sábado, 10 de junho de 2017


ESCOLA LIVRE DE MORTÁGUA

TAÇA PORTUGAL- AMÉRICA

A Escola Livre de Mortágua foi criada em 9 de abril de 1919. Segundo os seus promotores não tinha objectivos políticos, pretendendo com a sua biblioteca, actividades desportivas,  conferências, etc., desenvolver a cultura, a educação física, e a formação moral e cívica da população. Levaram a cabo palestras com Lopes de Oliveira, Tomás da Fonseca e outros convidados ilustres , tiveram um grupo musical dirigido por António Ferreira Afonso, uma Secção de “Arte de representar”, abriram cursos dos três primeiros anos liceais, aulas práticas de Contabilidade e Escrituração comercial, entre outras iniciativas

Ao que tudo leva a acreditar, em 1927, a sua existência estaria práticamente resumida às actividades desportivas, em particular ao futebol, ao ciclismo e ao tiro de guerra civil. Em 1927, apesar da instauração da Ditadura Militar, foi tentada uma reorganização, em articulação com Escola Livre de Azeméis, no sentido de revitalizar as suas realizações e ampliar o seu campo de acção. Para isso contou com a colaboração de muita gente, que se dispunha a dinamizar a Escola Livre com o especial cuidado de manter neutralidade política e religiosa.

Em 24.04.1927 o jornal Correio de Mortágua anunciava :
 
“ Uma reorganização e um passeio.Vai ressurgir a Escola-Livre de Mortagua

A Escola – Livre de Mortágua vai ressurgir – tudo nos levando a crer que agora mais forte do que nunca.
Em boa verdade, não fazia sentido que Mortágua, a quem coube a honra de iniciar este movimento que agora se nota em prol das Escolas-Livres – continuadores do ensino recebido na escola primária -,tão desinteressada dele se mostrasse e permitisse que a sua Escola-Livre vivesse apenas pela Secção de Educação Física.
Ainda bem, portanto, que alguns devotados amigos da Escola-Livre e de Mortágua, se decidiram a reorganizá-la, colocando-a no lugar que lhe compete e insuflando-lhe vida para que ela possa atingir a sua finalidade: a cultura física, intelectual e moral do povo.
A comissão reorganizadora reuniu-se há dias pela primeira vez e muito nos apraz registar a boa vontade que a todos anima e que, por certo, há-de produzir magníficos resultados. Ficou assente que os trabalhos da Escola se iniciassem desde já, com a distribuição seguinte de cargos:
Direcção: - Presidente, Dr. Aníbal Dias;
Vice-presidente, Augusto Lobo;
Secretario das actas, Dr. João Mamede;
Secretario de contabilidade, tenente Zeferino Barbosa;
Tesoureiro, Acácio Ferreira de Matos;
Director da Biblioteca (interino), Dr. João Mamede;
Secção de Estudos Gerais, Director, Dr. João Mamede;
Secção de Escotismo, Director, Joaquim Oliveira;
Secção de Agricultura, Director, Augusto Lobo;
Secção de música e teatro, Director, Dr. Anibal Dias;
Secção de Educação Física, Director, tenente Zeferino Barbosa;
Secção de Higiene, Director, Dr. Manuel Afonso;
Secção de tiro, Director, António José Gonçalves;
Secção de Educação social, Director (interino). Dr. Aníbal Dias;
Secção de Filantropia, Director, Duarte Portugal e
Secção de Propaganda, Director, Dr. Mário Gomes da Silva

Foi resolvido convidar o Dr. Bento Carqueja, ilustre director do «Comercio do Porto», a vir, em breve, realizar a esta vila uma conferencia.
Resolveu-se mais que a Escola-Livre de Mortágua se faça representar no passeio de estudo a Coimbra, que a Escola-Livre de Azeméis promove em 16 de Julho próximo, dia santo.
Este passeio projectado para o ano findo, não pode realizar-se por motivo do movimento revolucionário de 28 de Maio……..”

