deveres (...)”,
terminando a autora por pedir ao Redactor do Estandarte a publicação desta
carta para a “defeza d’uma Senhora, que a sorte fez desditoza (...)”.»
5 D'ARGA, Eremita da Serra
(atribuído a D. João de Avevedo): QUADRO
POLITICO, HISTORICO E BIOGRAPHICO DO PARLAMENTO
DE 1842; Tipographia de Manoel J. Coelho, Lisboa 1945
“e barão da Folgosa, o
agiota (Perryer como nós lhe ouvimos
chamar!) saltava de cá para lá com a agilidade d'um saltimbanco. Se lhe
perguntavam o porque, Rodrigo é quem se encarregava de responder: — deixa-lo, dizia elle, que bem avisado anda no como procede. Pouco
importa que vote com o governo, porque sempre que convier será nosso.
Esta asserção era exacta;
mas no que apenas havia erro era na supressão d'um artigo. Quem, não disse, lhe convier, não tinha dito cousa
nenhuma.
Essa occasião não chegou,
e por isso Folgosa, parlamentarmente fallando, morreu no posto em que o
deixaram as ultimas transações d'agiotagem. “ Pg.17
“Apoz o debate dos
discricionarios veio o do decreto do 1.º d'Agosto, e ahi estiveram os ares mais
turvos.
Receoso de defecção por
surpreza, o governo chamou tudo a seus postos, e quem não appareceu levou nota.
Folgosa, foi um dos que não quiz votar, e
ignoramos se d’ahi lhe veio, ou de o supporem affecto a Rodrigo, não ser depois
reeleito.” Pg. 23
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