sábado, 15 de maio de 2021

 

Peixes da ribeira de Mortágua

 

Pela leitura de alguns livros antigos, temos a informação que o concelho de Mortágua terá sido rico em caça, o que hoje não acontece por variadas razões, desde as alterações do habitat, ao aumento descontrolado de caçadores e ao desaparecimento de espécies como o lobo que sendo predadores pouco eficientes controlavam a difusão de doenças entre a caça, apanhando essencialmente os elementos afetados.

Já em relação à pesca, os dados são mais escassos e as informações menos entusiasmadas. Mas alguma coisa nos vai aparecendo.

O Pe Luiz Cardoso, no seu Dicionário Geográfico, datado de 1747, diz-nos a propósito do lugar de Almaça:  

 

“ALMASSA, ou Almaça. ……    Fica este Lugar entre o Mondego, e outra ribeira, que vem de Mortágua, e nesta terra acaba no Mondego. É caudalosa, e corre de Norte a Sul. Serve de divertimento aos moradores pelas pescarias, que nela fazem, principalmente no Verão, na qual pescam bordalos, bogas, ruivacos, e barbos, que em todo o tempo é sua pescaria livre.1

 

Já Augusto de Pinho Leal, na sua obra Portugal Antigo e Moderno, publicado em 1875, dá-nos uma imagem um pouco mais rica:

  

“MORTÁGUA …..Os seus rios lhe fornecem bastante peixe (lampreias, sáveis, trutas, bogas e outros)…” 2

 

Durante a minha juventude fui um frequentador diário da ribeira de Mortágua, onde pesquei e nadei durante todos os dias das minhas férias escolares.

Quanto a lampreias, nunca vi nenhum exemplar adulto na nossa ribeira. No entanto apanhei à mão um pequeno ciclóstomo de cerca de 10 centímetros a cerca de 100 metros a montante do Poço do Vau, o que leva a pensar que algum exemplar adulto tenha vindo desovar à nossa ribeira.

Nunca vi, nem ouvi falar da presença de sáveis. A única notícia que me chegou foi que o Sr. Reis tinha pescado, fisgado pelo lombo, um sável de mais de 2 quilos, mas no rio Mondego.

Quanto a trutas, sabía da sua existência na ribeira de Mortágua, a montante de Pala. Também era relatada a sua captura na ribeira da Fraga.

As restantes espécies, bordalos, bogas, ruivacos, e barbos, eram comuns e relativamente abundantes, bem como as enguias.

A construção da Barragem do Couço, impediu definitivamente a subida de enguias, sáveis ou lampreias.

Os bordalos, e até mesmo os ruivacos, tem vindo a desaparecer.

A Associação de Caça e Pesca de Mortágua constituída a 12 de Fevereiro de 1987 é gestora duma zona de concessão de pesca desportiva que abrange grande extensão da ribeira. Esta concessão veio retirar aos não sócios o direito a pescar.  A associação procede ocasionalmente ao repovoamento com Trutas Fário provenientes dos viveiros da Direcção Regional de Agricultura de Trás os Montes, mas que rapidamente desaparecem.

Em 1919 tive a oportunidade de as ver e fotografar no cascalho imediatamente a jusante da ponte de Vale de Açores.



Desde então, nunca mais as consegui ver.

Em contrapartida, os barbos vão fazendo a sua aparição, na mesma zona, surgindo por vezes exemplares de grandes dimensões.




Os ruibacos são cada vez mais escassos, mas ainda os consegui fotografar .


As bogas continuam  a desovar na ribeira, como atestam estas crias que fotografei.


Quanto a bordalos, não vejo nenhum na ribeira de Mortágua, há pelo menos cinco anos.

 

1CARDOSO, P e Luiz.  DICCIONARIO GEOGRAFICO - NOTICIA HISTORICA DE TODAS AS CIDADES, VILLAS, LUGARES, e Aldeas, Rios, Ribeiras, e Serras dos Reynos de Portugal, e Algarve, com todas as coufas raras, que nelles fe encontraó, afim antigas, como modernas. Tomo I. Na Regia Oficina SYLVIANA, e da Academia Real. LISBOA, M. DCC, XLVII.

