sábado, 6 de abril de 2024

 

Dr. Aníbal Dias 

Filho adoptivo de Mortágua

Um cidadão exemplar - Parte 1

 

Enquanto algumas personalidades do nosso passado recente tem sido glorificadas, por vezes sem mostrarem méritos significativos, outras tem caído injustificadamente no esquecimento colectivo. Algumas desses cidadãos não eram naturais de Mortágua, mas deixaram uma marca indelével, pelo contributo que deram à terra que adoptaram , ou em que viveram muitos anos.  Uma dessa figuras foi o Dr. Aníbal Dias, a quem prestamos hoje uma pequena homenagem.

Assim foi conhecido o Dr. Aníbal Dias Nogueira, médico que não exerceu a medicina em Mortágua, mas que teve um papel muito activo na vida desta vila.

Nasceu em Góis a 28 de Janeiro de 1875, sendo o quarto filho de Maria José Augusta Nogueira e Manuel Ignácio Dias, proprietário da Fábrica de papel de Góis, em Ponte do Sotam.

In “ Testemunhos da História- para que a memória não se apague” de José Luis Nogueira

Em 1889, Manoel Ignacio passou a fábrica para os quatro filhos, criando a firma Dias Nogueira & C.ª

Nessa data Aníbal Dias tinha a idade de 14 anos.


Viria a licenciar-se em Medicina, e foi médico do partido municipal de Campo de Besteiros, Tondela. A sua sogra, Maria José Tenreiro que padecia de tuberculose, passava grande parte do ano na casa mandada edificar na localidade de Guardão pelo cunhado, médico em Mortágua, Joaquim Tavares Festas, num tempo em que nem existia o sanatório do Caramulo, mais tarde famoso, mas em que se defendia o tratamento destes doentes, em locais de elevada altitude.

Antes disso ainda surgiriam algumas estruturas hoteleiras, precursoras do sanatório.




O Dr. Aníbal Dias casou em 1904, na Capela da Colmeosa com  Maria Isabel Tenreiro Tavares Festas, nascida a 12 de Julho de 1885, filha de João Tavares Festas e Maria José Tenreiro.

A acreditar em Martins e Abreu na publicação “A República em Mortágua”, Joaquim Tavares Festas que era o médico do partido municipal de Mortágua, terá tentado abrir um segundo partido para instalar o agora sobrinho Aníbal, mas não terá sido bem sucedido. Vejamos o que diz:

Na primeira sessão foi extinto o partido *(2º), cujo histórico aí vai:

Em 20 de Maio de 1905 foi creado este partido em face de uma exposição do bacharel Joaquim Tavares Festas, médico municipal, que durante anos foi não só o único como tal, mas também o único clínico do concelho, sem ninguém sentir faltas; e sem queixas dele.

Em primeiro logar, Joaquim Festas, viúvo e maduro, casara por amor com uma jovem encantadora (e, em tudo, digna) ao passo que também se apaixonava pela mais nobre, infibradora e útil de todas as ocupações – a lavoura.

Em segundo logar, o bacharel Aníbal, sobrinho de Joaquim Festas, estava aí sem colocação.

Festas previra que o arranjo político-familiar daria nas vistas e asseverou que ía demitir-se do primeiro partido, logo que fosse creado o segundo – por saber que, sendo sua família predominante na terra, fácil lhe era aquiescer aos pedidos do povo na ocasião oportuna.

Mas saíu-lhe o imprevisto e viu-se obrigado a demitir-se, quando o Aníbal já não podia ser provido.”

Não podemos assegurar a veracidade das informações, mas o que é certo é que Aníbal Dias nunca viria a exercer medicina em Mortágua, senão a título particular, embora aqui tenha desempenhado um papel de grande relevo social.

Morava na Quinta das Rosas, que nesse tempo tinha á sua frente, do lado oposto da rua, os armazéns Lobo, o chafariz e a Câmara Municipal. Actualmente o chafariz e a Câmara estão um pouco deslocados para a direita.



