sábado, 2 de julho de 2016


A primeira conferência do

Centro Democrático de Educação Popular

 

Basílio Lopes Pereira empenhou-se, desde muito novo, na difusão dos ideais da República e participou de todas as iniciativas que se desenvolveram em Mortágua, e em particular na Marmeleira. Fundou o Jornal “Sol Nascente” e participou desde o início na formação  do Centro Democrático de Educação Popular. Ele próprio secretariou a reunião que decidiu a criação dessa associação.
O primeiro número do “Sol Nascente”, designado por número único, foi publicado em 5 de Outubro de 1912, no 2º aniversário da implantação da República.

No entanto, a primeira conferência do Centro Democrático de Educação Popular, só teria lugar a 9 de Fevereiro de 1913,  e transcreveremos a notícia sobre o acontecimento, publicada no jornal Sul da Beira de  13/02/1913
Centro D. de Educação Popular da Marmeleira
A SUA PRIMEIRA CONFERÊNCIA

Meia dúzia de denodados rapazes da Marmeleira, sobre os quais citaremos os nomes dos nossos ilustres amigos Antonio Pereira de Sousa, Bazílio Lopes Pereira, distintíssimo aluno do 7º ano do liceu, João Pereira de Souza Mello Baptista dos Reis, José de Matos e David Araujo, no intuito mil vezes louvável de levantar a sua terra ao nível a que tem jus, prosseguem no simpático e patriótico programa de fomentar o seu progresso material e moral.
Fundaram ali uma Biblioteca popular, a que deram o nome de «Centro D. de Educação Popular», promovendo uma serie de conferencias educativas.

A primeira d’essa serie realisou-se, como tínhamos anunciado, no passado domingo, 9 do corrente.
Foi conferente o distinto académico da Universidade de Coimbra, sr. António Campos de Carvalho, cuja conferencia versou sobre o têma «Educação».
A sala estava repleta, vendo-se numerosa representação do elemento feminino, que dava à sala um particular realce.
A Camara Municipal achava-se representada pelo seu vereador o nosso prestimosíssimo amigo sr. Joaquim Lopes Pereira.

Achavam-se também representadas as Juntas de Paroquia das freguesias da Marmeleira, Cercosa e Cortegaça, bem como se achavam também representadas as escolas de Marmeleira, Cerdeira, Cercosa, Tresoi, Mortagua e Sobral, pelos respectivos professores, sr. David Araujo, D. Antonia de Jesus Maria Durão, D. Elisa de Souza Navarro, D. Filomena Bemvinda Gonçalves e Acacio Henriques dos Santos à excepção da do Sobral que estava representada pelo nosso colega Antonio José Gonçalves, que representava também o Sul da Beira. Foram recebidas também as adesões dos srs. Joaquim dos Santos e Francisco dos Santos Lima, dignos professores de Vale de Remígio e Carvalho (Penacova).
Pouco depois da hora marcada o nosso ilustre amigo, Basilio Lopes Pereira sobe ao palco aonde expõe eloquentemente os motivos daquela conferencia, faz a apresentação do ilustre conferente e convida para a presidencia o nosso prezado amigo, sr. Martins e Abreu, cuja escolha foi sublinhada com uma estridente salva de palmas.
O sr. Martins e Abreu agradece a honra que lhe acabavam de conferir e nomeia para secretários os srs. David Duarte Araujo e Germano Simões de Jesus e Cunha, que a assistência sancionou com novos aplausos.

