sábado, 4 de junho de 2016

As eleições nos tempos finais da 1ª República

Não sabemos como decorreram todas as eleições durante os 16 anos da primeira República. Mas encontramos um artigo de António José Queiroz, publicado na Revista da Faculdade de Letras- História ( Porto, III Série, Vol.11- 2010) e intitulado  "As eleições legislativas de 1925", que descreve comportamentos dos partidos e seus militantes que não considerávamos possíveis à luz da ética republicana, usando como suporte a imprensa da época. Citamos:

«Nas vésperas do acto eleitoral, como podia ler-se no Diário de Lisboa *, ainda se ultimavam as "combinações". Mesmo os adversários mais irredutíveis chegavam "às boas" e entravam  em acordos surpreendentes. Como por artes mágicas, acrescentava esse jornal, as “regras” e os “princípios estabelecidos” haviam desaparecido » *DL.7/11/1925

« Contra os acordos insurgia-se alguma imprensa, considerando-os “uma deturpação do sistema representativo”, já que, de forma geral, significavam “uma partilha de votos entre caciques, com inteiro desprezo do sentir dos eleitores”*. Desses acordos resultava, na prática, a nomeação e não a eleição dos deputados *A Região Faviense,12/11/1925

Havia no entanto algumas honrosas excepções, entre as quais  se contava um nosso conterrâneo:

« Nem todos os candidatos, porém, os aceitavam. Sabe-se da existência de um caso. Trata-se de Lopes de Oliveira, do Partido Republicano Radical, que denunciou o acordo entre monárquicos, democráticos e nacionalistas “na quase totalidade dos concelhos” do distrito de Viseu. Dizia terem combinado ”uns com os outros as descargas nos cadernos, sem reunir sequer as assembleias”. Daí recusar a sua eleição, demarcando-se desses acordos que classifica de “infâmias”* » *O Século, 10/11/1925

«A divulgação desta carta de Lopes de Oliveira levaria um eleitor de Mangualde a juntar o seu protesto ao daquele candidato radical. Em carta dirigida ao presidente do Ministério, Virgílio Marques  denunciava "os vergonhosos acordos, uns encapotadamente  e outros às claras. levados a efeito em quase todos os concelhos do círculo, preterindo candidatos e obstando a que os cidadãos eleitores pudessem livremente usar dos seus direitos"* .» * (O Mundo, 20/11/1925 )


Orgulhamo-nos pois que, no meio da bandalheira generalizada,  um natural de Mortágua continuasse a lutar pela Democracia e pela manutenção dos princípios éticos. Na verdade, o partido que dirigia não elegeu nenhum representante nessas eleições. 
 
 
 
 


 

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