Basílio Lopes Pereira – 2ª parte
Em cumprimento de uma promessa que fizemos quando
escrevemos algumas notas biográficas sobre esta importante e mal conhecida
personalidade de Mortágua, vamos continuar a nossa tarefa, tentando perceber as
várias fases da sua vida.
Interrompemos a nossa história, com a participação de
Basílio no Batalhão Académico no início de 1919. Hoje vamos prosseguir até 1927, ano que
pensamos ser um ponto de transição na sus vida aventurosa.
Podemos definir a fase que agora descrevemos como da
invenção da Irmânia, e da militância pela difusão das Escolas Livres e da Maçonaria.
Terminado o curso de Direito encontramos Basílio
Lopes Pereira como administrador do Concelho de Mortágua em Julho de 1919. O jornal Sul da Beira nº18, de 7/8/1919
refere que Albano Abreu terá sido preso na sequência de insultos proferidos no
Teatro, contra Basílio Lopes Pereira, o administrador do concelho em exercício.
Pouco tempo depois começa a sua “construção da Irmânia”.
Ângelo Jorge, escritor e jornalista anarquista, naturalista e vegetariano e
dado a escritos esotéricos, publicou em 1912 um romance utópico intitulado Irmânia,
possivelmente o primeiro exemplo deste género literário em Portugal. Sabemos
que esta novela foi dedicada à filha de Ângelo Jorge, a quem este tinha dado o
nome de Armanda Júlia, em homenagem à mãe do autor (Júlia) e à sua irmã Armanda,
falecida ainda criança.
No livro de poemas “Espírito Sereno”, o autor dá-nos a
pista para a escolha do título, no poema I
Armanda – era a minha irmãn, finada
No alvorecer da Vida
Julia era assim chamada
A minha Mãe querida
Assim, da Vida no inconsciente pó
Eu quis – ideia van
– A Mãe, a Filha, a Irmãn,
Ter todas numa só
A etimologia do título, orienta-nos para o significado
de irmandade de todos os indivíduos, subjacente ao ideal cristão.
O autor refere-se à sua obra afirmando: “O que escrevo
é o produto integro e rigoroso do que sinto e penso. Nesta obrasinha, tanto ou
mais do que nas precedentes. Irmânia é a synthese exacta e completa do que
sou moral e mentalmente, e, de certo modo, até, physicamente, na ephoca em que
a escrevo.”
A impressão que esta novela provocou em Basílio Lopes
Pereira foi certamente muito intensa, a ponto de mudar a designação que usava
para a sua aldeia (a Lysia que aparecia no jornal Sol Nascente foi
substituída pela Irmânia), e a incluir no nome do seu filho a palavra Irmânia
entre o inúmeros apelidos com que o brinda (César Máximo Fernão da Irmânia
….etc.).
A acção do livro centra-se num personagem, Manfredo,
que naufraga e acorda numa ilha desconhecida onde vive um “povo livre e feliz”
que o acolhe – a Irmânia. Logo descobre que na ilha se concretizam os seus
conceitos filosóficos e sociais da vida.
Manfredo entende imediatamente o modo de vida dos
habitantes da ilha, mas é ele próprio motivo de admiração para aqueles que, na
sua qualidade de narrador, qualifica de «primitivos»; daí que, mais do que
ouvir e aprender, ele fale e dê ensinamentos, criticando a sua própria
sociedade.
Manfredo assume uma posição paternalista relativamente aos habitantes da
ilha como se percebe nas expressões, “na vossa alma ingénua de Primitivos
não penetrou ainda a peçonha virulenta do mal e da iniquidade”, ou quando se refere aos “imperfeitos e rudimentares trabalhos de
costura” da sua amada Violeta , que sobre si própria diz que “felizmente que não passo duma pobre
rapariga criada em liberdade por esses bosques e montanhas, ignorante e
inculta”.
E paternalmente afirma aos seus anfitrões
que, “sem o entenderdes, vós viveis em Irmânia a verdadeira vida”.
É com base neste romance que Basílio Lopes Pereira constrói a ideia do que
pretende para a sua terra natal, que passa a designar por Irmânia.
Em 25 de Dezembro de 1921, casou com Hélia Ângela de Melo Soares de Albergaria e Távora de
Figueiredo Lobo Silva, residente em Cabanas de Viriato.
