segunda-feira, 23 de agosto de 2021

 

Mosteiro de Tresói

Deixamos aqui a transcrição de um texto referente à origem da povoação de Tresói, que consta do livro Jardim de Portugal, publicado em 1626. Tentamos manter o texto original, procurando que seja compreensível.

JARDIM DE PORTUGAL
Em que se dá notícia de algumas Santas, e outras mulheres ilustres em virtude, as quais nasceram, ou viveram, ou estão sepultadas neste Reino, e suas conquistas.

Recompilado novamente de vários, e graves autores, pelo Padre Doutor Frei Luís dos Anjos Religioso, e Cronista da Ordem de nosso Padre Santo Agostinho, natural da Cidade do Porto.

Contém boa lição para mulheres, exemplos para Pregadores, motivos para devotos, e para os amigos de histórias muito antigas e modernas.

Nicolao Carvalho, impressor d’el Rei. Coimbra, 1626

(Pg 155- 158)

58- Dona Sancha Virgem, pertence a Coimbra

Foi filha do Conde Dom Reimão de borgonha, 6a de sua mulher Dona Urraca, os quais governaram este Reino de Portugal, antes de ser dado ao Conde dom Henrique, pai d’el-rei Dom Afonso Henriques: como logo constar ade uma doação que fizeram á Sé de Coimbra.

Fazem menção desta mui ilustre serva de Deus certas memórias do real mosteiro de santa Cruz da mesma cidade, nesta forma: Dona Urraca foi casada com o Conde Dom Romão e houveram uma filha por nome Dona Sancha, a qual amando a virgindade nunca quis casar, e foi-se a Jerusalém em Romaria, e estando no hospital do templo, servindo os pobres com caridade, o Senhor lhe quis fazer tão alta mercê, que lhe deu fogo novo em sua lâmpada, em dia do Espírito Santo, e ficou alumiada pelas mão dos anjos. É necessário para maior declaração deste milagre, saber que os Cristãos em Jerusalém celebravam a mercê que nosso Senhor lhes tinha feito do sacramento do Batismo, que nos tempos antigos não se dava solene e geralmente, senão na véspera de Páscoa, e do Pentecostes; e assim eram estas vigílias muito solenizadas com lumes  significadores do lume da fé que recebemos pelo Batismo: por  esta  devoção vinham muitos com suas lâmpadas ou círios à igreja, onde se faziam ordinariamente  pregações em louvor do santo batismo, das quais estão algumas entre as de São Cirilo Jerosolimitano, e são chamadas dos santos lumes, e o mesmo titulo tem a que é trinta e nove  entre as de São Gregório Nazianzeno; não por respeito do batismo de Cristo senhor nosso, que se celebrava também com lumes, o que nota Baronio no Martirológio Romano, nem por respeito da festa de Nossa Senhora das Candeias, o que disse Bilio nas notas a São Gregório Naziazeno; senão por respeito dos lumes, com que os fiéis celebram o benefício do batismo, que nosso Senhor lhes fez nesta vida, como se colhe em algum modo das mesmas homilias, e claramente o escreve Dom José Vicente no livro que fez das cerimónias do batismo: esta devoção de celebrar um Cristão o dia do seu nascimento na igreja, é de grande mérito diante de Deus, que a confirmou com este notável milagre de se acender a lâmpada por ministério dos anjos enterrassem a virgem Dona Sancha, que contamos entre as nossas Portuguesas; por quanto seu pai, e mãe governaram nosso Portugal, e é muito possível, que a houvessem e criassem em Coimbra, onde achamos memória dela, e como deram à santa Sé da mesma cidade aquela doação da Vacariça, sendo Bispo Dom Crescónio, a qual está no arquivo da mesma Sé, com estas palavras: Em tempo deste Prelado governou o Reino de Portugal Dom Reimão Conde de Borgonha, irmão de Guido Arcebispo de Viena, que depois foi Arcebispo de Compostela, e Papa chamado Calisto, e com ele casou el Rei dom Afonso sua filha primogénita herdeira dos Reinos de Castela, e lhe deu o governo dos Reinos de Portugal, e Galiza, que teve muitos anos, o qual no tempo deste prelado Dom Crescónio, fez a doação à Sé de um Mosteiro de Frades que estava na Vacariça, da invocação de São Salvador, e São Vicente, e seus sócios Mártires, o qual tinha muitas igrejas, e outros mosteiros sufragâneos que estavam debaixo da sua obediência, como era um Mosteiro em Trasoy, e o Mosteiro de Lamedo, outro em Soule, e outro em Roças, outro em Leça, outro em Sever, da invocação de Santo André: e destes Mosteiros agora não há nenhuma memória. Era também deste Mosteiro da Vacariça a igreja de São Salvador desta cidade: tinha muitas vilas, e lugares muito ricos, como eram a vila de Monsarros, em que estava a igreja de São Cucufate, Sangalhos, Barrô, Morangos, Tamengos, Arsa, Aguira, Ventosa, Antes, Alfafar, Murtede, Freixenedo, Vimieira, Canelas, Luso, Castelãos, Ílhavo, e Recardães, Nespereira, Carvalhais, Seixazelo, Negrelos, Tarouquela, Ferariolos, Vilacide, Quintanela, salgueiro, Ricaredo, Crestelo, Aveiro: e no Bispado do Porto tinha a vila de Vilpilhares, Vilacide junto das terras de Santa Maria, os Casais, e terras de Sever, as vilas de Pedroso e Escapães, e a vila de Leça com sua foz. Eis aqui quão rico era antigamente o Mosteiro da Vacariça, de que fiz tão grande menção por duas causas, a principal porque a deu à Sé de Coimbra o pai da virgem Dona Sancha tão amiga dos pobres, que os foi servir ao hospital de Jerusalém, e tão excelente na fé, que viu milagrosamente acesa a lâmpada, com que a testificou entre muitos outros fiéis. A outra, por quanto agora este Mosteiro da Vacariça é um Priorado muito nobre, o qual pertence a este Real Colégio de Nossa Senhora da Graça de Coimbra, por benefício di ilustríssimo Bispo dela Dom João Soarez Religioso daa Ordem de nosso Padre Santo Agostinho, que no-lo deu com algumas obrigações, e neste mesmo Colégio fiz este jardim, para glória de Deus nosso senhor, que seja sempre louvado. Amen

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