sábado, 3 de julho de 2021

 

Fernão Vasques,

nome simbólico de Basílio Lopes Pereira


Em vários documentos, como podemos ver no excerto  de “Uma história da maçonaria em Portugal”, da autoria de António Ventura, abaixo inserido, ficamos a saber que Fernão Vasques  foi o nome simbólico adoptado por Basílio Lopes Pereira dentro da Maçonaria.


 

Embora o nome  nos fosse familiar, já não conseguíamos localizar a figura no tempo, nem imaginar que simbolismo poderia ter.

Fomos pois procurar saber quem foi Fernão Vasques, e ficamos a saber que foi um:

Alfaiate que viveu no século 14, e se tornou célebre por ser chefe do povo de Lisboa, quando os populares, indignados com o casamento do rei D. Fernando com D. Leonor Teles, se dirigiram aos paços de S. Martinho, onde residia D. Fernando e a adúltera. Fernão Vasques não hesitou em tomar a palavra, e em dizer ao monarca que o povo de Lisboa não consentiria. que ele casasse com D. Leonor Teles, que era má mulher e feiticeira. D. Fernando, aterrado com a revolta, respondeu jurando que D. Leonor Teles não era sua mulher, nem o seria nunca, e prometeu ir no dia seguinte a S. Domingos para se explicar com o povo. No dia seguinte, D. Fernando, em vez de ir a S. Domingos, fugiu para o Porto com D. Leonor Teles, que nessa cidade desposou, e entretanto Fernão Vasques em S. Domingos fazia ouvir aos fidalgos do rei D. Fernando palavras ásperas e severas, que produziram grande tumulto. Não duraram muito tempo as glórias de Fernão Vasques. D. Leonor voltou a Lisboa, profundamente indignada. Fernão Vasques foi enforcado nesse mesmo ano de 1371, em que ousara erguer a sua voz altiva diante dos reis em defesa dos foros populares.”

In Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico,

 

Na “História de Portugal, popular e ilustrada”, de Manuel Pinheiro Chagasencontramos uma ilustração de Alfredo Roque Gameiro  mostrando Fernão Vasques a falar ao povo de Lisboa.


Ilustração de Alfredo Roque Gameiro (1864-1935)

Também Alexandre Herculano, em Arras Por Foro de Espanha, nos relata o episódio histórico:

“…vós, mestre Fernão Vasques: —­respondeu um velho, cuja calva polida reverberava os raios d’uma das lampadas pendentes do tecto, e que parecia ser homem de conta entre os populares.—­Quem ha ahi entre a arraya-miuda mais discreto e aposto para taes autos que vós? Quem com mais urgentes razões proporia nosso aggravo e a deshonra e vilta d’elrei, do que vós o fizestes hoje na mostra que démos ao paço esta tarde?”

“Alcacer, alcacer! por nosso capitão Fernão Vasques:—­bradou unisona a chusma.

“Fico-vos obrigado, mestre Bartholomeu Chambão!—­replicou Fernão Vasques, socegado o tumulto.—­Pelo razoado de hoje terei em paga a forca, se a adultera chega a ser rainha: pelo do ámanhan terei as mãos decepadas em vida, se elrei com suas palavras mansas e enganosas souber apaziguar o povo. E tendes vós por averiguado, mestre Bartholomeu, que o carrasco sabe apertar melhor o nó da corda na garganta, que eu o ponto em peitilho de saio, ou em costura de redondel ou pelote, e que o cutelo do algoz entra mais rijo no gasnate de um christão que a vossa enchó n’uma aduela de pipa?”

“Nanja emquanto na minha aljava houver almazem, e a garrucha da bésta, me não estourar:—­ …”

 

Basílio Lopes Pereira teve uma vida atribulada, sem que tivesse o mesmo destino de Fernão Vasques.

Por motivos que desconhecemos, viria a incluir no nome do seu filho o nome de Fernão, mas da Irmânia. Não parece ter nada a ver com o seu nome maçónico, uma vez que só foi iniciado na Loja “ A Revolta “ de Coimbra, em 13/07/1923 ( informação da Revista “Grémio Lusitano”, nº18, 1º semestre de 2012),  e  Cesár Máximo Fernão da Irmânia nasceu a 25/10/2022, ou seja, nove meses antes, mas não deixa de ser uma curiosa coincidência.




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