domingo, 17 de julho de 2016


Dr. Assis e Santos e a História de Mortágua

 

Depois de alguns anos de esquecimento, temos assistido recentemente ao reavivamento da memória do Dr. Assis dos Santos, por iniciativa da autarquia, pretendendo salientar a sua actividade como médico e como historiador do concelho de Mortágua.

Como médico, pretende-se evidenciar a sua permanente disponibilidade e bondade, referindo que ia ver doentes a todo lado, deslocando-se a pé, e nunca cobrava dinheiro a ninguém.

A verdade é que era o único médico de Mortágua que tinha ordenado pago pelo Estado, dada a sua função de Subdelegado de Saúde. Antes de vir para a vila de Mortágua, esteve colocado como médico de partido em Espinho, e como tal recebia da autarquia.

Como historiador de Mortágua, escreveu vários livros que temos alguma dificuldade em avaliar, uma vez que não temos formação suficiente em Geologia e História. No entanto notamos que nos seus escritos nunca cita as fontes que alimentam a sua sabedoria em campos que não são os seus, o que não costuma ser bom sinal. Temos a certeza que não teria tempo, nem meios, para investigar tudo aquilo que afirma, sem recorrer a textos de outros autores especializados.

Não deixa de ser interessante verificar que alguma da produção intelectual de Assis dos Santos é sistemática e voluntariamente omitida pelos actuais biógrafos. De facto, Assis e Santos foi durante muitos anos o escriba de serviço dos salazaristas de Mortágua, que lhe encomendavam escritos e discursos. Um deles “O Nacionalismo Português na História Contemporânea”, é uma conferência lida em 28 de Maio de 1947 na Câmara Municipal de Mortágua, por solicitação do seu presidente. Outro trabalho “Comunicações Rodoviárias entre a Beira Alta e a Beira Litoral Através de Mortágua”, escrito por ele, foi entregue ao Ministro das Obras Públicas em 10 de Julho de 1947, em sessão solene na Câmara Municipal.  Podemos também  referir “As primeiras navegações oceânicas”, uma conferência pronunciada em 4 de Março de 1960, por solicitação do Presidente da Câmara de Mortágua, Artur de Gouveia Leitão.

O próprio “O pelourinho de Mortágua” foi escrito por encomenda do presidente da Câmara, Dr. António Abreu, em 1940, para integrar as comemorações dos centenários da fundação da nacionalidade (1140) e a restauração da independência (1640).

Homenageado em 7 de Dezembro de 1969, proferiu um discurso que merece leitura atenta, até porque nos dá ideia da sua personalidade e o do seu percurso de vida.

Por agora vamos centrar a nossa atenção unicamente sobre algumas passagens do seu discurso, relativas a médicos de Mortágua:

« Espero que os promotores desta manifestação compreendam a delicada posição em que me deixam perante a minha classe tão bem representada neste concelho e que eu não posso exceder em dedicação, nem na competência, nem na operosidade, para ter direito a especial consagração pública. Isto quanto aos vivos; porque dos antigos, recordarei três nomes: o Dr. João Lopes de Morais, Dr. Joaquim Tavares Festas e Dr. Teixeira Gordo».

«O Dr. Lopes de Morais foi estrénuo lutador da ideologia liberal na agitada época de D. Maria II. Mas acima de tudo um abalizado clínico cuja fama chegou à capital. Foi o único médico provinciano que teve a honra de ser chamado para observar e tratar a rainha. O doutoramento honorário premiou a cura espectacular da régia enferma».

Logo aqui constatamos várias alusões que não são verdadeiras. Lopes de Morais não foi um médico provinciano que atingiu um doutoramento honorário. Antes pelo contrário, seguiu a carreira universitária que só foi interrompida por motivos políticos.

Uma junta expurgatória, criada pela carta régia de 5 de Dezembro de 1923, propôs a sua exclusão da Universidade em 21 de Junho de 1824, com a seguinte fundamentação:

« João Lopes de Moraes, opositor em medicina. Reconhecendo a pluralidade da juncta que este opositor é dos mais distinctos da sua faculdade, não poude resistir á fama das notícias, de que elle é tido por impio no districto de Mortagua, onde elle costuma residir; e por isso fez tirar informações por alguns membros da juncta, e viu que todas coincidiam com aquellas primeiras notícias , e acrescentavam factos demonstrativos das suas opiniões em assumptos religiosos.»
(Carvalho, Joaquim Martins de :“Apontamentos para a Historia Contemporanea”. Imprensa da Universidade. Coimbra 1868)