2 LEAL, Augusto S. de A. B. de Pinho: Portugal Antigo e Moderno. Vol.V. Lisboa 1875



sexta-feira, 14 de maio de 2021

 

Traslado do Foral de Mortágua

Foral dado por Gonçalo Anes de Sousa 21.08.1403

 

Já em comunicação anterior contestamos a teoria absurda defendida pelo Dr. Assis e Santos no livro “O pelourinho de Mortágua” 1, que o primeiro foral de Mortágua foi concedido por D. Sancho I, por influência de Vasco Martins, uma figura prestigiada da corte do monarca, e que terá sido o primeiro donatário de Mortágua. Não conhecemos nada que sustente a afirmação desse autor.

Relembremos o que escreveu o dr. Assis e Santos :

D. Vasco Martins

1192-1209

Na Corte de D. Sancho I vivia um personagem com o nome de D. Vasco Martins.

D. António Caetano de Sousa, desconhecendo essa informação só existente no nosso foral manuelino, diz num quadro genealógico da História da Casa Real que o 2ª donatário de Mortágua foi Martim Afonso de Sousa, considerando como primeira a doação da nossa vila, por ele conhecida, que D. Afonso IV fez à Infanta D. Maria sua neta.

Como esse autor enumera todos os donatários que tiveram a nossa vila desde 1354, conclui-se que a doação de Vasco Martins, foi anterior a 1354 e que Martim Afonso de Sousa já foi verdadeiramente o 3º donatário de Mortágua.

O primeiro donatário da nossa vila foi portanto D. Vasco Martins de Vila Nova, mordomo-mor de D. Sancho I em 1208.

No foral de 1182 não figura o nome de D. Vasco Martins. Mas são especificadas as condições da doação, quer para o reguengo, quer para os moradores da vila.”

 

Na verdade, existiu um Vasco Martins (Valascus Martini) na corte de D. Sancho I, mas nada existe que o ligue a Mortágua.  

Aparece em alguns documentos da época que constam do livro Chancelaria  de D. Afonso III 2,  nomeadamente:

         - No Foral de Rebordãos (Bragança), de 1208,  que confirma, na qualidade de maiordomus curie.

         - Na Carta de aforamento aos povoadores de Andrães ( Vila Real) de 1208, onde  Valascus Martini actorizat et confirmat, e

         - Na Doação do reguengo de Ifanes e Constantim ao abade do mosteiro de Moreruela, de 1211, onde Valascus Martini  confirma na qualidade de dapifer domini regis, sendo Gonçalvus Menendiz maiordomus curie.

Este último documento dá-nos conta que era vivo em 1211, embora o Dr. Assis o dê como falecido  em 1209.

O dr. Assis e Santos, homem de imaginação fogosa, mas de pouco rigor histórico, baseia a sua teoria numa frase isolada do foral manuelino que não nos dá nenhuma informação cronológica que lhe permita concluir o que afirma. Ainda assim, aproveita para considerar mal informado  D. António Caetano de Sousa. Assis e Santos  fundamenta-se numa passagem do Foral Manuelino de Mortágua de 08-01-1514, que se pode prestar a confusões:

 

Açerqua dos Foraaes dos nossos Regnos e ditos Reaaes e trebutos que sempre elles deviam daRecadar e pagar E assy pollas Inquiricooes que prinçipalmente mandamos fazer em todollos lugares de nossos Regnos e Senhorios justificadas primeiro com as pessoas que os ditos ditos Reaaes tynham achamos visto o foral dado per Vasco mtz de villa nova Senhor per carta del Rey dos ditos da dita terra aaquelle tempo per que os tributos foros e ditos Reaes se devem e am darrecadar e pagar na dita terra daqui em diante na maneira e forma seguinte.”

A verdade é que  a 1 de Abril de 1377, D. Fernando atribui a outro Vasco Martins (de Sousa, “Chichorro”) as rendas das terras de Mortágua, em prestamo, enquanto sua mercê fosse.

Esses privilégios viriam mais tarde a ser retirados pelo mesmo D. Fernando, mas D. João I viria a doar-lhe por juro de herdade as terras de Mortágua, por carta dada em Coimbra a 1 de Abril de 1385.4

Este Vasco Martins (de Sousa) é considerado por muitos autores como o 1º Senhor de Mortágua e teve grande influência na Corte de três reis (D. Pedro, D. Fernando e D.João I). Não existem quaisquer dúvidas quanto à sua ligação a Mortágua, ao contrário  do Vasco Martins referido pelo Dr. Assis e Santos que nada o liga a Mortágua, e muito menos a Vila Nova.