Logo a seguir, a Escola sentiu a necessidade de vir a público com um esclarecimento:
“Comunicado da Escola Livre de Mortágua
Para evitar que de futuro surjam erróneas interpretações, acha a Escola Livre de Mortágua conveniente, necessário mesmo, definir mais uma vez , e esta por todas, os fins que, consciente da sua missão, se propõe atingir…

A Escola Livre de Mortágua é profundamente neutra em matéria politica e religiosa, e, portanto, não atacará nem defenderá nenhum sistema politico, nenhuma atitude religiosa ou ateísta, mas antes, e acima de tudo, procurará, pela Doutrinação moral e intelectual, fazer surgir homens livres,  com o espirito esclarecido e alma sã, conscientes dos deveres que têm a cumprir para com os seus semelhantes.
Serão esses homens livres possuidores dum estado moral e intelectual que lhes permita, nas contingências da vida, seguir aqueles sistemas políticos, aquelas atitudes religiosas ou ateístas que lhes pareçam, por convicção e amor da humanidade, os mais próprios para uma vida melhor.
Assim o homem livre será republicano ou monárquico, crente ou ateu, conforme o que lhe ditarem a sua inteligência e o seu coração, aperfeiçoados pelos ensinamentos da Escola Livre, e não porque esta, por sugestões interessadas, para essas atitudes os encaminhe.
Esta neutralidade, que será mantida com todo o rigor, não implica, de forma alguma, a imposição aos escolares do abandono das suas atitudes politicas, religiosas ou ateístas, que eles continuarão, enquanto a sua convicção não mudar, a defender, como próprio é de gente de bem.
Ninguém poderá, portanto, responsabilizar a Escola Livre pelas apreciações que a qualquer facto seja feita pelos escolares, não  no exercício da actividade que lhes incumbe, mas como simples espectadores, e no uso legítimo do seu direito de cidadãos.
Quem quer que surpreenda na actividade da Escola Livre, pelas suas diferentes secções, a mínima sombra de parcialidade, prestará um serviço a si mesmo e aos ideais que procura defender, se a der a conhecer ao Ex.º Sr. Presidente, ou ao Director da respectiva secção, e, para tanto, apontará factos concretos que, facilmente verificáveis por toda a gente, terão mais valor que as acusações vagas, imprecisas.
Mortágua, 31 de Maio de 1927
O Director da Secção dos Estudos Gerais
João Pais de Carvalho Mamede “

Com maiores ou menores limitações A Escola Livre foi-se mantendo até 1937, ano em que acabou completamente a sua existência.

O jornal Os Sports, em  27 de Setembro de 1937  noticiou:
“MORTÁGUA
A situação da Escola Livre , Setembro, 21
– Nada se sabe ainda quanto ao futuro da Escola Livre de Mortágua, o clube mais popular da região e conhecido em todo o centro do País.
Encerrada a sua sede pelas autoridades – incidente que se verificou devido a informações tendenciosas, que pessoas de evidência no meio, procuram esclarecer – não pode calcular-se se o clube terá que ser dissolvido, ou se poderá seguir o caminho que brilhantemente percorre há 18 anos.
Com larguíssima folha de serviços à causa desportiva, organizador e de provas importantes no desporto nacional, como o Mortágua- Viseu – Mortágua em ciclismo, disputados anos seguidos, nos tempos heróicos do pedal, como as Taças “Portugal -América” e “Maria Cristina” em tiro, que trouxeram a Mortágua a fina flor dos atiradores portugueses; praticando football, atletismo, ciclismo, basquet, tiro, etc, contando campeões regionais em alguns desportos, e chegando mesmo a ter um seu associado campeão de Portugal em tiro, não é sem mágoa que os mortaguenses, decerto acompanhados pelos inúmeros clubes e desportistas com ele relacionados, verão desaparecer o velho clube preto e branco.”

O seu sector desportivo foi autorizado a continuar desde que mudasse de nome. Daí nasceu o Mortágua Futebol Clube.  Permaneceu vivo o futebol, mas as outras modalidades desportivas deixaram de existir.
Há dias tivemos acesso à fotografia do troféu Taça Portugal- América, que o tenente Zeferino Barbosa ofereceu ao Sr. Arnaldo Lourenço, um dos atiradores afamados da Escola Livre de Mortágua.

Inscrição no Troféu;
PORTUGAL-AMÉRICA
OFERECE
À CARREIRA DE TIRO CIVIL
MOCIDADE DE MORTÁGUA
U.S.A.

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