quarta-feira, 24 de maio de 2017


LINHA DA BEIRA ALTA

O traçado da linha da Beira Alta, foi contestado por muitos cidadãos que achavam não ser o mais adequado, aquele que acabou por ser adoptado. Vejamos uma peça da imprensa da época (1873), que ilustra essa discussão.

 
BOLETIM DO DIA

Neste país todos são doutores, todos entendem o melhor, sobre todos os assuntos, todos são enciclopedistas, e mais ainda, infalíveis, e por tal forma que não admitem senão a força dos seus argumentos, e esta às vezes nem aos seus autores convence, embora venha a lume eivada das paixões, que os dominam.
As linhas férreas internacionais que cinquenta e cinco deputados recomendaram à câmara, são consideradas por insuspeitos como de pequeno valor para o país! E sem consideração, os terrenos que cortam! Referindo-se à linha da Beira Alta, de Tomar a Almeida, argumentam com Mortágua, a grande e importante povoação que atravessa!! Falando depois em tantas povoações, parece que podiam ainda juntar a Fragua, Castro Daire, Lamego e passar mesmo o Douro para o outro lado!! Mortágua é importante, Lousã, Seia, Gouveia e Celorico, essas não prestam, e os tais homens inteligentes entendem que o caminho de ferro deve antes caminhar por meio de pinhais, através de serras, do que cortar os terrenos cultivados aproximando-se das nossas fábricas; e servir aos melhores e mais valiosos centros de produção!!!
Há coisas que fazem pasmar, e não merecem mesmo grande discussão.
A verdade é que todos se recusam neste país ao aumento de impostos, mas todos querem caminhos de fero a passar-lhes pela porta, e as dificuldades nas construções e as queixas amargas, e os protestos contra os deputados, e as ignorâncias duns e as espertezas doutros, estão consubstanciadas em se não decretarem tantos caminhos quantos os desejos daqueles que com eles pretendem melhorar de condições.
Fatal desgraça é esta! Quando lemos, ou ouvimos defender uma causa, fugindo da argumentação para o sarcasmo, taxando de pouco sabedores os que seguem  a opinião contrária, pensamos logo, que a razão não é muita, mas que a paixão dominou o espírito do orador ou do escritor, para o deixar embrenhado no meio das suas mais desencontradas conclusões, e descendo de contradição em contradição acabar nas inexactidões, que nos não parecem argumento assaz valioso.

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