LINHA
DA BEIRA ALTA
O
traçado da linha da Beira Alta, foi contestado por muitos cidadãos que
achavam não ser o mais adequado, aquele que acabou por ser adoptado. Vejamos
uma peça da imprensa da época (1873), que ilustra essa discussão.
BOLETIM
DO DIA
Neste país
todos são doutores, todos entendem o melhor, sobre todos os assuntos, todos são
enciclopedistas, e mais ainda, infalíveis, e por tal forma que não admitem senão
a força dos seus argumentos, e esta às vezes nem aos seus autores convence, embora
venha a lume eivada das paixões, que os dominam.
As linhas
férreas internacionais que cinquenta e cinco deputados recomendaram à câmara,
são consideradas por insuspeitos como de pequeno valor para o país! E sem
consideração, os terrenos que cortam! Referindo-se à linha da Beira Alta, de
Tomar a Almeida, argumentam com Mortágua, a grande e importante povoação que
atravessa!! Falando depois em tantas povoações, parece que podiam ainda juntar
a Fragua, Castro Daire, Lamego e passar mesmo o Douro para o outro lado!!
Mortágua é importante, Lousã, Seia, Gouveia e Celorico, essas não prestam, e os
tais homens inteligentes entendem que o caminho de ferro deve antes caminhar
por meio de pinhais, através de serras, do que cortar os terrenos cultivados
aproximando-se das nossas fábricas; e servir aos melhores e mais valiosos
centros de produção!!!
Há coisas
que fazem pasmar, e não merecem mesmo grande discussão.
A verdade é
que todos se recusam neste país ao aumento de impostos, mas todos querem
caminhos de fero a passar-lhes pela porta, e as dificuldades nas construções e
as queixas amargas, e os protestos contra os deputados, e as ignorâncias duns e
as espertezas doutros, estão consubstanciadas em se não decretarem tantos
caminhos quantos os desejos daqueles que com eles pretendem melhorar de
condições.
Fatal
desgraça é esta! Quando lemos, ou ouvimos defender uma causa, fugindo da
argumentação para o sarcasmo, taxando de pouco sabedores os que seguem a opinião contrária, pensamos logo, que a
razão não é muita, mas que a paixão dominou o espírito do orador ou do escritor,
para o deixar embrenhado no meio das suas mais desencontradas conclusões, e
descendo de contradição em contradição acabar nas inexactidões, que nos não
parecem argumento assaz valioso.
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