António Gomes Lourenço (1709-1800)
Cirurgião
e lente de Cirurgia
António
Gomes Lourenço, foi na sua época uma figura maior da medicina em Portugal,
alcançando a posição cimeira da Cirurgia, no Hospital Real de Todos os Santos (
mais tarde chamado de Hospital de S. José), e a nomeação como lente de
Cirurgia.
Gomes
Lourenço antecedeu outro vulto grande da Medicina, João Lopes de Morais, também
nascido no concelho de Mortágua, e que viria a ser lente da Faculdade de
Medicina da Universidade de Coimbra, mais de meio século depois. Talvez por
isso, ou porque do ponto de vista das suas opções político-religiosas (era
oficial do Santo Ofício e cavaleiro da Ordem de Cristo), fosse o oposto de João Lopes de Morais (
lutador pelas ideias liberais), ou porque a sua actividade se desenvolveu mais
longe de Mortágua, nunca foi homenageado, nem lembrado, pelos seus conterrâneos.
Esse
esquecimento é um tanto ou quanto injusto, porque teve certamente merecimento
para ser digno do reconhecimento, e orgulho dos Mortaguenses.
Sobre
ele diz-nos Maximiano Lemos no seu livro História
da Medicina em Portugal:
«António Gomes Lourenço nasceu
em Abril de 1709, no lugar de Monte de Lobos, freguesia de S. Gens de Pala, termo
de Mortágua. Foram seus pais Marcos Gomes e Maria Gomes, moradores remediados
daquele lugar. Aos vinte e cinco anos, e portanto em 1734, matriculava-se no
Hospital Real de Todos os Santos, seguindo as lições de Bernardo Santucci, que
no ano seguinte lhe passava a respectiva certidão, e em 1739 era-lhe dada a
carta de habilitação. Já como estudante servia como cirurgião das visitas da
Misericórdia, e em 1747 era nomeado para substituir Santos de Torres, no lugar
de cirurgião dos feridos, do Hospital Real de Todos os Santos, alcançando
nomeação definitiva em 29 de abril de 1750.
Em 1753 era
familiar do Santo Ofício; recebeu em 1764 o hábito de Cristo, com a tença de 20.
000 reis anuais, o que foi confirmado em 13 de agosto de 1765. No exercício do
magistério e da sua grande clínica, consumiu a vida que foi longa, visto que
deve ter falecido em 1800, na idade de 91 anos.
Devem-se a
Gomes Lourenço varias obras de cirurgia que a seu tempo serão apreciadas.
N’algumas encontram-se noções anatómicas que convém examinar. »
Diogo
Barbosa Machado na Bibliotheca Lusitana,
Histórica, Critica , e Chronológica, relata: « Aplicou-se ao estudo da Cirurgia, e Anatomia, em que saiu tão perito,
que mereceu ser Catedrático destas Faculdades no Hospital Real de todos os
Santos de Lisboa. »
Alfredo
Luiz Lopes, no livro O Hospital
de Todos os Santos, hoje denominado de S. José, informa-nos que Gomes Lourenço:
«
Escreveu e publicou os seguintes livros:
- Arte
Phlebotomanica (1741)
- Breve
Exame de sangradores (1746)
- Cirurgia
clássica lusitana, anatómica, farmacêutica e medica (1754)
- Da
exostosis e carie dos ossos, espina bífida, anquilose, etc. (1772)»
Do
seu livro a Cirurgia clássica, diz
Maximiano Lemos:
«
É um manual escrito segundo os moldes do
livro de António Ferreira, mas sem os desenvolvimentos que ele tem, As
qualidades a que deve satisfazer uma obra nestas condições, clareza, precisão e
sobriedade, tem-nas em grau elevado. Avulta mais a grande parcimónia de formas
complicadas e asquerosas de que já temos citado numerosos exemplos. Em geral,
os medicamentos aconselhados são ainda hoje empregados com proveito, e as
indicações formuladas com exactidão. A maior parte dos escritores da época
acumulavam, a propósito de cada entidade mórbida, numerosas observações que
nada tinham de interessante. Gomes Lourenço, com uma modéstia pouco vulgar,
limita-se a dizer por vezes que praticou outra ou aquela operação com bom
resultado. Quando muito duas ou três linhas servem na maioria dos casos para
dar conta dos factos mais importantes. ( …)
Estas
qualidades tornam o livro bastante apreciável, e não será preciso, para fortalecer a nossa
opinião, mais do que recordar o nome do ilustre cirurgião português António
d’Almeida, que tinha em verdadeiro apreço o livro do seu predecessor.»
E
ainda, sobre outros livros:
«A todos sobreleva, pela clareza da exposição
e pelo conhecimento que o seu autor tinha da circulação do sangue a “Arte
Phlebotomanica” de Gomes Lourenço, e o seu resumo “Breve exame de sangradores”.»
Aqui
deixo estas notas, que espero contribuam para melhor conhecermos um Mortaguense que
prestigiou a sua terra, embora distante dela.
Bibliografia:
LEMOS, Maximiano:
Historia da Medicina em Portugal,
Volume I; Manoel Gomes, editor, Lisboa 1899
LOPES, Alfredo
Luiz : O Hospital de Todos os Santos,
hoje denominado de S. José; Imprensa Nacional, Lisboa 1890
LOURENÇO, António
Gomes: Arte phlebotomanica, anatomica, medica, e
cirurgica, para os sangradores e mais professores; Officina de Pedro Ferreira. Lisboa
Occidental 1741
LOURENÇO, António
Gomes: Breve exame de sangradores extrahido da Arte Phlebotomanica; Officina de Pedro Ferreira. Lisboa
1746
LOURENÇO, António
Gomes: Cirurgia classica lusitana, anatomica, pharmaceutica, medica. A mais
moderna; Officina de Bernardo Antonio de Oliveira , Lisboa 1754; Offic. de Antonio
Rodrigues Galhardo, Lisboa 1769
LOURENÇO, António
Gomes: Dissertação pratica
do exostose e da carie dos ossos; offic. de Antonio Rodrigues Galhardo, Lisboa
1772
LOURENÇO, António
Gomes: Cirurgia classica lusitana, anatomica, pharmaceutica, medica. A mais
moderna, segunda parte; Officina
de Simão Thaddeo Ferreira, Lisboa 1794
MACHADO, Diogo
Barbosa: Bibliotheca Lusitana, Histórica,
Critica , e Chronológica, Tomo IV; Oficina Patriarcal de Francisco Luiz Ameno.
Lisboa, 1759
MATTOS, Manoel de
Sá: Bibliotheca Elementar Cirurgico-
Anatomica ou Compêndio Historico- Crítico e Chronológico; Officina de
Antonio Alvarez Ribeiro, Porto 1788
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