Esta exclusão não viria a acontecer, nessa altura, por entretanto ter sido publicada uma amnistia em 5 de Junho de 1824.
Em 1928, os docentes que defendiam ideias liberais foram demitidos da Universidade, encontrando-se entre eles Lopes de Morais.
Em Julho de 1834 foram exonerados os professores promovidos por D. Miguel, e readmitidos os lentes e opositores que a intolerância política tinha afastado da Universidade, e perseguido.
João Lopes de Morais é reintegrado como lente e passa a reger a cadeira de Aforismos.
Solicitou e obteve a jubilação em 1855.

Sobre as suas qualidades como clínico, escreve Bernardo Mirabeau:
«Já por então era o dr. João Lopes conhecido em quasi todo o reino como practico, de quem se contavam successos clínicos de muita felicidade. Os serviços médicos, que prestou em Almeida, augmentaram-lhe a reputação, e até lhe conciliaram as svmpathias dos adversarios políticos.»…..
«Gozou o dr. João Lopes de Moraes de subidos créditos como medico e professor. Aquella fronte saliente, que parecia comprimir e diflicultar a mobilidade dos olhos, revelava grande intelligencia e profunda reflexão. E de facto eram estas as faculdades que predominavam no dr. João Lopes, e que elle desinvolveu por meio de aturado estudo sobre os livros e de longa experiencia do mundo. Não deixou escriptos por onde os vindouros possam aquilatar o seu mérito scientifico, mas deixou no professorado um nome illustre e de tal reputação, que muitos o appellidaram o Hippocrates portuguez da nossa edade »

( Memoria historica e commemorativa da Faculdade de Medicina nos cem anos decorridos desde a reforma da Universidade em 1772 até o presente . Autor: Mirabeau, Bernardo Antonio Serra de, 1826-1903
Publicado por: Imprensa da Universidade . Coimbra 1872 )

 E sobre a raínha D. Maria II, nada encontramos.
Conseguimos encontrar uma história parecida no livro “Noticia dos Banhos do Luso” de A. A. da Costa Simões, editado pela imprensa da Universidade em 1859. Falando das águas do Luso, escreve:

« A descoberta das suas virtudes therapeuticas deve-se a um médico d’aquelles sítios, assistente na Lameira de S. Pedro, José António de Moraes, clínico distincto, que d’alli foi chamado ao Paço, e curou d’uma moléstia grave a Senhora D. Maria I, que o brindou com o habito de Christo, com o privilegio da casa Real, e com as honras de lente da Universidade.*
* Este facto é geralmente asseverado pelos contemporâneos e parentes d’este medico; mas nunca vi os documentos respectivos. Na Nobiliarchia Médica do sr. Francisco António Martins Bastos, também não vejo o nome d’este medico no catalogo dos facultativos que fizeram serviços à Senhora D. Maria I »

Assis e Santos  refere-se à prisão de João Lopes de Morais, com a falta de rigor a que nos vamos habituando:
«Um vai-vem da política da época, lançou-o num calabouço militar – a fortaleza de Almeida – onde permaneceu um ano. »

 
A realidade foi bastante diferente. Para a ilustrar, recorremos a um excerto de uma carta aos “Senhores Deputados da Nação Portuguesa”, escrita por Lopes de Morais:

«Tão lisonjeiras esperanças foram em 1826 engodadas com a Carta aonde os bons portuguezes bebião outras d’uma sabia e justa Legislação que segurasse a cada um seu Direito, tranquilisasse os bons e reprimisse os máos: porém o resultado foi em 1828, por seis anos consecutivos tragarem o caliz d’uma perseguição horrorosa sem mais motivo nem fim, do que destruir tudo o que cheirava a constitucional para impossibilitar a volta da Rainha e da Carta, que seus inimigos tanto temião como odiavam.  Por desgraça ou por fortuna todos provarão mais ou menos deste amargoso caliz, e o supplicante  foi culpado e prêso, e por muitas vezes roubado em sua casa, abandonada com dois tenros filhos, que teve a fortuna de ver depois de 4 para 5 annos de prisão, donde soube escapar-se com honra e com a coragem cívica, que não é fácil encontrar em situação tão arriscada. Excitados por desenlace tão contrario às suas esperanças d’acabar com o supplicante e receosos os seus primeiros e últimos perseguidores,  aliás públicos e encarniçados inimigos de todos os constitucionais, depois de toda a qualidade de danno e afronta, feita durante a usurpação á casa, pessoa e família do Supplicante tratarão então de assassinar o supplicante, convidando para isso um criado seu, com promessas de dinheiro e outras, e recorrendo na falta deste a soldados, que públicamente  roubárão de novo o Supplicante, cuja vigilância o salvou da morte, passando-se para o Porto com todo o custo e risco.»