Na
certidão de casamento surge a primeira referência a Irmânia:
O assento de baptismo de Hélia Ângela, também foi
acrescentado pelo notário do mesmo modo. O casamento foi efectuado “na casa do pai do noivo, no lugar de
Vila da Irmânia, da dita freguesia da Marmeleira”
Dessa união nasceu, “na casa de seus avós paternos
em Vila da Irmânia do lugar e freguesia deste concelho de Mortágua”, o
primeiro e único filho de Basílio Lopes Pereira, no dia 25/10/1922, segundo
a descrição do ajudante do Posto do Registo Civil da Marmeleira,
Júlio Baptista dos Reis,” lida e conferida “ pelo oficial do Registo
Civil de concelho de Mortágua, José Ferreira Sacras. Começava assim uma
campanha em prol da Irmânia, que se iria manter durante vários anos.
Para grande espanto de muita gente, o menino foi
registado com o nome de “D. César
Maximo Fernão da Irmânia de Melo Soares de Albergaria de Figueiredo Lobo e
Sylva e Tavora Pacheco de Moscoso de Araujo Lopes Pereira “, acrescido de um
título “(vigésimo Conde Barão de Sevêr de Juro e Herdade)”
Tratando-se de um reconhecido republicano, não tardou
a que isso fosse motivo de chacota, que,
convenhamos, se justificava plenamente.
Rocha Martins, um conceituado e temido jornalista,
escreveu no jornal “FANTOCHES” um artigo arrasador que transcrevemos.
« D. Cesar ou as ambições de um demagogo
Dos nomes e as suas significações – Adão o pai dos outros – Os apelidos à vontade de cada qual – A revolta monárquico-democrata – Ou Cesar ou Lopes
Existe em Oliveira de Azemeis,
que eu já representei no Parlamento, um notario ,democratico
de grandes vistas. ·Medra na alma deste tabelião demagogico uma ambição
desenfreada e acreditando tanto no futuro da república, como eu nas almas do
outro mundo, vai preparando largamente para a velhice um escudo magnifico.
Chama-se Basílio, como o
Enxertado de Camilo, Lopes como o celebre fabricante de chocolates espanhoes,
Pereira, como o brasileiro do Eusebio Macario e é bacharel a diferençar-se do
senhor Antonio Maria da Silva de quem se diz correligionario mas a quem abre
sinais fundos em larga oposição.
Não sei nem procuro saber dos
antecedentes heraldicos do notario, mas julgo que não tem quaisquer dignos de
nota nas regiões de Cabanas, nem tampouco nas da Marmeleira, onde residem os
maiores de seus avoengos e os de sua esposa. Tambem numa alma puramente
demagogica, formada de reconcavos de barretos frigios, esta cousa de
antepassados ecôa mal e o melhor é não se querer saber donde se brotou. Havia
um que evocava o pai, batendo no peito formidaveis punhadas e bradando da sua
cadeira de ministro : - Sou filho de um taberneiro! -Bem se vê; não o pode
negar v. ex.a ... respondia-lhe um lisongeiro.
Chama-se a isto orgulho .dos
pergaminhos de quem explorou o povo deitando agua no vinho ou campeche em
sangue de boi e que deve desagradar mais aos envenenados do que os títulos
heraldicos dos que matavam muitas fomes com os caldos das portarias .
Berrar-se a paternidade de um
homem de baixo mister, com orgulho, é tanto de vaidade como arvorar a
ascendencia de um marquez. Depende das epocas. Os nomes são muitas vezes
especies de passaportes.
Nas democracias é melhor uma
pessoa chamar-se simplesmente cidadão José que D. José Cidadão e até julgo que
o senhor marquez de Vale-Flôr - cujo nome de José Constantino era uma gloria
colonial - vai repudiar o titulo para não lhe tocarem nas propriedades de S.
Tomé onde, segundo se bichana, ha postes encravados em terrenos do estado e uma
exploração do negro medelarmente instalada.
Mas o marquez é mülti-milionario
e não se importa com o futuro, vive muito fóra das combinações politicas e não
sabe o que se passa. Já não acontece o mesmo com o tabelião
de Oliveira de Azemeis. Esse é democratico, profunda o sentimento das hostes e
aguarda o momento em que tudo isto desabe . Ataca o senhor Antonio Maria da Silva para
marcar o seu logar e assim como o senhor Afonso Costa, retirado em Paris, conta
com o titulo de conde de Ceia - esplendida mercê para quem tem passado
a vida a cear à custa do país - assim o notario aguarda
compensações na nora que êle -
e deve ter as suas razões
fortes - julga ir soar : a da proclamação da monarquia : A sua hora
de triunfoo, a minha
hora de exilio porque se as cousas levarem
o caminho que este democratico traça com seus actos,
teremos os seus correligionarios no poder dando vivas ao rei e todos
veisondalhados a falarem dos avós.