Falecido a 24.01.1387, sucedeu-lho o seu irmão Martim Afonso de Sousa, que esteve na batalha de Aljubarrota e na Tomada de Ceuta, em 1915. É conhecido com 2º Senhor de Mortágua.

Foi sucedido pelo seu filho Gonçalo Anes de Sousa que em 21 de Agosto de 1403 terá concedido um foral a Mortágua.5

Não conhecemos o original deste foral, mas no sítio da Direcção Geral dos Arquivos, encontramos no arquivo nacional da Torre do Tombo um Traslado do Foral de Mortágua. 

TRASLADO DO FORAL DE MORTÁGUA

CÓDIGO DE REFERÊNCIA:   PT/ TT/ FC/ 001/ 408

COTA ATUAL: Feitos da Coroa. Núcleo Antigo 408

COTA ANTIGA: Forais antigos, mç. 7, nº 4

DATAS DE PRODUÇÂO :  1403 ?  a  ?

ÂMBITO E CONTEÚDO: Translado datado de 1472, requerido pelos lavradores do reguengo de Mortágua ao juiz ordinário do julgado, para esclarecimento dos direitos que haviam de pagar a D. Mécia de Sousa, condessa de Odemira e senhora de Mortágua.



Como se percebe, não é o Foral original, mas a sua reprodução feita pelo juiz ordinário, a pedido dos agricultores, já na vigência de Dª Mécia de Sousa, filha e sucessora de Gonçalo Anes de Sousa.

O traslado terá sido realizado 69 anos depois do foral que o originou.

Não tentamos sequer aceder ao documento existente na Torre do Tombo, e pelo que conseguimos ver nas imagens digitalizadas, não conseguiríamos ler o seu conteúdo.

Entretanto chegou-nos à mão um documento transcrito por alguém que parece ter conseguido ler o original, e o terá reproduzido manualmente.

Publicamos o manuscrito, para que possam ter acesso. 



Tentamos transcrever para uma linguagem um pouco mais actual, procurando uma melhor compreensão. Em algumas passagens tivemos dificuldade em ler o que estava escrito e deixamos um espaço aberto.


Maço 7  de Forais Antigos, nº 4

Foral de Mortágua

1472

Valha-me Jesus Cristo = Saibam quantos virem este treslado de um foral que Gonçalo Anes de Sousa, cuja alma Deus haja, deu à sua terra de Mortágua para autoridade de justiça, como aos vinte e sete dias do mês de Maio do ano de mil quatrocentos e setenta e dois anos do nascimento de nosso senhor Jesus Cristo, no burgo de Mortágua terra e jurisdição da muito honrada Senhora Dona Mécia de Sousa, condessa de Odemira, no paço do concelho sendo aí João Esteves…….juiz ordinário no dito julgado fazendo sua audiência como é de seu costume, perante eles apareceu Afonso Martins de Vila Moínhos e disse e requereu ao dito em como era verdade que na área do concelho andava um foral que Gonçalo Anes de Sousa dera à sua terra de Mortágua e o foral era já tal que não se podia lembrar e porquanto o dito foral pertencia aos lavradores do Reguengo e a ele que era lavrador do reguengo da Senhora condessa, que ele requeria a ele dito juiz da parte del-Rei e da senhora condessa que mandasse a mim, tabelião, que eu o tresladasse em pública-forma sem um sinal de que este é um treslado do foral como adiante se segue =

