segunda-feira, 1 de agosto de 2022

 

Regimento de Caçadores nº 4

Uma representação enganadora.

 

O Batalhão de Caçadores da Beira, nº4, foi organizado na cidade de Viseu, em 1908, pelo então major Luís Rêgo Barreto, que o comandou durante toda a guerra peninsular.

Em 21 de Janeiro de 1809, Luís Rêgo foi promovido a Tenente-Coronel.

Durante a 3ª Invasão Francesa, o Batalhão de Caçadores nº4 passou por Mortágua, e bateu-se com grande valentia contra o 2º Corpo do exército francês, comandado pelo General Reynier, em Santo António do Cântaro.

Essa valentia valeu-lhes os maiores elogios de Lord Beresford, no Oficio que dírigiu ao Governo em 30 de Setembro de 1810, se exprime pela seguinte linguagem : « A conducta do Batalhão de Caçadores Nº 4 merece ser particularmente mencionada , assim pelo seu valor no ataque, como pela constância, com que supportou por todo o dia o inimigo.»   Na Ordem do dia 28 de Setembro, Beresford   apelida de “ Bravos” o Comandante Luiz do Rego Barreto juntamente com os Soldados e Oficiais sob o seu comando.

Lord Wellíngton, comandante das forças anglo-lusas , no Oficio que  em 30 de Setembro de 1810 dirige ao general Miguel Pereira Forjaz, o membro mais influente do Conselho de Regência, que assumiu a governação do Reino de Portugal, após  a partida da Corte para o Brasil, não regateia elogios à actuação do Batalhão e do seu comandante.

O dr. Assis Santos num artigo intitulado  Os Franceses em Mortágua: 23-30 de Setembro de 1810”, publicado na Revista “Beira Alta” em 1944, fala de uma batalha de Mortágua que não encontramos descrita em nenhum dos mais de cem livros e artigos que consultamos.

Ainda segundo o Dr. Assis, o Regimento de Caçadores nº 4, era comandado pelo “major” Luís Rêgo, que já era Tenente-Coronel há mais de um ano.

Pois bem, o Dr. Assis fez escola, e outros pseudo- historiadores tomaram as suas afirmações como definitivas, e o Batalhão de Caçadores nº4 passou a ser o orgulho de Mortágua, e quase um símbolo da resistência da população local ao invasor.

A autarquia local, a partir de certa altura entrou num entusiasmo frenético sobre as invasões francesas, chegando a receber como convidado especial um descendente do comandante dos invasores.

Criou “centros interpretativos”, encomendou pinturas murais, deu patrocínios à edição de livros, promoveu reconstituições históricas, passeios noturnos, conferências, exposições, etc.

Para rematar esta azáfama, colocaram um boneco que pretende representar o Batalhão de Caçadores nº4, defronte do “centro interpretativo”.


 Ora este militar, com o fardamento que apresenta,  nunca poderia pertencer ao Batalhão de Caçadores nº 4.

Ninguém nasce ensinado, mas com as iniciativas que patrocinaram, e em que participaram, deviam ter aprendido qualquer coisa.

Em 2016, o Centro de Animação Cultural de Mortágua manteve durante mais de um mês uma exposição de aguarelas da autoria do General Ribeiro Artur, ilustrativas dos fardamentos militares na época das invasões francesas


Se tivessem olhado com um pouco de atenção para as aguarelas tinham visto que o fardamento dos “Caçadores” nada tinha de comum com o nosso “boneco interpretativo”.

O general Ribeiro Artur representou-os na figura acima.

Os uniformes eram feitos num tecido de lã grossa, de cor acastanhada, fabricado nas Beiras. O tecido era conhecido por Saragoça, ou, numa designação mais popular, Surrobeco.

Os soldados usavam polainas de pano preto. Os oficiais usavam botas de cano alto.

Durante o Verão era autorizado o uso de calças brancas, de linho ou algodão.

Um regulamento de 14 de Outubro de 1810, estabeleceu alguns elementos distintivos dos diversos Batalhões. Além da placa metálica com o número do batalhão, exibido no barrete,

a distinção era feita pela cor dos colarinhos e dos punhos.

O Batalhão de Caçadores nº 4 tinha colarinho e punhos de cor azul claro. Os caçadores nº5 tinham punhos e colarinhos vermelhos, e os Caçadores nº6, amarelos.

Os Batalhões de Caçadores 1, 2 e 3  usavam colarinhos castanhos, sendo os punhos azul claro, vermelho ou amarelo, respectivamente.

O autor da pintura mural efectuada no Barril, teve o cuidado de se esclarecer sobre o trabalho a fazer, e representou um Caçador do Batalhão nº 4 com o uniforme adequado.


Uma nota final sobre o armamento:


Em 1810 os Batalhões de Caçadores foram equipados com a carabina Baker.

Anteriormente estavam equipados com mosquete Land Pattern, também conhecido como Brown Bess. 

***

Consta por aí que o boneco-interpretativo de fardamento azul, foi considerado suspeito de ligações às forças invasoras e condenado ao exílio no Parque Urbano.



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