Como poderemos nós entrar na côrte?
Não que não sabemos como se chamava o nosso avô. Alguns julgam que o seu
antepassado mais antigo era Adão, simplesmente Adão, quatro letras insonsas que
marcam o nome de um homem enganado pela mulher! Nós, não. Preferimos o
macaco que foi polígamo
desde que fez a primeira careta aos soes do mundo inicial.
Perguntar-me-ão porque entrevejo
essa monarquia onde os demagogos de hoje exerçam o papel
que os realistas apagados de hontem tomaram dentro da
república: o de donos? É simples. Como não posso imaginar o senhor bacharel
Basílio Pereira traidor ao seu
partido, e como sei que nas
hostes democraticas se olha muito
para o dia de amanhã, é numa realeza triunfante
que êle pensa e na qual se fale muito, como o senhor
Artur Costa evoca os tremendos e perigosos tempos da propaganda republicana
quando era regenerador em Figueira de Castelo Rodrigo.
Mas porque pensa o
senhor notario Lopes Pereira em semelhante
regimen? Porquê vai segurando
para êle a sua geração.
É o que se chama pôr apelidos a
juros, pois outra cousa não significa a série de nomes heraldicos que o prócere
demogagico despejou no registo civil sobre a cabeça de um seu filhinho, decerto
um encantador· e robusto bébé, ao qual desejavamos uma mocidade mais
leve que os apelidos com que o ajoujaram.
Registou-se o fruto da arvore da
liberdade desta resonante maneira:
D. Cesar Maximo Fernão da
Hirmania de Melo Soares de Albergaria de Figueiredo Lobo e Silva e Souza
Pacheco de Moscoso e Araujo Lopes
Pereira (Sevêr).
Claro que, afóra os apelidos
plebeus, o resto é uma camouflage em que se envolve o inocentinho mas
por isso mesmo se deve acreditar num proximo movimento realista - talvez o de
20 de junho anunciado no congresso democratico - e
no qual só entrarão correligionarios
do senhor conde de Ceia (Afonso
Costa).
Triunfante essa especie de
monarquia, o notario de Azemeis terá em seu filho o seu melhor argumento.
Jámais fôra democratico. Acaso o podia ser um pai que registava o pequeno
acrescentando-lhe um Dom a
tão sonoros apelidos? Ele mesmo
- e então revelaria o seu segredo,
aquele enorme e misterioso
segredo que o corroeu tanto tempo - sim, êle proprio, Lopes
Pereira, tabelião e demagogo nunca se chamara assim.
O seu nome era tambem D. Cesar
Maximo Fernão da Hirmania de Melo Soares de Albergaria de Figueiredo Lobo e
Silva de Souza Pacheco de
Moscoso e Araujo (Sevêr) e Senior … Sim senhor, e Senior,
ou, se quizerem, D. Senior !
No caso do movimento criar
raíses e triunfar
nada mais terá a alegar
em sua defeza; se falhar, se não contar com o apoio do grande
homem de Ceia, então, o notario, emproando-se poderá
gritar: Eu sou ,o Lopes Pereira ! Não tenho culpa que a reacção tivesse penetrado no meu
lar pelo buraco da fechadura . Esse D. Cesar Maximo não
passa de' um talassa. E é meu filho, e é do meu sangue ! A maldita
seita negra perdeu-o. Aquilo não é
nome; é uma facha em que o
enrolaram e que no registo civil imaginaram pertencer-lhe … Mas
não, creiam que não …Foi uma troca de cueiros …
Então o é falido D. Cesar Maximo
Senior erguer-se-á numa colera profunda e gritará apontando o
encarregado dos registos.
- O culpado êle !...Que
maquinaria esse homem? Nega-se o nome
de Lenine, a
um inocente, como sucedeu em Lisboa, porque é revolucionario e estão sempre
prontos para esta heraldica hedionda !
E, convicto, como sempre, o
notario, soltará o seu grande brado:
Abaixo a reação! Depois, voltando-se para o filho
chamar-lhe-á só Lopes.