O conferente, que a assembleia acolheu com uma entusiástica salva de palmas, disserta longa e brilhantemente sobre o assunto que lhe servia de tema, aonde mostrou as suas raras qualidades de talento, dotes de um trabalhador incansável e uma soma de conhecimentos invejável. A sua bela conferencia, soberbamente burilada, cujo extracto nos é impossível dar agora aos nossos leitores, mas que num dos próximos números faremos, arrebatou por vezes a assembleia que constantemente coroava com estrondosas salvas de palmas as passagens mais felizes.
Ao terminar, foi delirantemente ovacionado e abraçado por grande numero dos assistentes.
Usa em seguida da palavra o sr. Martins e Abreu. Começa por saudar o ilustre conferente, que foi muito alem do que ele esperava.
Há coisa para que não tem habilidade, diz Martins e Abreu – Andar de biciclete e fazer discursos.
No entanto, n’aquela linguagem que só Martins e Abreu sabe empregar e que todos compreendem, explicou o que é uma biblioteca e os fins a que visava. Foi também intensamente aplaudido.

O sr. David Araujo, oferece ao Centro os seus préstimos, como professor, prestando-se a lecionar, á noite, alguns adultos que d’isso careçam.
Ato contínuo, organisa-se um cortejo, com os alunos d’aquela escola á frente, um dos quais empunhava a sua bandeira, em direcção ao Adro de Santa Rita, onde se realizou a

FESTA DA ARVORE
a primeira que n’este género se realisa no concelho.

Chegados áquele local, procedeu-se á cerimonia da plantação da arvore, usando da palavra o sr. Martins e Abreu que, numa bela alocução, fez ver, d’uma forma bem frizante, o papel que a arvore desempenha na natureza, em relação ás chuvas. Foi muito aplaudido.

Em seguida é instado a falar o nosso bom amigo sr. dr. Aureliano Maia que, depois de fazer algumas considerações á alocução do sr. Martins e Abreu, lamenta o ter chegado um pouco tarde, de forma a não assistir à conferência,  da qual ouviu as mais cativantes referências e cujo conferente desejaria felicitar. Este foi-lhe então apresentado pelo sr. Martins e Abreu, e a quem o sr. dr. Aureliano Maia felicitou afetuosamente.

Por último, o sr. Nuno Cruz, distinto aluno do 2º ano da Universidade, lê uma brilhante alocução alusiva à árvore e assim deixamos os nossos amigos embebidos  na sua Festa, tão simpática  como altruista, porque os nossos afazeres nos não permitiram que por mais tempo nos demorássemos.

Fazendo os mais ardentes votos para que a sua instituição seja coroada do melhor êxito, daqui saudamos calorosamente o povo da Marmeleira, saudações estas que vão acompanhadas dum sincero

Viva a Marmeleira! “

Ficamos curiosos sobre dois dos principais palestrantes de quem nunca tínhamos ouvimos falar. O primeiro deles, António Martins de Campos de Carvalho, sabíamos que era aluno da Universidade de Coimbra. Pelos registos da Universidade, confirmamos que era aluno do 2º ano de Direito da Universidade de Coimbra, mas constatamos que não era natural do concelho, mas sim de Fafe, no Distrito de Braga, e que era filho de Abel Vieira de Campos de Carvalho.

Durante algum tempo não conseguimos mais informações. Recentemente, numa página da Internet chamada “MY HERITAGE”,  ficamos a saber que terá seguido a carreira militar, atingindo o posto de Brigadeiro, e que faleceu em Angola em 1918.

Na mesma página, encontramos também uma fotografia  sua que aqui publicamos.

O outro palestrante, Nuno Cerqueira Machado Cruz,  era também aluno do 2º ano de Direito da Universidade de Coimbra, natural de Ponte da Barca, distrito de Viana do Castelo, filho de Alberto Carlos Cruz.
Também viria a seguir a carreira militar e a tornar-se uma figura central do Reviralho, nome dado à resistência à ditadura militar e ao Estado Novo, entre 1926 e 1940, especialmente até 1931. Era também irmão da segunda mulher de Basílio Lopes Pereira.

 
Sendo uma personagem de grande interesse,  e com uma ligação muito próxima com a Marmeleira, voltaremos aqui com outras mensagens dedicadas ao Capitão Nuno Cruz.


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