quarta-feira, 4 de agosto de 2021

 

Basílio Lopes Pereira – 2ª parte

 

Em cumprimento de uma promessa que fizemos quando escrevemos algumas notas biográficas sobre esta importante e mal conhecida personalidade de Mortágua, vamos continuar a nossa tarefa, tentando perceber as várias fases da sua vida.

Interrompemos a nossa história, com a participação de Basílio no Batalhão Académico no início de 1919.  Hoje vamos prosseguir até 1927, ano que pensamos ser um ponto de transição na sus vida aventurosa.

Podemos definir a fase que agora descrevemos como da invenção da Irmânia, e da militância pela difusão das Escolas Livres e da  Maçonaria.  

Terminado o curso de Direito encontramos Basílio Lopes Pereira como administrador do Concelho de Mortágua em Julho de 1919. O jornal Sul da Beira nº18, de 7/8/1919 refere que Albano Abreu terá sido preso na sequência de insultos proferidos no Teatro, contra Basílio Lopes Pereira, o administrador do concelho em exercício.

Pouco tempo depois começa a sua “construção da Irmânia”. Ângelo Jorge, escritor e jornalista anarquista, naturalista e vegetariano e dado a escritos esotéricos, publicou em 1912 um romance utópico intitulado Irmânia, possivelmente o primeiro exemplo deste género literário em Portugal. Sabemos que esta novela foi dedicada à filha de Ângelo Jorge, a quem este tinha dado o nome de Armanda Júlia, em homenagem à mãe do autor (Júlia) e à sua irmã Armanda, falecida ainda criança.

No livro de poemas “Espírito Sereno”, o autor dá-nos a pista para a escolha do título, no poema I

Armanda – era a minha irmãn, finada

No alvorecer da Vida

Julia era assim chamada

A minha Mãe querida

Assim, da Vida no inconsciente pó

Eu quis – ideia van

– A Mãe, a Filha, a Irmãn,

Ter todas numa só

A etimologia do título, orienta-nos para o significado de irmandade de todos os indivíduos, subjacente ao ideal cristão.

O autor refere-se à sua obra afirmando: “O que escrevo é o produto integro e rigoroso do que sinto e penso. Nesta obrasinha, tanto ou mais do que nas precedentes. Irmânia é a synthese exacta e completa do que sou moral e mentalmente, e, de certo modo, até, physicamente, na ephoca em que a escrevo.”

A impressão que esta novela provocou em Basílio Lopes Pereira foi certamente muito intensa, a ponto de mudar a designação que usava para a sua aldeia (a Lysia que aparecia no jornal Sol Nascente foi substituída pela Irmânia), e a incluir no nome do seu filho a palavra Irmânia entre o inúmeros apelidos com que o brinda (César Máximo Fernão da Irmânia ….etc.).

A acção do livro centra-se num personagem, Manfredo, que naufraga e acorda numa ilha desconhecida onde vive um “povo livre e feliz” que o acolhe – a Irmânia. Logo descobre que na ilha se concretizam os seus conceitos filosóficos e sociais da vida.

Manfredo entende imediatamente o modo de vida dos habitantes da ilha, mas é ele próprio motivo de admiração para aqueles que, na sua qualidade de narrador, qualifica de «primitivos»; daí que, mais do que ouvir e aprender, ele fale e dê ensinamentos, criticando a sua própria sociedade.

Manfredo assume uma posição paternalista relativamente aos habitantes da ilha como se percebe nas expressões, “na vossa alma ingénua de Primitivos não penetrou ainda a peçonha virulenta do mal e da iniquidade”, ou  quando se refere aos  “imperfeitos e rudimentares trabalhos de costura” da sua amada Violeta , que sobre si própria diz que  “felizmente que não passo duma pobre rapariga criada em liberdade por esses bosques e montanhas, ignorante e inculta”.

E paternalmente afirma aos seus anfitrões  que, “sem o entenderdes, vós viveis em Irmânia a verdadeira vida”.

É com base neste romance que Basílio Lopes Pereira constrói a ideia do que pretende para a sua terra natal, que passa a designar por Irmânia.

Em 25 de Dezembro de 1921, casou com Hélia Ângela de Melo Soares de Albergaria e Távora de Figueiredo Lobo Silva, residente em Cabanas de Viriato.

Na certidão de casamento surge a primeira referência a Irmânia:

 Júlio Baptista dos Reis, funcionário do Registo Civil regista que o casamento se efectua  na casa de residência do pai do noivo, “que fica no sítio denominado Vila da Irmânia, no logar e freguesia da Marmeleira “.