Como podemos ver, Assis e Santos foi misericordioso e libertou Lopes de Morais ao fim de um ano…
Mas, entretanto, atribuiu-lhe uma descoberta terapêutica:

«Atacado de reumatismo desde então, lembrou-se de procurar alívio numa cura hidro-mineral. A água do Luso foi a escolhida. Mandou construir uma barraca à beira da fonte para uma série de banhos. Tão benéficos lhe pareceram que voltou ano após ano e passou a recomendar aos doentes igual tratamento. Dessas barracas dos doentes de Dr. Lopes de Morais, nasceu o primeiro balneário do Luso

 Voltamos ao que Costa Simões  sobre o mesmo assunto nos diz no livro “Noticia dos Banhos do Luso” :

« A descoberta das suas virtudes therapeuticas deve-se a um médico d’aquelles sítios, assistente na Lameira de S. Pedro, José António de Moraes, clínico distincto……
Foi este médico, que para alli encaminhou os primeiros doentes em 1775, pouco mais ou menos. Fez os primeiros ensaios nas moléstias cutâneas; e ainda há noticia d’uma Anna d’Anadia, então criada de servir em Aguim, a quem estes banhos fizeram desapparecer alguns tubérculos da face, dizem que filhos de elephantíase dos gregos.

Por aquelle tempo fez cobrir os banhos de ramagem em forma de barraca; e, pouco depois, mandou construir pelos seus criados a primeira barraca de madeira. Ainda em 1848 morreu em Luso, de noventa e tantos anos, um dos criados, Manuel Galvão, que ajudou a este serviço.
…..
Em 1838 a camara municipal da Mealhada, com os recursos de que podia dispor, substituiu as barracas de madeira por uma casa de alvenaria.

 Se as informações de Costa Simões são verdadeiras, já eram mandados doentes a banhos para o Luso, 59 anos antes de o Dr. Lopes de Morais sair da prisão de Almeida.

 E continua a veia de historiador de Assis e Santos:
«Contou-me o meu avô, que nessa época, aí por 1870, Luso era apenas uma aldeia de 6 moradores!»
Mais uma vez, Costa Simões vem contrariar o que acima foi dito:


 Já 11 anos antes o número de moradores era de 273. A menos que tenha havido uma catástrofe nesse intervalo de tempo, a informação  de Assis e Santos está muito distante da realidade.

 E o nosso historiador remata assim a sua dissertação sobre Lopes de Morais:

« O notável jornalista Emídio Navarro impulsionou o desenvolvimento do Luso que lhe patenteou o reconhecimento público.

Mas o percursor da importante estância termal, de turismo e de veraneio, que agora o Luso é, foi o médico mortaguense que descobriu o valor curativo daquela antiquíssima fonte.

Esforçado cidadão e abalizado clínico, ele bem mereceu o reconhecimento do seu concelho.»

Estamos completamente de acordo quanto ao reconhecimento devido ao cidadão, ao médico e ao Professor de Medicina da Universidade de Coimbra, João Lopes de Morais. Acreditamos, no entanto, que ele dispensaria de bom grado as considerações fantasiosas do Dr. Assis.

 Sobre o Dr. Joaquim Tavares Festas, diz-nos o Dr. Assis:

  «O Dr. Joaquim Tavares Festas, foi no primeiro quartel do século XX um clínico esclarecido que durante 20 anos fez clínica em tantas dessas aldeias dispersas pela nossa vasta serrania. De estirpe fidalga, de inteligência invulgar, de alma nobre, dedicou-se sem interesse material, em completa abnegação, ao exercício da clínica rural. Ainda encontrei reminiscências da sua benemerência e proficiência.
Uma iniciativa sua teve êxito e perdurou no futuro.
Muitos doentes de Mortágua têm procurado no Caramulo o alívio para os seus males.
Mas poucos saberão que foi um médico de Mortágua que descobriu o valor do clima do Caramulo para o tratamento das doenças pulmonares, que foi uma doente de Mortágua a primeira a experimentá-lo, e que foi um carpinteiro de Mortágua a construir a casa de madeira nas Paredes do Guardão, onde  essa primeira doente fez a primeira cura de altitude no Caramulo.
E que daí nasceu a importante vila sanatorial que hoje existe, ilustrada por especialistas de grande reputação como foi o Dr. Tapia, por exemplo.»

