Regimento de Caçadores
nº 4
Uma representação
enganadora.
O Batalhão de Caçadores da
Beira, nº4, foi organizado na cidade de Viseu, em 1908, pelo então major Luís Rêgo
Barreto, que o comandou durante toda a guerra peninsular.
Em 21 de
Janeiro de 1809, Luís Rêgo foi promovido a Tenente-Coronel.
Durante a 3ª
Invasão Francesa, o Batalhão de Caçadores nº4 passou por Mortágua, e bateu-se com
grande valentia contra o 2º Corpo do exército francês, comandado pelo General
Reynier, em Santo António do Cântaro.
Essa
valentia valeu-lhes os maiores elogios de Lord Beresford, no Oficio que dírigiu ao Governo
em 30 de Setembro de 1810, se exprime pela seguinte linguagem : « A conducta
do Batalhão de Caçadores Nº 4 merece ser particularmente mencionada , assim
pelo seu valor no ataque, como pela constância, com que supportou por todo o
dia o inimigo.» Na Ordem do dia 28 de Setembro, Beresford apelida
de “ Bravos” o Comandante Luiz do Rego Barreto juntamente com os Soldados e
Oficiais sob o seu comando.
Lord Wellíngton, comandante das forças anglo-lusas , no Oficio que em 30 de Setembro de 1810 dirige ao general Miguel Pereira Forjaz, o membro mais influente do Conselho de Regência, que assumiu a governação do Reino de Portugal, após a partida da Corte para o Brasil, não regateia elogios à actuação do Batalhão e do seu comandante.
O dr.
Assis Santos num
artigo intitulado “Os Franceses em Mortágua: 23-30 de Setembro de 1810”, publicado na Revista “Beira Alta” em 1944, fala de uma “batalha de
Mortágua” que não encontramos descrita em nenhum dos mais de cem livros
e artigos que consultamos.
Ainda segundo o Dr. Assis,
o Regimento de Caçadores nº 4, era comandado pelo “major” Luís
Rêgo, que já era Tenente-Coronel há mais de um ano.
Pois bem, o Dr. Assis fez escola,
e outros pseudo- historiadores tomaram as suas afirmações como definitivas, e o
Batalhão de Caçadores nº4 passou a ser o orgulho de Mortágua, e quase um
símbolo da resistência da população local ao invasor.
A autarquia local, a partir
de certa altura entrou num entusiasmo frenético sobre as invasões francesas,
chegando a receber como convidado especial um descendente do comandante dos
invasores.
Criou “centros
interpretativos”, encomendou pinturas murais, deu patrocínios à edição de
livros, promoveu reconstituições históricas, passeios noturnos, conferências,
exposições, etc.
Para rematar esta azáfama,
colocaram um boneco que pretende representar o Batalhão de Caçadores nº4,
defronte do “centro interpretativo”.
Ora este militar, com o fardamento que
apresenta, nunca poderia pertencer ao Batalhão
de Caçadores nº 4.
Ninguém nasce ensinado, mas
com as iniciativas que patrocinaram, e em que participaram, deviam ter
aprendido qualquer coisa.
Se tivessem olhado com um pouco de atenção para as aguarelas
tinham visto que o fardamento dos “Caçadores” nada tinha de comum com o nosso
“boneco interpretativo”.
O general Ribeiro Artur representou-os na
figura acima.
Os uniformes eram feitos num tecido de lã
grossa, de cor acastanhada, fabricado nas Beiras. O tecido era conhecido por Saragoça,
ou, numa designação mais popular, Surrobeco.
Os
soldados usavam polainas de pano preto. Os oficiais usavam botas de cano alto.
Durante
o Verão era autorizado o uso de calças brancas, de linho ou algodão.
Um
regulamento de 14 de Outubro de 1810, estabeleceu alguns elementos distintivos dos
diversos Batalhões. Além da placa metálica com o número do batalhão, exibido no
barrete,
a
distinção era feita pela cor dos colarinhos e dos punhos.
O
Batalhão de Caçadores nº 4 tinha colarinho e punhos de cor azul claro. Os caçadores
nº5 tinham punhos e colarinhos vermelhos, e os Caçadores nº6, amarelos.
Os
Batalhões de Caçadores 1, 2 e 3 usavam
colarinhos castanhos, sendo os punhos azul claro, vermelho ou amarelo,
respectivamente.
O autor da pintura mural efectuada no Barril, teve o cuidado de se esclarecer sobre o trabalho a fazer, e representou um Caçador do Batalhão nº 4 com o uniforme adequado.
Uma nota final sobre o armamento:
Em 1810 os Batalhões de Caçadores foram
equipados com a carabina Baker.
Anteriormente estavam equipados com mosquete Land Pattern, também conhecido como Brown Bess.
Consta
por aí que o boneco-interpretativo de fardamento azul, foi considerado suspeito
de ligações às forças invasoras e condenado ao exílio no Parque Urbano.
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