Saibam quantos este instrumento virem, como eu Gonçalo Ãnes de Sousa cheguei a esta minha terra de Mortágua no ano da era de mil quatrocentos e quarenta anos, sendo juiz Vasco Martins de Vila Nova porque cobrei esta terra novamente por poder….. dom que dela me deu e fez por um privilégio para sempre que dela me fez meu Senhor o Rei Dom João  em……..(ssembraçõ) a Rainha Dona Filipa e com o seu filho lídimo herdeiro dom Duarte, e assinado por suas mãos e selado com o seu verdadeiro selo pendente e para eu saber e estar certo, e os que me seguirem como se há de medir e qual é o foro da dita terra, mandei vir perante mim o dito juiz e todos os moradores do meu reguengo e de todos os outros lugares e demandei-lhes e propuz-lhes que me mostrassem títulos ou forais, se os houvessem, e se não que eu faria do meu reguengo e dos outros lugares, títulos e eu as aforaria a quem eu quisesse, e eles responderam a isto e disseram que aí usavam por títulos a boa-fé, e eles e seus pais e suas mães e seus avós e bisavós e todos os de que eles descenderam desde a fundação do mundo: e em tempo d’elrei dom Dinis, d’elrei dom Afonso e d’elrei dom Pedro e d’elrei dom Fernando  e d’elrei dom João, que Deus mantenha, e em tempo de todos os outros Reis e Infantes que existiram antes, sempre estiveram na posse, e estão,  cada um dos seus casais e herdades que cada um herdou, e em que vivem, dando a todos os Senhorios que o foram antes de nós, a oitava parte de pão nas Eiras e recebido nas eiras por mãos dos seus mordomos, e oitava parte de pão e de milho e de linho; e do vinho passado a dornas de dez almudes, um ao senhorio, e seis alqueires de trigo pela velha (medida) na eira do foro, meio sujo e meio limpo, tirado o sujo de todo o monte na eira, ou  quatro alqueires pela nova, meio limpo e meio sujo e doze soldos da moeda antiga de cada casal, e dois soldos e meio de cada peão, da dita moeda e não mais – e todos tinham um só foral, e que por aquele foral se regia todo o reguengo e os outros lugares, cada um com os seus usos e costumes, e porque não podiam todos defender pessoalmente o seu direito fizeram seus procuradores João Martins, morador em Vila Gosendo, e Afonso Gouveia e Gil Lourenço, moradores em Vila Nova, e Pero Afonso, morador no Crasto, que todos e cada um por eles possam representar e defender a dita demanda e foro, e dizer todas as coisas que eles fariam e diriam nas coisas sobreditas, e em cada uma delas são obrigação de todos os seus bens segundo está estritamente contido na dita procuração, e os procuradores por si e por eles, vendo e considerando o desamor e as despesas más que se poderiam seguir, a eles vieram a tal amigável composição em maneira de transação com o dito Gonçalo Ãnes  de Sousa como seu senhor da dita terra, que eles todos e cada um deles hajam cada um os seus casais e herdades pela guisa que sempre houveram e herdaram os ditos casais e herdades e pela sobredita medição e foro como sempre até aqui houveram, para todo o sempre “per seccula seculorum”, eles e aqueles que deles descenderem e seus bens herdarem e cobrarem por qualquer guisa e condição que seja, e assim lho outorgo para sempre por mim e por aqueles que de mim descenderem aos quais eu mando, se meus filhos ou netos forem, ou herdeiros, que atendam e guardem todas sobreditas coisas contidas neste instrumento que lhes dou e mandei dar para sempre, e outorgo-lhes o foral que sempre houveram e que sempre usaram e uma carta que me mostraram de meu senhor Elrei dom João em que era contido que sejam mantidos em seus usos e costumes, como sempre foram,  e querendo-lhes ir contra as ditas coisas, em juízo ou fora dele, em parte ou no todo, não me seja outorgado e não valha, a mim nem aos que de mim depois vierem, e, posto que por mim possa alegar algumas leis ou degredos de usos ou costumes, ou ……… de idade, ou  de…….., ou outros quaisquer que sejam, em juízo ou fora dele, em contrário para isto desfazer não me valham nem me sejam outorgados, nem a mim nem a meus descendentes, e se forem meus filhos ou netos que isto queiram desfazer e ir contra isso por qualquer guisa ou condição que seja, hajam a minha maldição, eles e aqueles que deles descenderem, e sejam deitados no profundo do inferno com aqueles que perdidos estão,  e vós vos obrigais a ser-me obedientes e obrigados com toda a minha nação e foros e direitos segundo está contido no dito instrumento, e eu, sobredito Gonçalo Ãnes de Sousa, prometo manter e guardar todas as coisas sobreditas e cada uma delas pela guisa que foi dita, e se aqui faltou alguma clausula que não esteja aqui neste instrumento,  eu terei para a outorga-la para seja posta no dito instrumento pena de mil marcos de ouro, e paga ou não a pena todavia o dito instromento  e ………….. seja firme e estável para todo o sempre  e em testemunho disto vos mando fazer este instrumento que foi feito no burgo de Mortagua aos vinte e um dias do mez de Agosto, era de mil quatrocentos e quarenta e um anos.