 Sem querer de algum modo por em causa as qualidades técnicas e humanas do Dr. Joaquim Tavares Festas, que sabemos ter sido um médico estimado pelos habitantes de Mortágua, e respeitado até pelos seus adversários políticos, as palavras de Assis e Santos suscitam-nos alguns comentários:

 1 – “estirpe fidalga” -  Não conhecemos nada que confirme a sua origem fidalga. Sabemos que foi um defensor e representante dos monárquicos em Mortágua, mas de origem fidalga só temos conhecimento da sua cunhada, esposa de António Tavares Festas.

2-“ sem interesse material “- Joaquim Tavares Festas, pelo menos até 1906, era “médico de partido” e recebia do município a quantia de 200 000 réis por ano. Não temos uma noção real do que representa esta quantia.
3 –“ foi um médico de Mortágua que descobriu o valor do clima do Caramulo para o tratamento das doenças pulmonares”
Não existindo nessa época, medicamentos com alguma eficácia para o tratamento da tuberculose, no final do sec. XVIII e início do sec. XIX, os médicos recorreram aos sanatórios marítimos para  tratar estes doentes.
Em 1832 Francisco de Assis da Souza Vaz, defendeu na sua tese que apresentou em Paris a superioridade do clima da Madeira para tratar a tuberculose por associar a influência do mar e a altitude.
Na  década de 1840, George Bodington defendeu a criação de sanatórios de montanha, que só veio a acontecer em 1854 com a abertura dos primeiros sanatórios pelo Dr. Hermann Brehmer na Silésia alemã (Gorbersdorf) e Peter Dettweiler em 1876 em Falkenstein (Alemanha).
Num prefácio às crónicas de Emídio Navarro, publicadas em 1884, sobre uma expedição científica à serra da Estrela, realizada  no ano anterior, o médico Sousa Martins abordou a questão do tratamento da tuberculose pelo clima montanhoso e a necessidade de se construir um sanatório de montanha.
De uma expedição anterior, em 1881, já tinha resultado a construção de um Observatório meteorológico, que em 1882  acomodou o primeiro doente, Alfredo César Rodrigues, amigo de Sousa Martins. Em seguida mandou construir uma residência própria, e dois anos depois declarou-se curado.
Ainda foram construídas algumas habitações de madeira, mas os doentes não tinham o apoio médico e logístico necessário.

O primeiro  sanatório de altitude viria a ser construído na cidade da Guarda. Os terrenos foram comprados em 1901, mas só foi concluído e inaugurado em 1907, com a presença da família real.
Como facilmente se percebe, Joaquim Tavares Festas não descobriu coisa nenhuma. Como médico bem informado das tendências terapêuticas do seu tempo, utilizou os meios de que dispunha para tentar tratar uma paciente que lhe era querida.

 4- foi uma doente de Mortágua a primeira a experimentá-lo. Na realidade a doente era a esposa de seu irmão, João Tavares Festas, que foi acometida pela terrível doença

5- a casa de madeira nas Paredes do Guardão …E que daí nasceu a importante vila sanatorial que hoje existe, ilustrada por especialistas de grande reputação como foi o Dr. Tapia, por exemplo.”.

A disponibilidade económica familiar permitiu que fosse construída uma casa de madeira nas Paredes de Guardão, à semelhança do que  existia na Suiça e onde a paciente pode aproveitar as vantagens da altitude. A família ainda hoje tem um serviço de louça com a imagem dessa casa de Guardão.

Em 1922, a Sociedade do Caramulo, constituída por Jerónimo Lacerda, construiu um Hotel que seria o início de uma estrutura que atingiria quase duas dezenas de sanatórios, dotada de todas as infra-estruturas necessárias ao seu bom funcionamento.
Se Jerónimo Lacerda se inspirou em Joaquim Tavares Festas, não o podemos afirmar nem negar.

Quanto ao Dr. Tápia, ilustre tisiologista espanhol, chegou a Portugal fugido da Guerra de Espanha e do ditador Franco.

