Peixes da ribeira de Mortágua
Pela
leitura de alguns livros antigos, temos a informação que o concelho de Mortágua
terá sido rico em caça, o que hoje não acontece por variadas razões, desde as
alterações do habitat, ao aumento descontrolado de caçadores e ao
desaparecimento de espécies como o lobo que sendo predadores pouco eficientes
controlavam a difusão de doenças entre a caça, apanhando essencialmente os
elementos afetados.
Já
em relação à pesca, os dados são mais escassos e as informações menos
entusiasmadas. Mas alguma coisa nos vai aparecendo.
O
Pe Luiz Cardoso, no seu Dicionário Geográfico, datado de 1747,
diz-nos a propósito do lugar de Almaça:
“ALMASSA,
ou Almaça. …… Fica este Lugar
entre o Mondego, e outra ribeira, que vem de Mortágua, e nesta terra
acaba no Mondego. É caudalosa, e corre de Norte a Sul. Serve de divertimento
aos moradores pelas pescarias, que nela fazem, principalmente no Verão, na qual
pescam bordalos, bogas, ruivacos, e barbos, que em todo o tempo é sua pescaria
livre. “1
Já
Augusto de Pinho Leal, na sua obra Portugal Antigo e Moderno, publicado em
1875, dá-nos uma imagem um pouco mais rica:
“MORTÁGUA
…..Os seus rios lhe fornecem bastante peixe (lampreias, sáveis, trutas,
bogas e outros)…” 2
Durante
a minha juventude fui um frequentador diário da ribeira de Mortágua, onde
pesquei e nadei durante todos os dias das minhas férias escolares.
Quanto
a lampreias, nunca vi nenhum exemplar adulto na nossa ribeira. No entanto
apanhei à mão um pequeno ciclóstomo de cerca de 10 centímetros a cerca de 100
metros a montante do Poço do Vau, o que leva a pensar que algum exemplar adulto
tenha vindo desovar à nossa ribeira.
Nunca
vi, nem ouvi falar da presença de sáveis. A única notícia que me chegou foi que
o Sr. Reis tinha pescado, fisgado pelo lombo, um sável de mais de 2 quilos, mas
no rio Mondego.
Quanto
a trutas, sabía da sua existência na ribeira de Mortágua, a montante de Pala. Também
era relatada a sua captura na ribeira da Fraga.
As
restantes espécies,
bordalos,
bogas, ruivacos, e barbos, eram comuns e relativamente abundantes, bem
como as enguias.
A
construção da Barragem do Couço, impediu definitivamente a subida de enguias,
sáveis ou lampreias.
Os
bordalos, e até mesmo os ruivacos, tem vindo a desaparecer.
A Associação de Caça e Pesca
de Mortágua constituída a 12 de Fevereiro de 1987 é gestora duma zona de concessão de pesca desportiva que abrange grande
extensão da ribeira. Esta concessão veio retirar aos não sócios o direito a
pescar. A associação procede ocasionalmente
ao repovoamento com Trutas Fário provenientes dos viveiros da Direcção Regional
de Agricultura de Trás os Montes, mas que rapidamente desaparecem.
Em 1919 tive a oportunidade
de as ver e fotografar no cascalho imediatamente a jusante da ponte de Vale de
Açores.
Desde
então, nunca mais as consegui ver.
Em contrapartida, os barbos vão fazendo a sua aparição, na mesma zona, surgindo por vezes exemplares de grandes dimensões.
Os
ruibacos são cada vez mais escassos, mas ainda os consegui fotografar .
As
bogas continuam a desovar na ribeira,
como atestam estas crias que fotografei.
Quanto
a bordalos, não vejo nenhum na ribeira de Mortágua, há pelo menos cinco anos.
1CARDOSO, P e Luiz. DICCIONARIO GEOGRAFICO - NOTICIA HISTORICA DE TODAS AS CIDADES, VILLAS, LUGARES, e Aldeas, Rios, Ribeiras, e Serras dos Reynos de Portugal, e Algarve, com todas as coufas raras, que nelles fe encontraó, afim antigas, como modernas. Tomo I. Na Regia Oficina SYLVIANA, e da Academia Real. LISBOA, M. DCC, XLVII.
2 LEAL, Augusto S. de A. B. de Pinho: Portugal Antigo e Moderno. Vol.V. Lisboa 1875