O assento de baptismo de Hélia Ângela, também foi acrescentado pelo notário do mesmo modo. O casamento foi efectuado  na casa do pai do noivo, no lugar de Vila da Irmânia, da dita freguesia da Marmeleira

Dessa união nasceu, “na casa de seus avós paternos em Vila da Irmânia do lugar e freguesia deste concelho de Mortágua”, o primeiro e único filho de Basílio Lopes Pereira, no dia 25/10/1922, segundo a descrição do ajudante do Posto do Registo Civil da Marmeleira, Júlio Baptista dos Reis,” lida e conferida “ pelo oficial do Registo Civil de concelho de Mortágua, José Ferreira Sacras. Começava assim uma campanha em prol da Irmânia, que se iria manter durante vários anos.

Para grande espanto de muita gente, o menino foi registado com o nome de “D. César Maximo Fernão da Irmânia de Melo Soares de Albergaria de Figueiredo Lobo e Sylva e Tavora Pacheco de Moscoso de Araujo Lopes Pereira “, acrescido de um título “(vigésimo Conde Barão de Sevêr de Juro e Herdade)”

Tratando-se de um reconhecido republicano, não tardou a que  isso fosse motivo de chacota, que, convenhamos, se justificava plenamente.

Rocha Martins, um conceituado e temido jornalista, escreveu no jornal “FANTOCHES” um artigo arrasador que transcrevemos.

« D. Cesar ou as ambições de um demagogo

Dos nomes e as suas significações – Adão o pai dos outros – Os apelidos à vontade de cada qual – A revolta monárquico-democrata – Ou Cesar ou Lopes

Existe em Oliveira de Azemeis, que eu já representei no Parlamento, um notario ,democratico de grandes vistas. ·Medra na alma deste tabelião demagogico uma ambição desenfreada e acreditando tanto no futuro da república, como eu nas almas do outro mundo, vai preparando largamente para a velhice um escudo magnifico.

Chama-se Basílio, como o Enxertado de Camilo, Lopes como o celebre fabricante de chocolates espanhoes, Pereira, como o brasileiro do Eusebio Macario e é bacharel a diferençar-se do senhor Antonio Maria da Silva de quem se diz correligionario mas a quem abre sinais fundos em larga oposição.

Não sei nem procuro saber dos antecedentes heraldicos do notario, mas julgo que não tem quaisquer dignos de nota nas regiões de Cabanas, nem tampouco nas da Marmeleira, onde residem os maiores de seus avoengos e os de sua esposa. Tambem numa alma puramente demagogica, formada de reconcavos de barretos frigios, esta cousa de antepassados ecôa mal e o melhor é não se querer saber donde se brotou. Havia um que evocava o pai, batendo no peito formidaveis punhadas e bradando da sua cadeira de ministro : - Sou filho de um taberneiro! -Bem se vê; não o pode negar v. ex.a ... respondia-lhe um lisongeiro.

Chama-se a isto orgulho .dos pergaminhos de quem explorou o povo deitando agua no vinho ou campeche em sangue de boi e que deve desagradar mais aos envenenados do que os títulos heraldicos dos que matavam muitas fomes com os caldos das portarias .

Berrar-se a paternidade de um homem de baixo mister, com orgulho, é tanto de vaidade como arvorar a ascendencia de um marquez. Depende das epocas. Os nomes são muitas vezes especies de passaportes.

Nas democracias é melhor uma pessoa chamar-se simplesmente cidadão José que D. José Cidadão e até julgo que o senhor marquez de Vale-Flôr - cujo nome de José Constantino era uma gloria colonial - vai repudiar o titulo para não lhe tocarem nas propriedades de S. Tomé onde, segundo se bichana, ha postes encravados em terrenos do estado e uma exploração do negro medelarmente instalada.

Mas o marquez é mülti-milionario e não se importa com o futuro, vive muito fóra das combinações politicas e não sabe o que se passa. Já não acontece o mesmo com o tabelião de Oliveira de Azemeis. Esse é democratico, profunda o sentimento das hostes e aguarda o momento em que tudo isto desabe . Ataca o senhor Antonio  Maria da Silva  para marcar o seu logar e assim como o senhor Afonso Costa, retirado em Paris, conta com o titulo de conde de Ceia - esplendida mercê para quem tem passado a vida a cear à custa do país - assim o notario aguarda compensações na nora que êle - e deve ter as suas razões fortes - julga ir soar : a da proclamação da monarquia :  A sua hora de triunfoo, a minha

hora de exilio porque se as cousas levarem o caminho que este democratico traça com seus actos, teremos os seus correligionarios no poder dando vivas ao rei e todos veisondalhados a falarem dos avós.

