Estátuas de Mortágua

Quem as fez?

Os monumentos despertam por vezes a curiosidade de saber quem os concebeu. Nem sempre é fácil descobrir os seus autores. E depois há sempre os  falsos entendidos na matéria, que tornam a tarefa ainda mais difícil.

Estou a lembrar-me de ter perguntado a um familiar de Tomás da Fonseca se sabia de quem é a autoria do busto implantado na Praça 25 de Abril. Logo me foi respondido – sim, é do Abel Salazar. O que eu tive de contrariar – não, do Abel Salazar não é. Esse fez um busto de Tomás da Fonseca, que eu já vi em fotografia na Fundação Mário Soares, mas não é sequer parecido. Não consegui convencer a pessoa, nessa altura, e decidi copiar a fotografia de que falara e oferecê-la. Aí reconheceu que não era o busto em causa.

 

 

 

busto da autoria de Abel Salazar

 

Até hoje não consegui descobrir quem é o autor, porque o busto não está assinado em lugar visível, e as pessoas que pensei poderem dar-me a informação, disseram-me que a desconheciam. Pelos jornais da época apurei que um grupo de amigos e admiradores de Tomás da Fonseca lhe ofereceram um busto, que ele manteve no seu escritório.  Penso que foi esse o busto está implantado na localização actual, provavelmente cedido pela família, em 1977, quando foi promovida a homenagem e  a  inauguração do monumento. E porque o busto não foi concebido para ser implantado, não é visível qualquer assinatura do autor, que, se existir, estará na parte englobada no cimento do pedestal. E disso mesmo, não temos qualquer certeza…

 

 

Talvez esta publicação desperte a atenção de alguma pessoa que ainda saiba, e nos queira dizer, quem é o autor deste busto.

Um outro busto, mais antigo, é o que está na rotunda da Praceta Cancela de Abreu, sobrenome do homenageado, Augusto Cancela de Abreu. O busto está assinado por Américo Gomes, e está datado de 1953.

Há alguns anos, foi derrubado por um automóvel, e perdeu os óculos que tinha inicialmente, e que eram característicos de Augusto Cancela de Abreu.

 

Pois bem, já encontramos a imagem deste busto na Internet, atribuído a José Lopes de Oliveira, que não tinha qualquer semelhança fisionómica com Augusto Cancela de Abreu.

 

Américo Gomes é um escultor prestigiado, sendo uma das suas obras mais conhecidas, o “Homem do Leme”, que vemos aqui numa fotografia de Dias dos Reis.

 

 Esta estátua, originalmente em gesso, foi uma encomenda de Henrique Galvão a Américo Gomes para a Exposição Colonial Portuguesa realizada no Palácio de Cristal, em 1934. O sucesso obtido pela obra foi de tal ordem que terminada a Exposição foi mandada fundir em bronze. Foi inaugurada a 27 de Janeiro de 1938, na Avenida de Montevideu, em Nevogilde. A maquete em gesso está no  Museu Municipal de Ílhavo.

 

                

Outro monumento existente em  Mortágua é o que homenageia o Dr. José Andrade de Assis e Santos.

José J.  Rodrigues (Luanda, 28/10/1936 — Porto, 10/9/2016)

 

É da autoria de José Joaquim Rodrigues, escultor formado na Escola Superior de Belas Artes do Porto, falecido em 2016, que assinou e datou a obra na parte inferior da placa escultórica, não sendo possível ver a assinatura, a menos que nos espreitemos por baixo.

O monumento já sofreu alterações, quer na localização, quer no bloco de cimento que suporta a placa escultórica, e até nas inscrições, como se poderá ver comparando uma fotografia publicada na Defesa da Beira, na altura da sua inauguração, e uma fotografia actual de nossa autoria.

 

Em 1989 foi implantado um monumento  de Homenagem aos Mortos deste Concelho na Defesa do Ultramar, que  independentemente da justeza da homenagem, denota da parte dos promotores uma afirmação de aderência aos ideais colonialistas e a recusa de aceitar o fim do Império.

 

O monumento já mudou de sítio, passando da rua João Lopes de Morais para a avenida Assis e Santos, e foi acrescentado com uma nova base onde foram inscritos os nomes dos militares do Concelho falecidos na Guerra Colonial.

O Monumento está assinado e datado por T. Vasconcelos, que nos foi informado tratar-se da arquiteta Teresa Vasconcelos, sobre a qual não conseguimos ainda reunir mais informação.

Finalmente, a escultura mais recente que foi implantada em Mortágua, é uma homenagem aos peregrinos que foram vítimas de atropelamento quando se dirigiam para o santuário de Fátima.
A escultura está localizada no adro da igreja matriz e é da autoria de Armando Martinez, um escultor galego que viveu em Coimbra, e depois disso em Barcelona, Itália e Inglaterra, vivendo actualmente em Vigo. Tem muitas obras suas em espaços públicos em Portugal, sendo as mais próximas o monumento megalítico em Cantanhede, e a estátua de Florbela Espanca, em Coimbra.

 ARMANDO MARTÍNEZ

 

Prometemos actualizar esta publicação logo que tivermos mais informação.