“
O PINHEIRO ” de Tomáz da Fonseca
Uma reedição recente
Em primeiro lugar, o editor tem o desplante de substituir no
texto palavras que constavam na versão original por palavras suas, remetendo as
palavras de Tomaz da Fonseca para as notas de rodapé.
Nunca tal tínhamos visto anteriormente, e já lemos alguns
milhares de livros. Insatisfeito com esta arrogância, dá informações em notas
de rodapé que mostram alguma ignorância
e presunção. Só para exemplo, transcrevemos a nota do editor nº 25:
“O
autor refere-se à 3ª invasão francesa (1810-1811) comandada pelo Marechal André
Massena e formada por 3 corpos de exército num total de perto de 65 000 homens.
Nos finais de Setembro de 1810, no caminho de Viseu para o Bussaco, as tropas
do VI Corpo comandado pelo Marechal Michel Ney e do VII Corpo, comandado pelo
general Jean-Andoche Junot, passaram pelo concelho de Mortágua onde provocaram
enormes estragos, roubos e mortes entre a população.”
Esta nota não acrescenta nada à compreensão do texto, pelo
que não tem sequer razão de existir. Mas uma vez inserida deveria, no mínimo,
ser correta, o que não acontece. Dos três corpos do exército de Massena
referidos, é logo esquecido o 2º Corpo que parece não ter passado no Concelho
de Mortágua. Ora o 2º Corpo, comandado pelo General Reynier esteve em Mortágua
e foi incumbido do ataque às forças anglo-portuguesas por Santo António do
Cântaro. Já o 7º Corpo, se existia, nunca entrou em Portugal. Entrou sim o 8ª
Corpo comandado pelo General Junot, mas nem chegou a entrar combate na Batalha
do Bussaco.
Mas logo na Introdução Tomaz da Fonseca escreveu um
parágrafo que deu origem a duas incorrecções. Vejamos o parágrafo, como costa
da 1ª edição:
“A fim
de generalizar tão salutar medida, resolvi convidar um amigo, académico ainda,
mas já caloroso defensor das regalias populares, (1) para realizarmos palestras nas aldeias da serra,
mormente onde mais danos causa aquele dente voraz, que de florestas nascentes
faz desertos.” Da nota de rodapé consta: (1) Dr. Basílio Lopes Pereira.
Pois bem, na edição actual a nota, agora com o número 3 passa a ser:
«Dr. Basílio Lopes Pereira (NOTA DO AUTOR). Nasceu em Marmeleira em Dezembro de 1893 e faleceu em Lisboa em Maio de 1959. Advogado, republicano, co-fundador do jornal “Sol Nascente” e do Centro Democrático de Educação Popular na sua terra natal. A sua oposição ao Estado Novo, levou-o às cadeias do Aljube e Caxias e á deportação para Cabo Verde.».
Não me foi possível consultar informação sobre a(s) sua(s)
estadia(s) na cadeia do Aljube, mas li documentação que refere a sua prisão no
Forte de Peniche entre 29/06/1939 e 10/10/1939, de onde transitou para Caxias,
cadeia onde permaneceu até ser enviado para o Campo Prisional de Chão Bom, a
tristemente célebre prisão do Tarrafal de Santiago em Cabo Verde. Aí esteve
entre 01/03/1940 e 01/06/1942. Basílio Lopes Pereira esteve preso em Cabo Verde,
e não deportado. De facto, já anteriormente tinha estado deportado na ilha de
S. Miguel, nos Açores, em 1931, mas como facilmente se percebe, não são regimes
de coerção comparáveis.
Outro erro ligado ao mesmo parágrafo é cometido pelo autor
do prefácio, que escreve: “Para realizar
essas palestras, Tomaz da Fonseca fazia-se acompanhar do seu amigo Basílio
Lopes Pereira, jovem estudante de Direito em Coimbra,…” O dr. João Paulo deixou-se levar pelo termo “académico”, que Tomaz da Fonseca utiliza com um significado mais lato do que “Universitário”. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora também refere como sinónimos, “estudante de ensino secundário, médio ou superior”.
Ora, na data da citada palestra, “ Maio de 1913”, Basílio Lopes Pereira era aluno do 7º ano do liceu,
e só em Outubro desse mesmo ano viria a entrar na Universidade.
Já o sabíamos por ter lido no jornal Sul da Beira de 13/02/1913 a notícia da 1ª conferência do Centro
Democrático de Educação Popular da Marmeleira, realizada em 09/02/1913: “Meia dúzia de denodados rapazes da
Marmeleira, sobre os quais citaremos os nomes dos nossos ilustres amigos
Antonio Pereira de Sousa, Bazílio Lopes Pereira, distintíssimo aluno do 7º ano
do liceu,…” Mas para que não nos restassem dúvidas, consultamos o “Anuário da Universidade de Coimbra - Ano Lectivo de 1912-1913” no qual não consta o nome de Basílio Lopes Pereira. No Anuário de 1913- 1914, aparece Basílio Lopes Pereira como aluno do 1º ano do curso de Direito.
Sem comentários:
Enviar um comentário