Como poderemos nós entrar na côrte? Não que não sabemos como se chamava o nosso avô. Alguns julgam que o seu antepassado mais antigo era Adão, simplesmente Adão, quatro letras insonsas que marcam o nome de um homem enganado pela mulher! Nós, não. Preferimos o macaco que foi  polígamo desde que fez a primeira careta aos soes do mundo inicial.

Perguntar-me-ão porque entrevejo essa monarquia onde os demagogos de hoje exerçam o papel que os realistas apagados de hontem tomaram dentro da república: o de donos? É simples. Como não posso imaginar o senhor bacharel Basílio Pereira traidor ao seu partido, e como sei que nas hostes democraticas se olha muito para o dia de amanhã, é numa realeza triunfante que êle pensa e na qual se fale muito, como o senhor Artur Costa evoca os tremendos e perigosos tempos da propaganda republicana quando era regenerador em Figueira de Castelo Rodrigo.

Mas porque pensa o senhor notario Lopes Pereira em semelhante

regimen? Porquê vai segurando para êle a sua geração.

É o que se chama pôr apelidos a juros, pois outra cousa não significa a série de nomes heraldicos que o prócere demogagico despejou no registo civil sobre a cabeça de um seu filhinho, decerto um encantador· e robusto bébé, ao qual desejavamos uma mocidade mais leve que os apelidos com que o ajoujaram.

Registou-se o fruto da arvore da liberdade desta resonante maneira: D. Cesar Maximo Fernão da Hirmania de Melo Soares de Albergaria de Figueiredo Lobo e Silva e Souza Pacheco de Moscoso e Araujo Lopes Pereira (Sevêr).

Claro que, afóra os apelidos plebeus, o resto é uma camouflage em que se envolve o inocentinho mas por isso mesmo se deve acreditar num proximo movimento realista - talvez o de 20 de junho anunciado no congresso democratico - e no qual só entrarão correligionarios do senhor conde de Ceia (Afonso Costa).

Triunfante essa especie de monarquia, o notario de Azemeis terá em seu filho o seu melhor argumento. Jámais fôra democratico. Acaso o podia ser um pai que registava o pequeno acrescentando-lhe um Dom a tão sonoros apelidos? Ele mesmo - e então revelaria o seu segredo, aquele enorme e misterioso segredo que o corroeu tanto tempo - sim, êle proprio, Lopes Pereira, tabelião e demagogo nunca se chamara assim.

O seu nome era tambem D. Cesar Maximo Fernão da Hirmania de Melo Soares de Albergaria de Figueiredo Lobo e Silva de Souza Pacheco de Moscoso e Araujo (Sevêr) e Senior … Sim senhor, e Senior, ou, se quizerem, D. Senior !

No caso do movimento criar raíses e triunfar nada mais terá a alegar em sua defeza; se falhar, se não contar com o apoio do grande homem de Ceia, então, o notario, emproando-se poderá gritar: Eu sou ,o Lopes Pereira ! Não tenho culpa que a reacção tivesse penetrado no meu lar pelo buraco da fechadura . Esse D. Cesar Maximo não passa de' um talassa. E é meu filho, e é do meu sangue ! A maldita seita negra perdeu-o. Aquilo não é nome; é uma facha em que o enrolaram e que no registo civil imaginaram pertencer-lhe Mas não, creiam que não Foi uma troca de cueiros

Então o é falido D. Cesar Maximo Senior erguer-se-á numa colera profunda e gritará apontando o encarregado dos registos.

- O culpado êle !...Que maquinaria esse homem? Nega-se o nome

de Lenine, a um inocente, como sucedeu em Lisboa, porque é revolucionario e estão sempre prontos para esta heraldica hedionda !

E, convicto, como sempre, o notario, soltará o seu grande brado:

Abaixo a reação! Depois, voltando-se para o filho chamar-lhe-á só Lopes.

O diabo é se isto leva muito tempo e o D. Cesar, depois, não dá pelo nome. »

 

Não conseguimos descobrir qualquer reacção de Basílio Lopes Pereira a estes comentários.