Testemunhas que estavam presentes =  Estevão Martins prior de Mortagua e João Martins morador em Vila Gosendo e Pero Afonso ……e Afonso do Rego  e Afonso Bom e Alvaro steves morador em Botão …..  e homens do dº Gonçalo de Sousa ……..burgo e outros e Fernão d’Afonso tabelião ……  burgo e julgado de Mortagua que por mandato e outorgamento das sobreditas partes este instrumento escrevi e um sinal fiz que tal é testemunho deste treslado que eu tabelião tresladei,  Afonso Anes da……..  vereador e Vasco Pires vereador e Diogo Pires…., João Esteves do Carapinhal e Alvaro Afonso …..e muitos outros que aí estavam todos de Mortágua e eu Fernão Afonso tabelião publico em Mortagua e todos os seus termos pela muito honrada senhora dona Mécia de Sousa condessa de Odemira minha senhora que este treslado de foral  por ….. escrevi e nele fiz um sinal de que tal é.

Apesar das muitas falhas que não conseguimos ultrapassar, pensamos que ter dado um contributo para facilitar  a vida de quem quiser aprofundar o assunto e para tal tenha maior competência do que nós.

Concluindo, diremos que o que está referido no foral manuelino, que abaixo transcrevemos,

…achamos visto o foral dado per Vasco mtz de villa nova Senhor per carta del Rey dos ditos da dita terra aaquelle tempo per que os tributos foros e ditos Reaes se devem e am darrecadar e pagar na dita terra daqui em diante na maneira e forma seguinte.”,

parece dizer respeito a Vasco Martins (de Sousa “Chichorro”) e ao rei D. João I.

Uma outra possibilidade, embora pareça menos provável, poderia dizer respeito ao juiz Vasco Martins de Vila Nova, referido no foral de Gonçalo Anes de Sousa:   

“Saibam quantos este instrumento virem, como eu Gonçalo Ãnes de Sousa cheguei a esta minha terra de Mortágua no ano da era de mil quatrocentos e quarenta anos, sendo juiz Vasco Martins de Vila Nova porque cobrei esta terra novamente por poder….. dom que dela me deu e fez por um privilégio para sempre que dela me fez meu Senhor o Rei Dom João…”

A afirmação do Dr. Assis dos Santos, no seu Pelourinho  de Mortágua, pare-nos completamente absurda e não tem qualquer sustentação documental.

 

1SANTOS, José de Andrade Assis e : O Pelourinho de Mortágua – 2ª edição ; Gráfica de Combra, Coimbra 1969 . 

2VENTURA, Leontina; OLIVEIRA, António Resende de: Chancelaria de D. Afonso III, Livros II e III. Imprensa da Universidade de Coimbra. Coimbra 2011

3 SOUSA, António Caetano de : História Genealógica da Casa Real Portugueza, desde a sua origem até ao presente .Tomo XII. Parte II, Regia Officina Sylviana e Academia Real, Lisboa 1748

4 VASCONCELOS, António Maria Falcão Pestana de: Os Sousa Chichorro e as Ordens Militares: reflexões em torno desta linhagem in Estudos em Homenagem ao Professor Doutor José Amadeu  Coelho Dias-1º volume; Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto 2006

«Vasco Martins de Sousa, foi vassalo da casa de D. Afonso IV e criado do Infante D. Pedro, o qual aquando da subida ao trono, em Maio de 1357, o fez seu chanceler mor e rico-homem. Em 1360, surge-nos a dar o seu testemunho relativamente ao casamento de D. Pedro e D. Inês, testemunho que voltou a repetir anos mais tarde, nas cortes de Coimbra, celebradas entre Abril e Maio de 1385. A presença deste fidalgo junto da corte, fez-se sentir no reinado de D. Fernando, onde em vários diplomas aparece mencionado como vassalo régio, sendo-lhe atribuídas várias mercês, de entre elas, a doação feita a 13 de Fevereiro de 1372, por juro de herdade das terras de Penaguião e de Gestaçô, e mais tarde em 1 de Abril de 1377, em préstamo, enquanto sua mercê fosse, das rendas da terra de Mortágua. Esta última, virá a ser-lhe doada, por juro de herdade, já em tempo de D. João I, por carta dada em Coimbra, a 3 de Abril de 1385, altura em que, esteve presente nas cortes celebradas na dita cidade.»

