Dr. Aníbal Dias
Filho adoptivo de
Mortágua
Um cidadão exemplar - Parte 1
Enquanto algumas personalidades do nosso passado recente tem sido glorificadas, por vezes sem mostrarem méritos significativos, outras tem caído injustificadamente no esquecimento colectivo. Algumas desses cidadãos não eram naturais de Mortágua, mas deixaram uma marca indelével, pelo contributo que deram à terra que adoptaram , ou em que viveram muitos anos. Uma dessa figuras foi o Dr. Aníbal Dias, a quem prestamos hoje uma pequena homenagem.
Assim foi conhecido o Dr.
Aníbal Dias Nogueira, médico que não exerceu a medicina em Mortágua, mas que
teve um papel muito activo na vida desta vila.
In “ Testemunhos da História- para que a memória não
se apague” de José Luis Nogueira
Em 1889, Manoel Ignacio passou
a fábrica para os quatro filhos, criando a firma Dias Nogueira & C.ª
Nessa data Aníbal Dias
tinha a idade de 14 anos.
Viria a licenciar-se em Medicina,
e foi médico do partido municipal de Campo de Besteiros, Tondela. A sua sogra, Maria José Tenreiro que padecia de tuberculose, passava grande parte do ano na casa
mandada edificar na localidade de Guardão pelo cunhado, médico em Mortágua,
Joaquim Tavares Festas, num tempo em que nem existia o sanatório do Caramulo,
mais tarde famoso, mas em que se defendia o tratamento destes doentes, em
locais de elevada altitude.
Antes disso ainda
surgiriam algumas estruturas hoteleiras, precursoras do sanatório.
O Dr. Aníbal Dias casou
em 1904, na Capela da Colmeosa com Maria
Isabel Tenreiro Tavares Festas, nascida a 12 de Julho de 1885, filha de João
Tavares Festas e Maria José Tenreiro.
A acreditar em Martins e
Abreu na publicação “A República em Mortágua”, Joaquim Tavares Festas
que era o médico do partido municipal de Mortágua, terá tentado abrir um
segundo partido para instalar o agora sobrinho Aníbal, mas não terá sido bem
sucedido. Vejamos o que diz:
“ Na primeira sessão foi extinto o partido *(2º),
cujo histórico aí vai:
Em 20 de Maio de 1905 foi creado este
partido em face de uma exposição do bacharel Joaquim Tavares Festas, médico
municipal, que durante anos foi não só o único como tal, mas também o único
clínico do concelho, sem ninguém sentir faltas; e sem queixas dele.
…
Em primeiro logar, Joaquim Festas, viúvo e
maduro, casara por amor com uma jovem encantadora (e, em tudo, digna) ao passo
que também se apaixonava pela mais nobre, infibradora e útil de todas as
ocupações – a lavoura.
Em segundo logar, o bacharel Aníbal,
sobrinho de Joaquim Festas, estava aí sem colocação.
Festas previra que o arranjo
político-familiar daria nas vistas e asseverou que ía demitir-se do primeiro
partido, logo que fosse creado o segundo – por saber que, sendo sua família
predominante na terra, fácil lhe era aquiescer aos pedidos do povo na ocasião
oportuna.
Mas saíu-lhe o imprevisto e viu-se
obrigado a demitir-se, quando o Aníbal já não podia ser provido.”
Não podemos assegurar a veracidade das informações,
mas o que é certo é que Aníbal Dias nunca viria a exercer medicina em Mortágua,
senão a título particular, embora aqui tenha desempenhado um papel de grande
relevo social.
Morava na Quinta das Rosas, que nesse tempo tinha á
sua frente, do lado oposto da rua, os armazéns Lobo, o chafariz e a Câmara
Municipal. Actualmente o chafariz e a Câmara estão um pouco deslocados para a
direita.
Estas fotografias constantes do espólio do senhor José do Porto, que foi
correspondente do jornal Defesa da Beira, sõ referidas como sendo obtidas na
Quinta das Rosas.