Estas fotografias constantes do espólio do senhor José do Porto, que foi correspondente do jornal Defesa da Beira, sõ referidas como sendo obtidas na Quinta das Rosas.

D. Maria Isabel Tenreiro Tavares Festas, esposa do Dr. Aníbal Dias, faleceu em Coimbra vítima de tuberculose com a idade de 38 anos , a 18/01/1923.

Contudo o Dr. Aníbal manteve-se  em Mortágua, desenvolvendo intensa actividade cívica.

Presidente da Associação de Bombeiros de Mortágua

Em Abril de 1927 temos conhecimento da sua reeleição para o segundo mandato de Presidente da Associação de Bombeiros Voluntários de Mortágua, com rasgados elogios do autor da notícia local.



Presidente da Escola Livre de Mortágua

 

Em 24/04/1927, o jornal “Correio de Mortágua” dá-nos conta de uma reorganização da Escola Livre de Mortágua, em que Aníbal Dias assume um papel importante conforme se depreende da notícia que transcrevemos:

“ Uma reorganização e um passeio

Vai ressurgir a Escola-Livre de Mortagua

 

A Escola–Livre de Mortagua vai ressurgir – tudo nos levando a crêr que agora mais forte do que nunca.

Em boa verdade, não fazia sentido que Mortagua, a quem coube a honra de iniciar este movimento que agora se nota em prol das Escolas-Livres – continuadores do ensino recebido na escola primária -,tão desinteressada dêle se mostrasse e permitisse que a sua Escola-Livre vivesse apenas pela Secção de Educação Fisica.

Ainda bem, portanto, que alguns devotados amigos da Escola-Livre e de Mortagua, se decidiram a reorganisa-la, colocando-a no lugar que lhe compete e insuflando-lhe vida para que ela possa atingir a sua finalidade: a cultura física, intelectual e mora do povo.

A comissão reorganizadora reuniu-se há dias pela primeira vêz e muito nos aprás registar a boa vontade que a todos anima e que, por certo, há de produzir magníficos resultados. Ficou assente que os trabalhos da Escola se iniciassem desde já, com a distribuição seguinte de cargos:

Direcção: - Presidente, Dr. Anibal Dias;

vice-presidente, Augusto Lobo;

secretario das actas, Dr. João Mamede;

 secretario de contabilidade, tenente Zeferino Barbosa;

tesoureiro, Acacio Ferreira de Matos;

director da Biblioteca(interino), Dr. João Mamede;

secção de Estudos Gerais, director, Dr.João Mamede;

secção de Escotismo, director, Joaquim Oliveira;

secção de Agricultura, director, Augusto Lobo;

secção de musica e teatro, director, Dr. Anibal Dias;

secção de Educação Fisica, director, tenente Zeferino Barbosa;

secção de Higiene, director, Dr. Manuel Afonso;

secção de tiro, director, António José Gonçalves;

secção de Educação social, director (interino). Dr. Aníbal Dias;

secção de Filantropia, director, Duarte Portugal e

secção de Propaganda, director, Dr. Mario Gomes da Silva

 

Como vemos, além da Direcção da Escola, o dr. Aníbal assume a coordenação de duas secções.


Presidente do Grupo Dramático

“Pró-Mortágua”

Autor de Peças Teatrais 


No dia 2 Janeiro de 1927, o jornal “Correio de Mortágua” dá-nos conta de uma récita, levada a cabo pelo Grupo Dramático “PRO-MORTAGUA”, de que O dr. Aníbal Dias era presidente, e cuja receita se destinava a apoiar a população da ilha do Faial, vítima de um terramoto ocorrido  a 31 Agosto de 1926, de que provocou grande destruição. 







Do envio da verba para as vítimas, dá-nos conta o jornal “Correio de Mortágua” de 16.02.1927. 


Como autor teatral, temos conhecimento de três peças publicadas




Continuaremos noutro artigo a homenagem ao Dr. Aníbal Dias 

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