5 FRANKLIN, Francisco N.: Memória para servir de índice dos Foraes das terras do Reino de Portugal e seus domínios,  2ª edição; Typografia da Academia Real das Sciências, Lisboa 1825: «Veja-se o seu Foral antigo dado por Gonçalo Annes de Souza em Mortagoa a 21 de Agosto de 1403 no Maço 7. de Foraes antigos N.4






terça-feira, 11 de maio de 2021

 

Os insondáveis desígnios da placas toponímicas de Mortágua

Durante muitos anos, vivi convencido que as placas toponímicas serviam para informar os moradores, e principalmente os visitantes das localidades.

Neste momento, e após vários anos de residência continuada em Mortágua, tenho sérias dúvidas de que assim seja, pelo menos no nosso concelho. Por vezes dou comigo a pensar que é o sentido de humor dos responsáveis municipais que determina o modo como são dadas as indicações ao público. E não é que os danados gostam de pregar umas partidas? Senão vejamos…

Durante muitos anos estive convencido que aquele santuário que existe ao cimo do cabeço era em homenagem do Senhor do Mundo   



Uma maliciosa placa no início da estrada que dá acesso ao cabeço também contribuiu para a minha convicção.

Mas informam-nos os responsáveis municipais, que estou enganado. O santuário que existe naquela zona, até já pode ter sido do Senhor do Mundo, mas foi herdado pela Senhora do Mundo, pelo menos há 10 anos. E assim pode testemunhar o presidente do município, que já pertencia ao executivo que efectuou a transação.

 


Mas não é caso único.

Estou crente que o posto de Turismo da Câmara de Mortágua é no Centro de Animação Cultural.



Pelo menos é o que dá a entender o dístico (embora decepado) que está junto a uma das portas do Centro.

Mas neste momento tenho sérias dúvidas. E mais do que eu, que provavelmente não precisarei de recorrer às informações do posto de turismo, grande surpresa aguarda os visitantes desta vila, se seguirem as placas informativas.



Os responsáveis do município certamente que se divertem com a situação, mas os visitantes não devem achar muito graça. O que deveria servir para informar, só contribui para desorientar quem nos procura. 



segunda-feira, 10 de maio de 2021

 

Corvo-marinho

Imigrante ilegal no concelho de Mortágua

 

Há algum tempo, aqui em Mortágua, observei uma ave em pleno voo que me pareceu um corvo-marinho. Fiquei com algumas dúvidas, uma vez que estamos a uma certa distância do mar e nunca antes os tinha visto nesta região. Essas dúvidas caíram por terra quando, há poucas semanas, fazia a minha caminhada de manutenção e ao chegar à ponte de Vale de Açores me deparei com uma destas aves, descontraidamente pousada num banco de cascalho imediatamente a jusante da ponte.

Levava comigo uma pequena máquina fotográfica e aproveitei para tirar uma fotografia. Por razões que ignoro o meu modelo não se sentiu ameaçado e permitiu-me captar múltiplas imagens, dos mais diversos ângulos, até decidir continuar a minha viagem.

Voltei á mesma zona repetidas vezes. Por vezes avistei a ave, mas nunca mais me deixou aproximar. Ainda assim consegui fotografá-la em voo e pousada nos salgueiros.

Mas passo ás apresentações.

O corvo-marinho tem o nome científico de Phalacrocorax carbo. Também  é conhecido por Cormorão.  

Existe em quase todos os continentes, excetuando a  América do sul e a Antártida, ocupando as áreas costeiras, mas estendendo-se por vezes a albufeiras, pauis e cursos de água.

Alimenta-se preferencialmente de peixes que captura mergulhando em águas de pequena ou média profundidade, e também de crustáceos e anfíbios. Consegue manter-se debaixo de água mais de 30 segundos.

Consome 400 a 600 gramas de alimentos, chegando a ingerir uma quantidade de peixe superior ao seu peso.

Alguns pescadores e piscicultores acusam o corvo-marinho de ameaçar o equilíbrio das espécies ribeirinhas e de destruição da produção das pisciculturas, o que pode ser verdade em zonas onde proliferem exageradamente estas aves.

Passemos então à reportagem fotográfica.

Esperemos que esta ave não venha contribuir para o declínio das espécies piscícolas residentes.