Tanto quanto sabemos, o filho licenciou-se em Engenharia e em Direito, e durante a sua vida identificou-se sempre como César Máximo, sem fazer uso dos apelidos que lhe colaram à nascença.

 

Basílio, Mortágua, Oliveira de Azeméis  e Escolas Livres 

Fixou-se em Oliveira de Azeméis em data que não conseguimos precisar, mas seguramente que em 22 de Fevereiro de 1922 já era o Notário do 2º Cartório Notarial.

Em 5/10/1922, saiu o primeiro número do jornal “Correio de Azeméis”, que Basílio fundou com Bento Landureza e de que foi Director desde o início.

Em 13/07/1923 fez a sua iniciação maçónica na Loja “A Revolta”, em Coimbra, com o nome simbólico de Fernão Vasques .

 A 1/12/1923, é criada a Escola Livre de Azeméis, por iniciativa e influência de Basílio Lopes Pereira. Definia assim a sua actividade e fins:  "A Escola Livre de Azeméis é uma associação de instrução e de educação popular, moral, intelectual e física, principalmente de moços e de ensino mútuo, que se fundou no dia 1º de Dezembro de 1923 na vila de Oliveira de Azeméis".

"O Clube tem como fins principais promover entre os seus filiados a prática da Educação Física, Artística, Intelectual... Sendo-lhe interdita todas e quaisquer manifestações de carácter político e religioso".

 O símbolo, desenhado pelo artista António Carneiro, representa Vesta, a deusa da sabedoria.

Ainda no ano de 1923 criou a Escola Livre da Irmânia.

Examinando o papel de ofício da Escola Livre da Irmânia, encontramos informações propositadamente enganadoras: “iniciada em 6 de Janeiro de 1908”. Essa data diz respeito à primeira tentativa de fundar uma biblioteca popular, aliás sem sucesso.

Encontramos também um espaço já preenchido destinado á data do ofício, que só admite anos posteriores a 1920. A referência à Escola Livre de Azeméis como secretaria da Confederação das Escolas Livres das Beiras, que consta da informação marginal do papel de ofício, deixa-nos fundadas dúvidas que a data da fundação da Escola Livre da Irmânia possa ser posterior a 1923.

O Jornal “ Defesa da Beira” de 15 de Janeiro de 1961 publicou um artigo assinado por Aquiles, pessoa afecta à Escola Livre da  Irmânia, que refere a data da sua fundação. Mas se não lhe restam dúvidas sobre o dia 6 de Janeiro, não tem a mesma certeza sobre o ano, e escreve “ há umas quatro dezenas de anos”.

Continuando a viver em Oliveira de Azeméis, em 11/04/1925 fundou o Triângulo Maçónico de Oliveira de Azeméis, posteriormente transformado em Loja 27 de Agosto nº437

Nesta época teve intensa actividade na difusão e desenvolvimento  das Escolas Livres

Em 11/06/1925  organizou um passeio de estudo a Viseu abundantemente comentado nos jornais:

Primeiro de Janeiro

« Vizeu, a velha cidade portugueza, de tão nobres tradições históricas e que tantas maravilhas encerra, vestiu-se das suas melhores galas par receber os povos da beira marítima, que num entusiasmo cheio de fé e de patriotismo ali foram confraternizar com os beirões da montanha. A grandiosa excursão que na passada quinta feira se realisou, foi a mais importante de quantas em Portugal se têm organizado, tendo ido a Vizeu cerca de 2000 pessoas. Foi um verdadeiro êxito para a Escola Livre de Oliveira de Azemeis que a promoveu e para o seu presidente, a alma da Escola Livre, sr. dr. Bazílio Lopes Pereira ».

 

Sul da Beira 25.06.1925

«Na verdade, o dr. Bazílio Lopes Pereira, nosso presado conterrâneo, pode orgulhar-se por ter conseguido, o que nunca conseguiu na sua terra. – É que ninguém é profeta na sua terra-

A Escola Livre que fundou em Mortágua, com todas as características da Escola Livre de Azemeis, nunca conseguiu o seu fim, mercê talvez das más vontades que á sua roda se formaram.

Azemeis, ao contrario, compreendeu melhor o alto significado a que visam as Escolas e aprova desta asserção está no interesse desusado que tomou a excursão de estudo a Vizeu, na qual tomaram parte cerca de 2000 pessoas, tendo para isso sido organizados dois extensos comboios especiaes.