D. Maria Isabel Tenreiro Tavares Festas, esposa do Dr.
Aníbal Dias, faleceu em Coimbra vítima de tuberculose com a idade de 38 anos , a
18/01/1923.
Contudo o Dr. Aníbal manteve-se em Mortágua, desenvolvendo intensa actividade cívica.
Presidente da Associação de Bombeiros de Mortágua
Em Abril de 1927 temos conhecimento da sua reeleição
para o segundo mandato de Presidente da Associação de Bombeiros Voluntários de
Mortágua, com rasgados elogios do autor da notícia local.
Presidente da Escola Livre de Mortágua
Em 24/04/1927, o jornal “Correio
de Mortágua” dá-nos conta de uma reorganização da Escola Livre de Mortágua,
em que Aníbal Dias assume um papel importante conforme se depreende da notícia
que transcrevemos:
“ Uma reorganização e um passeio
Vai ressurgir a Escola-Livre de Mortagua
A Escola–Livre de Mortagua vai ressurgir – tudo nos levando a crêr que
agora mais forte do que nunca.
Em boa verdade, não fazia sentido que Mortagua, a quem coube a honra de
iniciar este movimento que agora se nota em prol das Escolas-Livres –
continuadores do ensino recebido na escola primária -,tão desinteressada dêle
se mostrasse e permitisse que a sua Escola-Livre vivesse apenas pela Secção de
Educação Fisica.
Ainda bem, portanto, que alguns devotados amigos da Escola-Livre e de
Mortagua, se decidiram a reorganisa-la, colocando-a no lugar que lhe compete e
insuflando-lhe vida para que ela possa atingir a sua finalidade: a cultura
física, intelectual e mora do povo.
A comissão reorganizadora reuniu-se há dias pela primeira vêz e muito
nos aprás registar a boa vontade que a todos anima e que, por certo, há de
produzir magníficos resultados. Ficou assente que os trabalhos da Escola se
iniciassem desde já, com a distribuição seguinte de cargos:
Direcção: - Presidente, Dr. Anibal Dias;
vice-presidente, Augusto Lobo;
secretario das actas, Dr. João Mamede;
secretario de contabilidade, tenente Zeferino
Barbosa;
tesoureiro, Acacio Ferreira de Matos;
director da Biblioteca(interino), Dr. João
Mamede;
secção de Estudos Gerais, director, Dr.João
Mamede;
secção de Escotismo, director, Joaquim
Oliveira;
secção de Agricultura, director, Augusto
Lobo;
secção de musica e teatro, director, Dr.
Anibal Dias;
secção de Educação Fisica, director, tenente
Zeferino Barbosa;
secção de Higiene, director, Dr. Manuel
Afonso;
secção de tiro, director, António José
Gonçalves;
secção de Educação social, director
(interino). Dr. Aníbal Dias;
secção de Filantropia, director, Duarte
Portugal e
secção de Propaganda, director, Dr. Mario
Gomes da Silva”
Como vemos, além da Direcção da Escola, o dr.
Aníbal assume a coordenação de duas secções.
Presidente do Grupo Dramático
“Pró-Mortágua”
Autor de Peças Teatrais
No dia 2 Janeiro de 1927, o jornal “Correio de Mortágua” dá-nos conta de uma récita, levada a cabo pelo Grupo Dramático “PRO-MORTAGUA”, de que O dr. Aníbal Dias era presidente, e cuja receita se destinava a apoiar a população da ilha do Faial, vítima de um terramoto ocorrido a 31 Agosto de 1926, de que provocou grande destruição.
Do envio da verba para as vítimas, dá-nos conta o jornal “Correio de Mortágua” de 16.02.1927.
Como autor teatral,
temos conhecimento de três peças publicadas
Continuaremos noutro artigo a homenagem ao Dr. Aníbal Dias
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