O diabo é se isto leva
muito tempo e o D. Cesar, depois, não dá pelo nome. »
Não conseguimos
descobrir qualquer reacção de Basílio Lopes Pereira a estes comentários.
Tanto quanto sabemos,
o filho licenciou-se em Engenharia e em Direito, e durante a sua vida
identificou-se sempre como César Máximo, sem fazer uso dos apelidos que lhe
colaram à nascença.
Basílio, Mortágua, Oliveira de Azeméis e Escolas Livres
Fixou-se em Oliveira de Azeméis em data que não
conseguimos precisar, mas seguramente que em 22 de Fevereiro de 1922 já era o
Notário do 2º Cartório Notarial.
Em 5/10/1922, saiu
o primeiro número do jornal “Correio de Azeméis”, que Basílio
fundou com Bento Landureza e de que foi Director desde o início.
Em 13/07/1923 fez
a sua iniciação maçónica na Loja “A
Revolta”, em Coimbra, com o nome simbólico de Fernão Vasques .
"O
Clube tem como fins principais promover entre os seus filiados a prática da
Educação Física, Artística, Intelectual... Sendo-lhe interdita todas e
quaisquer manifestações de carácter político e religioso".
O símbolo,
desenhado pelo artista António Carneiro, representa Vesta, a deusa da
sabedoria.
Ainda no ano de 1923 criou a Escola Livre da Irmânia.
Examinando o papel de ofício da Escola Livre da
Irmânia, encontramos informações propositadamente enganadoras: “iniciada em
6 de Janeiro de 1908”. Essa data diz respeito à primeira tentativa de
fundar uma biblioteca popular, aliás sem sucesso.
Encontramos também um espaço já preenchido destinado á data do ofício, que só admite anos posteriores a 1920. A referência à Escola Livre de Azeméis como secretaria da Confederação das Escolas Livres das Beiras, que consta da informação marginal do papel de ofício, deixa-nos fundadas dúvidas que a data da fundação da Escola Livre da Irmânia possa ser posterior a 1923.
O Jornal “ Defesa da Beira” de 15 de Janeiro de 1961 publicou um artigo assinado por Aquiles, pessoa afecta à Escola Livre da Irmânia, que refere a data da sua fundação. Mas se não lhe restam dúvidas sobre o dia 6 de Janeiro, não tem a mesma certeza sobre o ano, e escreve “ há umas quatro dezenas de anos”.
Continuando a viver em Oliveira de Azeméis, em 11/04/1925 fundou o Triângulo Maçónico de Oliveira
de Azeméis, posteriormente transformado em Loja 27 de Agosto nº437
Nesta época teve intensa actividade na difusão e
desenvolvimento das Escolas Livres
Em 11/06/1925
organizou um passeio de estudo a Viseu abundantemente comentado nos jornais:
Primeiro de Janeiro
« Vizeu, a velha cidade portugueza, de
tão nobres tradições históricas e que tantas maravilhas encerra, vestiu-se das
suas melhores galas par receber os povos da beira marítima, que num entusiasmo
cheio de fé e de patriotismo ali foram confraternizar com os beirões da
montanha. A grandiosa excursão que na passada quinta feira se realisou, foi a
mais importante de quantas em Portugal se têm organizado, tendo ido a Vizeu
cerca de 2000 pessoas. Foi um verdadeiro êxito para a Escola Livre de Oliveira
de Azemeis que a promoveu e para o seu presidente, a alma da Escola Livre, sr.
dr. Bazílio Lopes Pereira ».
Sul da Beira 25.06.1925
«Na verdade, o dr. Bazílio
Lopes Pereira, nosso presado conterrâneo, pode orgulhar-se por ter conseguido,
o que nunca conseguiu na sua terra. – É que ninguém é profeta na sua terra-
A Escola Livre que fundou em
Mortágua, com todas as características da Escola Livre de Azemeis, nunca
conseguiu o seu fim, mercê talvez das más vontades que á sua roda se formaram.
Azemeis, ao contrario,
compreendeu melhor o alto significado a que visam as Escolas e aprova desta
asserção está no interesse desusado que tomou a excursão de estudo a Vizeu, na
qual tomaram parte cerca de 2000 pessoas, tendo para isso sido organizados dois
extensos comboios especiaes.
Felicitamos o dr. Bazilio pelo
excelente êxito desse passeio e pelos progressos que tem alcançado a sua Escola
Livre á qual preside com tanto amôr, com tão acendrado carinho e com tanto
entusiasmo.»