Felicitamos o dr. Bazilio pelo excelente êxito desse passeio e pelos progressos que tem alcançado a sua Escola Livre á qual preside com tanto amôr, com tão acendrado carinho e com tanto entusiasmo.»

 

Sul da Beira 5.07.1925 (continuação da notícia anterior)

« Em seguida o sr. dr. Monteiro Junior, vereador da Camara, faz um belo discurso, saudando os excursionistas em nome da Camara e do Povo de Vizeu e diz que a velha cidade portugueza não podia receber de outra forma os seus visitantes, porque se outro motivo de regozijo não houvesse, bastava o tratar-se dos seus irmãos das bandas do mar que vieram até á montanha confraternizar e respirar o seu belo ar.

Termina saudando as três Escolas Livres  ali representadas – a de Azemeis, Mortagua e Irmania.

Segue se-lhe no uso da palavra o ilustre presidente da Escola Livre de Azemeis sr. dr. Bazílio Lopes Pereira, que profundamente comovido, agradece em breves palavras aos representantes da cidade de Vizeu os seus cumprimentos e a maneira galharda como foram recebidos, e diz que aquele passeio a Vizeu é uma afirmação do amor á terra.

Ao terminar o seu discurso ouve-se uma prolongada salva de palmas e vivas ao povo de Vizeu,etc.

Depois falaram os srs. Augusto Lobo, presidente da Escola Livre de Mortagua; Dr. Ferreira Gomes, professor do Liceu de Vizeu; e Rui Fernandes Martins, pelos excursionistas de Santa Comba Dão (Estação).

Por ultimo falou o presidente da camara de Oliveira de Azemeis, sr. dr. Albino Reis, que em nome daquela Camara agradeceu a calorosa recepção que foi feita ao povo da sua terra e ao terminar disse que aproveitava aquele momento para em nome da Camara que representa saudar a Escola livre de Azemeis pela organisação daquela excursão, afirmando que ela poderia contar sempre com o auxilio da Camara de Azemeis.»

 

« Diz o «Primeiro de Janeiro» que a merenda na Mata do Fontelo foi, sem duvida, um dos interessantes números do programa, por ali confraternizarem beirões de Azemeis, Mortagua, Tábua, Santa Comba, Carregal do Sal, Tondela , Irmania e Vizeu.

Como cumprimos á risca o programa imposto pelos excursionistas e porque sobre nós pesava a responsabilidade de darmos aos leitores do «Sul» um retrato mais ou menos circunstanciado do decorrer das festas, chegamos a Fontelo quando tudo dispersava. Não nos recorda, porém, ter visto que alguns dos povos citados ali fossem confraternizar. Os motivos dessa falta de comparência ignoramol-a nós.»

 

« NOTA – Os bombeiros que constituíram o piquete que foi representar a Vizeu a associação dos bombeiros desta vila, foram a expensas do vice-presidente da direcção, sr. dr. Serafim Lopes Pereira

 

 

1926.04.20 - Gazeta de Coimbra:

Universidade Livre…..

Brevemente terão logar também, além das conferências já anunciadas, uma sobre Um livro de Albino Forjaz de Sampaio, pelo tenente sr. Nuno Beja, e outra sobre A Obra e Organisação  das Escolas Livres, pelo sr. dr. Basilio L. Pereira, presidente da Escola Livre de Azemeis.”

 

1926.05.13 - Gazeta de Coimbra

Conferencia da Universidade Livre

Teve efectivamente lugar ontem a palestra explicativa sobre as Escolas Livres expoz detalhadamente o espírito do movimento, os trabalhos realisados e seu modo de funcionamento.

Ocupou-se depois da excursão a esta cidade, promovida pela Escola Livre de Azemeis, que terá lugar em 11 de Junho próximo, apelando para os ouvintes par que , por essa ocasião, secundasse os esforços das Escolas Livres para que a excursão resultasse profícua para todos e estabelecerem o tipo e o precedente da verdadeira confraternização das diferentes terras do paiz.

Na próxima semana, falará o sr. dr. Abel Urbano, continuando o assunto dos Melhoramentos de Coimbra.”

 

Basílio Lopes Pereira era filiado no Partido Democrático que governava quando se deu o golpe militar que implantou a ditadura. Pouco tempo depois do 28 de Maio, sectores civis e militares tentaram criar um bloco anti-ditatorial que se revertesse a situação. Foram efectuadas múltiplas tentativas fracassadas, mas a  3 de Fevereiro de 1927 surgiu um movimento revolucionário no Porto, que teve maior relevância, mas que as forças da ditadura acabaram por dominar com alguma facilidade por não ter havido adesão atempada de outras forças militares.  Basílio Lopes Pereira deslocou-se para o Porto nessa altura  pelo que foi alvo de uma sindicância, mas nada se provou quanto a qualquer implicação sua no movimento.


