terça-feira, 2 de maio de 2017


António Gomes Lourenço (1709-1800)

Cirurgião e lente de Cirurgia

António Gomes Lourenço, foi na sua época uma figura maior da medicina em Portugal, alcançando a posição cimeira da Cirurgia, no Hospital Real de Todos os Santos ( mais tarde chamado de Hospital de S. José), e a nomeação como lente de Cirurgia.
Gomes Lourenço antecedeu outro vulto grande da Medicina, João Lopes de Morais, também nascido no concelho de Mortágua, e que viria a ser lente da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, mais de meio século depois. Talvez por isso, ou porque do ponto de vista das suas opções político-religiosas (era oficial do Santo Ofício e cavaleiro da Ordem de Cristo),  fosse o oposto de João Lopes de Morais ( lutador pelas ideias liberais), ou porque a sua actividade se desenvolveu mais longe de Mortágua, nunca foi homenageado, nem lembrado, pelos seus conterrâneos.
Esse esquecimento é um tanto ou quanto injusto, porque teve certamente merecimento para ser digno do reconhecimento, e orgulho dos Mortaguenses.
Sobre ele diz-nos Maximiano Lemos no seu livro História da Medicina em Portugal:
«António Gomes Lourenço nasceu em Abril de 1709, no lugar de Monte de Lobos, freguesia de S. Gens de Pala, termo de Mortágua. Foram seus pais Marcos Gomes e Maria Gomes, moradores remediados daquele lugar. Aos vinte e cinco anos, e portanto em 1734, matriculava-se no Hospital Real de Todos os Santos, seguindo as lições de Bernardo Santucci, que no ano seguinte lhe passava a respectiva certidão, e em 1739 era-lhe dada a carta de habilitação. Já como estudante servia como cirurgião das visitas da Misericórdia, e em 1747 era nomeado para substituir Santos de Torres, no lugar de cirurgião dos feridos, do Hospital Real de Todos os Santos, alcançando nomeação definitiva em 29 de abril de 1750.
Em 1753 era familiar do Santo Ofício; recebeu em 1764 o hábito de Cristo, com a tença de 20. 000 reis anuais, o que foi confirmado em 13 de agosto de 1765. No exercício do magistério e da sua grande clínica, consumiu a vida que foi longa, visto que deve ter falecido em 1800, na idade de 91 anos.
Devem-se a Gomes Lourenço varias obras de cirurgia que a seu tempo serão apreciadas. N’algumas encontram-se noções anatómicas que convém examinar. »

Diogo Barbosa Machado na Bibliotheca Lusitana, Histórica, Critica , e Chronológica, relata:  « Aplicou-se ao estudo da Cirurgia, e Anatomia, em que saiu tão perito, que mereceu ser Catedrático destas Faculdades no Hospital Real de todos os Santos de Lisboa. »
Alfredo Luiz Lopes, no livro  O Hospital de Todos os Santos, hoje denominado de S. José,  informa-nos que Gomes Lourenço:
« Escreveu e publicou os seguintes  livros:
- Arte Phlebotomanica (1741)
- Breve Exame de sangradores (1746)
- Cirurgia clássica lusitana, anatómica, farmacêutica e medica (1754)
- Da exostosis e carie dos ossos, espina bífida, anquilose, etc. (1772)»

Do seu livro a Cirurgia clássica, diz Maximiano Lemos:
« É um manual escrito segundo os moldes do livro de António Ferreira, mas sem os desenvolvimentos que ele tem, As qualidades a que deve satisfazer uma obra nestas condições, clareza, precisão e sobriedade, tem-nas em grau elevado. Avulta mais a grande parcimónia de formas complicadas e asquerosas de que já temos citado numerosos exemplos. Em geral, os medicamentos aconselhados são ainda hoje empregados com proveito, e as indicações formuladas com exactidão. A maior parte dos escritores da época acumulavam, a propósito de cada entidade mórbida, numerosas observações que nada tinham de interessante. Gomes Lourenço, com uma modéstia pouco vulgar, limita-se a dizer por vezes que praticou outra ou aquela operação com bom resultado. Quando muito duas ou três linhas servem na maioria dos casos para dar conta dos factos mais importantes. ( …)
Estas qualidades tornam o livro bastante apreciável, e  não será preciso, para fortalecer a nossa opinião, mais do que recordar o nome do ilustre cirurgião português António d’Almeida, que tinha em verdadeiro apreço o livro do seu predecessor.»

E ainda, sobre outros livros:

«A todos sobreleva, pela clareza da exposição e pelo conhecimento que o seu autor tinha da circulação do sangue a “Arte Phlebotomanica” de Gomes Lourenço, e o seu resumo “Breve exame de sangradores”.»

Aqui deixo estas notas, que espero contribuam para melhor conhecermos um Mortaguense que prestigiou a sua terra, embora distante dela.

Bibliografia:

LEMOS, Maximiano: Historia da Medicina em Portugal, Volume I; Manoel Gomes, editor, Lisboa 1899
LOPES, Alfredo Luiz : O Hospital de Todos os Santos, hoje denominado de S. José; Imprensa Nacional, Lisboa 1890
LOURENÇO, António Gomes: Arte phlebotomanica, anatomica, medica, e cirurgica, para os sangradores e mais professores; Officina de Pedro Ferreira. Lisboa Occidental 1741
LOURENÇO, António Gomes: Breve exame de sangradores extrahido da Arte Phlebotomanica; Officina de Pedro Ferreira. Lisboa 1746
LOURENÇO, António Gomes: Cirurgia classica lusitana, anatomica, pharmaceutica, medica. A mais moderna; Officina de Bernardo Antonio de Oliveira , Lisboa 1754; Offic. de Antonio Rodrigues Galhardo, Lisboa 1769
LOURENÇO, António Gomes: Dissertação pratica do exostose e da carie dos ossos; offic. de Antonio Rodrigues Galhardo, Lisboa 1772
LOURENÇO, António Gomes: Cirurgia classica lusitana, anatomica, pharmaceutica, medica. A mais moderna, segunda parte; Officina de Simão Thaddeo Ferreira, Lisboa 1794
MACHADO, Diogo Barbosa: Bibliotheca Lusitana, Histórica, Critica , e Chronológica, Tomo IV; Oficina Patriarcal de Francisco Luiz Ameno. Lisboa, 1759
MATTOS, Manoel de Sá: Bibliotheca Elementar Cirurgico- Anatomica ou Compêndio Historico- Crítico e Chronológico; Officina de Antonio Alvarez Ribeiro, Porto 1788

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