Sul da Beira 5.07.1925 (continuação da notícia anterior)
« Em seguida o sr. dr.
Monteiro Junior, vereador da Camara, faz um belo discurso, saudando os
excursionistas em nome da Camara e do Povo de Vizeu e diz que a velha cidade
portugueza não podia receber de outra forma os seus visitantes, porque se outro
motivo de regozijo não houvesse, bastava o tratar-se dos seus irmãos das bandas
do mar que vieram até á montanha confraternizar e respirar o seu belo ar.
Termina saudando as três
Escolas Livres ali representadas – a de
Azemeis, Mortagua e Irmania.
Segue se-lhe no uso da palavra
o ilustre presidente da Escola Livre de Azemeis sr. dr. Bazílio Lopes Pereira,
que profundamente comovido, agradece em breves palavras aos representantes da
cidade de Vizeu os seus cumprimentos e a maneira galharda como foram recebidos,
e diz que aquele passeio a Vizeu é uma afirmação do amor á terra.
Ao terminar o seu discurso
ouve-se uma prolongada salva de palmas e vivas ao povo de Vizeu,etc.
Depois falaram os srs. Augusto
Lobo, presidente da Escola Livre de Mortagua; Dr. Ferreira Gomes, professor do
Liceu de Vizeu; e Rui Fernandes Martins, pelos excursionistas de Santa Comba
Dão (Estação).
Por ultimo falou o presidente
da camara de Oliveira de Azemeis, sr. dr. Albino Reis, que em nome daquela
Camara agradeceu a calorosa recepção que foi feita ao povo da sua terra e ao
terminar disse que aproveitava aquele momento para em nome da Camara que
representa saudar a Escola livre de Azemeis pela organisação daquela excursão,
afirmando que ela poderia contar sempre com o auxilio da Camara de Azemeis.»
« Diz o «Primeiro de Janeiro»
que a merenda na Mata do Fontelo foi, sem duvida, um dos interessantes números
do programa, por ali confraternizarem beirões de Azemeis, Mortagua, Tábua,
Santa Comba, Carregal do Sal, Tondela , Irmania e Vizeu.
Como cumprimos á risca o programa
imposto pelos excursionistas e porque sobre nós pesava a responsabilidade de
darmos aos leitores do «Sul» um retrato mais ou menos circunstanciado do
decorrer das festas, chegamos a Fontelo quando tudo dispersava. Não nos
recorda, porém, ter visto que alguns dos povos citados ali fossem
confraternizar. Os motivos dessa falta de comparência ignoramol-a nós.»
« NOTA – Os bombeiros
que constituíram o piquete que foi representar a Vizeu a associação dos
bombeiros desta vila, foram a expensas do vice-presidente da direcção, sr. dr.
Serafim Lopes Pereira.»
1926.04.20 -
Gazeta de Coimbra:
“Universidade Livre…..
Brevemente terão logar também, além das conferências já anunciadas, uma
sobre Um livro de
Albino Forjaz de Sampaio, pelo tenente
sr. Nuno Beja, e outra sobre A Obra e Organisação das Escolas Livres, pelo sr. dr. Basilio L. Pereira, presidente da Escola Livre de
Azemeis.”
1926.05.13 - Gazeta de Coimbra
“Conferencia da
Universidade Livre
Teve efectivamente lugar ontem a palestra explicativa sobre
as Escolas Livres expoz detalhadamente o espírito do movimento, os trabalhos
realisados e seu modo de funcionamento.
Ocupou-se depois da excursão a esta cidade, promovida pela
Escola Livre de Azemeis, que terá lugar em 11 de Junho próximo, apelando para
os ouvintes par que , por essa ocasião, secundasse os esforços das Escolas
Livres para que a excursão resultasse profícua para todos e estabelecerem o
tipo e o precedente da verdadeira confraternização das diferentes terras do
paiz.
Na próxima semana, falará o sr. dr. Abel Urbano, continuando
o assunto dos Melhoramentos de Coimbra.”
Basílio Lopes Pereira era filiado no Partido Democrático que governava quando se deu o golpe militar que implantou a ditadura. Pouco tempo depois do 28 de Maio, sectores civis e militares tentaram criar um bloco anti-ditatorial que se revertesse a situação. Foram efectuadas múltiplas tentativas fracassadas, mas a 3 de Fevereiro de 1927 surgiu um movimento revolucionário no Porto, que teve maior relevância, mas que as forças da ditadura acabaram por dominar com alguma facilidade por não ter havido adesão atempada de outras forças militares. Basílio Lopes Pereira deslocou-se para o Porto nessa altura pelo que foi alvo de uma sindicância, mas nada se provou quanto a qualquer implicação sua no movimento.