A GAZETA DE COIMBRA  de 10 de Março 1927 – publica uma nota do seu correspondente sobre a Escola Livre de Eiras.

“ A E.L. recebeu há dias a visita do nosso querido e velho amigo dr. Bazilio Lopes Pereira, habilíssimo advogado em Oliveira de Azeméis e apaixonado propagandista das E.L. que se nos confessou admirado com o tão grande impulso tomado pela nossa E.L. em tão pouco tempo.

Este nosso amigo, que é mui digno presidente da E.L. de Oliveira de Azeméis, cumprimentou à noite na sede da nossa E.L. os seus associados, cumprimentos que podemos classificar de uma conferência subordinada ao tema, Os benefícios das E. L.

O dr. Bazilio não é como qualquer desses adventícios que por aqui tem aparecido a falar da E.L. a torcerem o bico ao prego e como que a quererem empenar a marcha do seu desenvolvimento. O dr. Bazilio fala com conhecimento de causa e com a autoridade que lhe dão os seus muitos anos de dedicação ás E.L.

Foi ele o fundador da de Ermânea, da de Mortágua e da de Azemeis. Agora anda empenhado na criação da Confederação das E.L. e oxalá a realização de tal ideia se não faça esperar, pois que com a Confederação, muito tem a lucrar as E. L. do país. “

Em 12 de Maio de 1927 , a GAZETA DE COIMBRA publica uma carta do Dr. Basílio

"CARTA

 Sr. Director da Gazeta de  Coimbra.

— Soube que no jornal, que V. dirige muito distintamente, a propósito   do grande passeio de estudo anual das Escolas Livres da província das Beiras, projectado este ano, para o próximo dia 16 de Junho a essa linda cidade, se reprovava a ideia de realizar a grande merenda de confraternização beirã no parque de Santa Cruz, parece que no receio de que os viajores das Escolas Livres danificassem esse delicioso retiro da rainha do Mondego.

Não consegui, apesar de todos os esforços, essa local para a ler. É pois, sob uma informação que pode ter qualquer inexactidão que tomo a liberdade de me dirigir a V. de que peço me perdoe.

Mas, seja como fôr, ficaria muito grato a V. se informasse o publico dessa cidade de que não deve ter quaisquer receios da gente das Escolas Livres, que, muita dela, poderá ser simples, mas que é dominada por um grande pensamento de beleza, de amor e apego á terra, motivo porque saberá respeitar absolutamente tudo quanto constitue motivo de orgulho para todos os conimbricenses.

Bastaria, para comprovar o que acabo de dizer, citar o passeio de estudo realizado a Viseu, ha dois anos, em dois comboios especiais de Oliveira de Azemeis com mil e duzentos passageiros e um terceiro de Santa Comba-Dão em que seguiram as Escolas Livres da Irmania e de Mortagua.

Foi uma jornada magnifica, magestosissima, em que não houve um desgosto, qualquer nota discordante.

Todo o povo de Viseu, a Camara Municipal, o Quartel General, todo o corpo docente e descente do Liceu, Governo Civil, Junta Geral, no Museu Grão Vasco, onde foi feita uma notável conferencia de iniciação artística e sobre a história da Sé pelo distintíssimo 10 de arqueologo capitão sr. Almeida Moreira, corporações de bombeiros, associações, desportivas, professores primários e seu ilustre inspector, enfim todas as entidades pois não faltou uma a demonstrar o mais fidalgo acolhimento, podem confirmar isso mesmo.

A alta finalidade das Escolas Livres, asseguradoras e continuadoras da escola primária, a universidade dos pobres, um reduto contra o vicio, é, de resto, segura e eloquente garantia.

Agradecendo a V. a publicação desta carta. — Oliveira de Azemeis, 9 de Maio de 1927, Basilio Lopes Pereira."

 

A deslocação a Coimbra acabou por não se realizar.

Penso que podemos situar nesta época o início de uma nova fase da vida de Basílio Lopes Pereira, em que corre grandes riscos  para a sua liberdade e até para a sua integridade física..

 

Brevemente continuaremos o relato do que se passou a seguir.

 

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