sábado, 15 de maio de 2021

 

Peixes da ribeira de Mortágua

 

Pela leitura de alguns livros antigos, temos a informação que o concelho de Mortágua terá sido rico em caça, o que hoje não acontece por variadas razões, desde as alterações do habitat, ao aumento descontrolado de caçadores e ao desaparecimento de espécies como o lobo que sendo predadores pouco eficientes controlavam a difusão de doenças entre a caça, apanhando essencialmente os elementos afetados.

Já em relação à pesca, os dados são mais escassos e as informações menos entusiasmadas. Mas alguma coisa nos vai aparecendo.

O Pe Luiz Cardoso, no seu Dicionário Geográfico, datado de 1747, diz-nos a propósito do lugar de Almaça:  

 

“ALMASSA, ou Almaça. ……    Fica este Lugar entre o Mondego, e outra ribeira, que vem de Mortágua, e nesta terra acaba no Mondego. É caudalosa, e corre de Norte a Sul. Serve de divertimento aos moradores pelas pescarias, que nela fazem, principalmente no Verão, na qual pescam bordalos, bogas, ruivacos, e barbos, que em todo o tempo é sua pescaria livre.1

 

Já Augusto de Pinho Leal, na sua obra Portugal Antigo e Moderno, publicado em 1875, dá-nos uma imagem um pouco mais rica:

  

“MORTÁGUA …..Os seus rios lhe fornecem bastante peixe (lampreias, sáveis, trutas, bogas e outros)…” 2

 

Durante a minha juventude fui um frequentador diário da ribeira de Mortágua, onde pesquei e nadei durante todos os dias das minhas férias escolares.

Quanto a lampreias, nunca vi nenhum exemplar adulto na nossa ribeira. No entanto apanhei à mão um pequeno ciclóstomo de cerca de 10 centímetros a cerca de 100 metros a montante do Poço do Vau, o que leva a pensar que algum exemplar adulto tenha vindo desovar à nossa ribeira.

Nunca vi, nem ouvi falar da presença de sáveis. A única notícia que me chegou foi que o Sr. Reis tinha pescado, fisgado pelo lombo, um sável de mais de 2 quilos, mas no rio Mondego.

Quanto a trutas, sabía da sua existência na ribeira de Mortágua, a montante de Pala. Também era relatada a sua captura na ribeira da Fraga.

As restantes espécies, bordalos, bogas, ruivacos, e barbos, eram comuns e relativamente abundantes, bem como as enguias.

A construção da Barragem do Couço, impediu definitivamente a subida de enguias, sáveis ou lampreias.

Os bordalos, e até mesmo os ruivacos, tem vindo a desaparecer.

A Associação de Caça e Pesca de Mortágua constituída a 12 de Fevereiro de 1987 é gestora duma zona de concessão de pesca desportiva que abrange grande extensão da ribeira. Esta concessão veio retirar aos não sócios o direito a pescar.  A associação procede ocasionalmente ao repovoamento com Trutas Fário provenientes dos viveiros da Direcção Regional de Agricultura de Trás os Montes, mas que rapidamente desaparecem.

Em 1919 tive a oportunidade de as ver e fotografar no cascalho imediatamente a jusante da ponte de Vale de Açores.



Desde então, nunca mais as consegui ver.

Em contrapartida, os barbos vão fazendo a sua aparição, na mesma zona, surgindo por vezes exemplares de grandes dimensões.




Os ruibacos são cada vez mais escassos, mas ainda os consegui fotografar .


As bogas continuam  a desovar na ribeira, como atestam estas crias que fotografei.


Quanto a bordalos, não vejo nenhum na ribeira de Mortágua, há pelo menos cinco anos.

 

1CARDOSO, P e Luiz.  DICCIONARIO GEOGRAFICO - NOTICIA HISTORICA DE TODAS AS CIDADES, VILLAS, LUGARES, e Aldeas, Rios, Ribeiras, e Serras dos Reynos de Portugal, e Algarve, com todas as coufas raras, que nelles fe encontraó, afim antigas, como modernas. Tomo I. Na Regia Oficina SYLVIANA, e da Academia Real. LISBOA, M. DCC, XLVII.

2 LEAL, Augusto S. de A. B. de Pinho: Portugal Antigo e Moderno. Vol.V. Lisboa 1875



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