A GAZETA DE COIMBRA de 10 de Março 1927 – publica uma nota do seu
correspondente sobre a Escola Livre de Eiras.
“ A E.L. recebeu há dias a visita do nosso
querido e velho amigo dr. Bazilio Lopes Pereira, habilíssimo advogado em
Oliveira de Azeméis e apaixonado propagandista das E.L. que se nos confessou
admirado com o tão grande impulso tomado pela nossa E.L. em tão pouco tempo.
Este nosso amigo, que é mui digno
presidente da E.L. de Oliveira de Azeméis, cumprimentou à noite na sede da
nossa E.L. os seus associados, cumprimentos que podemos classificar de uma
conferência subordinada ao tema, Os benefícios das E. L.
O dr. Bazilio não é como qualquer desses
adventícios que por aqui tem aparecido a falar da E.L. a torcerem o bico ao
prego e como que a quererem empenar a marcha do seu desenvolvimento. O dr.
Bazilio fala com conhecimento de causa e com a autoridade que lhe dão os seus
muitos anos de dedicação ás E.L.
Foi ele o fundador da de Ermânea, da de
Mortágua e da de Azemeis. Agora anda empenhado na criação da Confederação das
E.L. e oxalá a realização de tal ideia se não faça esperar, pois que com a
Confederação, muito tem a lucrar as E. L. do país. “
Em 12 de Maio de 1927
, a GAZETA DE COIMBRA publica uma carta do Dr. Basílio
"CARTA
—
Soube que no jornal, que V. dirige muito distintamente, a propósito do grande passeio de estudo anual das
Escolas Livres da província das Beiras, projectado este ano, para o próximo dia
16 de Junho a essa linda cidade, se reprovava a ideia de realizar a grande
merenda de confraternização beirã no parque de Santa Cruz, parece que no receio
de que os viajores das Escolas Livres danificassem esse delicioso retiro da
rainha do Mondego.
Não
consegui, apesar de todos os esforços, essa local para a ler. É pois, sob uma
informação que pode ter qualquer inexactidão que tomo a liberdade de me dirigir
a V. de que peço me perdoe.
Mas,
seja como fôr, ficaria muito grato a V. se informasse o publico dessa cidade de
que não deve ter quaisquer receios da gente das Escolas Livres, que, muita
dela, poderá ser simples, mas que é dominada por um grande pensamento de
beleza, de amor e apego á terra, motivo porque saberá respeitar absolutamente
tudo quanto constitue motivo de orgulho para todos os conimbricenses.
Bastaria,
para comprovar o que acabo de dizer, citar o passeio de estudo realizado a
Viseu, ha dois anos, em dois comboios especiais de Oliveira de Azemeis com mil
e duzentos passageiros e um terceiro de Santa Comba-Dão em que seguiram as
Escolas Livres da Irmania e de Mortagua.
Foi
uma jornada magnifica, magestosissima, em que não houve um desgosto, qualquer
nota discordante.
Todo
o povo de Viseu, a Camara Municipal, o Quartel General, todo o corpo docente e
descente do Liceu, Governo Civil, Junta Geral, no Museu Grão Vasco, onde foi
feita uma notável conferencia de iniciação artística e sobre a história da Sé
pelo distintíssimo 10 de arqueologo capitão sr. Almeida Moreira, corporações de
bombeiros, associações, desportivas, professores primários e seu ilustre
inspector, enfim todas as entidades pois não faltou uma a demonstrar o mais
fidalgo acolhimento, podem confirmar isso mesmo.
A
alta finalidade das Escolas Livres, asseguradoras e continuadoras da escola
primária, a universidade dos pobres, um reduto contra o vicio, é, de resto,
segura e eloquente garantia.
Agradecendo
a V. a publicação desta carta. — Oliveira de Azemeis, 9 de Maio de 1927, Basilio
Lopes Pereira."
A
deslocação a Coimbra acabou por não se realizar.
Penso
que podemos situar nesta época o início de uma nova fase da vida de Basílio
Lopes Pereira, em que corre grandes riscos
para a sua liberdade e até para a sua integridade física..
Brevemente
continuaremos o relato do que se passou a seguir.
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