 A descoberta  de medicamentos eficazes contra o bacilo da tuberculose, levou a que fosse abandonado tratamento nos sanatórios de montanha, que hoje se encontram abandonados.
A Estreptomicina foi descoberta em 1944, e a eficácia da Isoniazida só foi demonstrada em 1945, apesar de o medicamento já ser conhecido em 1912.

 
A dissertação do Dr Assis relativa aos médicos de Mortágua termina de modo deveras surpreendente:

 «O Dr. Teixeira Gordo foi uma personalidade bastante diferente. Distinguiu-se não pela clínica de aldeia, mas pela ascensão ao professorado universitário.
Uma obra importante ficou a assinalar a sua passagem pelo mundo – a estrada de Vila Moinhos, construída há cerca de 90 anos.
Talvez o lente da Universidade tivesse interesse pessoal na abertura dessa estrada, mas ficaram beneficiadas para sempre, as povoações do Reguengo e foi esse o ponto de partida para a estrada do Caramulo. Apenas uma fotografia recorda, na casa de Vila Moinhos que foi dele, a sua existência.»

Não conseguimos apurar se é verdadeira a sua influência na construção da referida estrada.
Mas ficamos com a certeza que o Dr. José Feliciano da Fonseca Teixeira Gordo  nunca foi médico.
Em 1915 “ Jose Feliciano da Fonseca Teixeira Gordo , filho de Manoel Gomes André , natural de Villa Moinhos , Comarca de Viseu” estava matriculado no quarto ano de Leis ** da Universidade de Coimbra, conforme consta da “ Relação e Indice Alfabético dos Estudantes Matriculados na Universidade de Coimbra no Anno Lectivo de 1815 para 1816”.
** A Faculdade de Leis existiu até 1836. Em 5 de Dezembro de 1836, foi publicado um Decreto que fundiu na Faculdade de Direito as faculdades de Cânones e de Leis.

Consultamos o livro MEMORIA PROFESSORUM UNIVERSITATIS CONIMBRICENSIS , 1772-1937, VOL.II. Direcção: Manuel Augusto Rodrigues.  Arquivo da Universidade de Coimbra. Coimbra 1992, que nos informou:
“GORDO, José Feliciano da Fonseca Teixeira

Naturalidade – Vila Meã (Sobral, Mortágua), 26.8.1793 – Coimbra, 14.11.1867.

Filiação – Manuel André e Maria Rodrigues da Fonseca.

Matrículas – 31.12.1812

Graus – Bacharel, 11.6.1816. Licenciado, 26.6.1818, Doutor, 12.7.1818

Cadeiras – História do Direito Romano e Pátrio (1830-1834), 2º substituto.

Observações – Abandonou a Universidade em 1834, por não querer aceitar o regime liberal.”

Quanto a este abandono da Universidade, José Adelino Maltez, dá-nos uma achega em texto intitulado Saneamento de Professores, publicado  em maltez.info/aaanetnovabiografia/Conceitos/Saneamento%20de%20Professores.htm

“……Em 15 de Julho de 1834 eram demitidos inúmeros doutores em direito: Alexandre Dias Pessoa, Bernardo José de Carvalho, António Caetano de Sousa Faria Lobo Girão, Miguel Gomes Soares, Cândido Rodrigues Alves de Figueiredo e Lima, José Pedro Moniz de Figueiredo, António Vasconcelos e Sousa, José Maria de Lima e Lemos, José Lopes Galvão, Joaquim José Pais da Silva, José Feliciano da Fonseca Teixeira*, Francisco Lebre de Vasconcelos, Joaquim Maria Taborda Falcão Tavares.

Por decreto do dia anterior nomeiam-se Basílio Alberto de Sousa Pinto, Manuel António Coelho da Rocha, José Machado de Abreu, Francisco Maria Tavares de Carvalho, Frederico de Azevedo Faro Noronha e Meneses, António Nunes de Carvalho.

Os pedristas demitem os miguelistas, tal como antes os apostólicos haviam demitido os liberais. …. “

*O autor, provavelmente de modo involuntário, omitiu o sobrenome Gordo.

Pelo que nos diz José Adelino Maltez, o abandono não foi propriamente voluntário.

 Nota: Encontramos uma discrepância nos livros que citamos quanto ao local de nascimento do Dr. Teixeira Gordo, ora Vila Moinhos, ora Vila Meã, que ainda não tivemos oportunidade de esclarecer.

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