sábado, 4 de junho de 2016


Invasões francesas  e  Mortágua.

Algumas perguntas e as respostas possíveis.

Nos escritos que relatam a passagem da 3ª Invasão francesa pelo concelho de Mortágua, encontramos por vezes divergências sobre dados que, aparentemente deveriam ser convergentes. Encontramos também afirmações que são claramente erradas, por ignorância, ou por vontade de fazer coincidir a história com as suas convicções pessoais.

Tentaremos esclarecer algumas dessas questões com a informação que conseguimos recolher na literatura sobre o tema, procurando ser críticos e meticulosos na procura da verdade. Procuramos recorrer ao máximo de dados bibliográficos ao nosso alcance, embora não tenhamos conseguido acesso a algumas obras de referência, que imaginamos que pudessem ser de grande utilidade.

Com estas limitações, a acrescentarem-se à nossa insuficiente formação histórica, procuramos dar o melhor contributo.

Quem deu a ordem de destruição da ponte do Rio Criz, entre Santa Comba Dão e Mortágua ?

Assis e Santos, em artigo publicado na revista Beira Alta, de 1944, diz-nos:

“ Em 21 de Setembro de 1810, a retaguarda do exército anglo-luso, que vinha retirando diante das tropas francesas desde a fronteira espanhola, cortou a ponte do Criz por ordem do general Greenwell, afim de retardar o avanço dos invasores entre Santa Comba e Mortágua.”

“Mas, em 24 Setembro, já a engenharia francesa tinha a ponte do Criz , reparada; e assim, ainda nesse mesmo dia, pôde acampar no Barril a 1Km de Mortágua, o 6º exército francês - 23 000 homens sob o comando do general Ney.”

Maria Zília Gonçalves, que copia escandalosamente as primeiras páginas do artigo de Assis e Santos no 1º capítulo  do livro “Contributos para a Monografia do Concelho de Mortágua”, altera no entanto duas coisas: o nome do general passa a ser “Grunwell” e os franceses atrasam-se na reparação da ponte: “ …mas, em 24 Setembro, já a engenharia francesa tinha reparado a ponte, e assim, ainda nesse mesmo dia, pôde acampar no Barril a 1Km de Mortágua, o 6º exército francês composto por 23 000 homens sob o comando do general Ney.”

A semelhança é muita, e começa  nas questões da terminologia. Em parte alguma encontramos os Corpos do Exército  francês, designados como Exércitos.  A designação de Exército de Portugal ( Armée de Portugal) foi empregue para designar o conjunto dos três Corpos do Exército francês  ( 2º Corpo, comandado pelo general Reynier; 6º Corpo, comandado pelo marechal Ney e o 8º Corpo, comandado pelo general Junot ) e ainda uma Reserva de Cavalaria comandada pelo general Montbrun.
Outra questão é o nome do general inglês que ordenou a destruição da ponte do Criz. Em 1810 não existia no exército britânico nenhum general com o nome de Greenwell e muito menos Grunwell. Existia sim um Capitão Leonard Greenwell, pertencente à Divisão do general Craufurd, e que foi promovido a Major depois da Batalha do Bussaco.

Lord Wellington, em ofício a D. Miguel Pereira Forjaz, secretário da guerra, datado de Coimbra, em 30 de Setembro de 1810 informa que: “ A 21 a guarda avançada do inimigo avançou com rapidez para Sancta Combadão, logar onde se reúnem os dois rios Criz e Dão, e o brigadeiro general Pack se retirou para a banda de cá através do Criz, e se uniu em Mortagua ao brigadeiro general Crawford, havendo primeiro destruído as pontes que existiam sobre aquelles dois rios.
A guarda avançada do inimigo, tendo concertado a ponte, passou a 23 o rio Criz, e toda a força do sexto corpo se juntou da banda de cá d’aquele rio;..”

Como facilmente se depreende, a ordem de destruição da ponte terá partido do general Pack, ou  quando muito do general Crawford e não de um oficial às suas ordens.

Em que dia chegaram os franceses a Mortágua?

A dúvida sobre o dia da passagem do rio Criz pelos franceses, também parece resolvida. A corroborar  o dia 23, estão também os escritos de Fr. José de S. Silvestre, religioso do Convento do Bussaco, no seu Diario Memorial, publicado por Joaquim Martins de Carvalho no jornal Conimbricense :  Dia 23. Hoje pelo meio dia principiou-se a ouvir muito fogo em Mortagua, o que anunciou a vizinhança do inimigo; durou toda a tarde: divisavam-se ao mesmo tempo muitas casas a arder pelos districtos d’aquella villa. Os officiaes ingleses sahiram logo a observar da porta de Sulla, mostrando em si grande tristeza.  Os moradores dos povos vizinhos, oprimidos da tropa, e receiosos do inimigo, largaram imediatamente suas casas e fugiram para esta serra, e muitos acharam entre nós o seu asylo.”
O major Leite de Brandão na sua Memória Académica “Apontamentos sobre a Batalha do Bussaco” escreve: “No dia 22 de Setembro, uma divisão do 6º C.E. repeliu a brigada Pack para a margem direita do Criz, estabelecendo deste modo uma testa de ponte que facilitaria a progressão para O..
No dia seguinte a Divisão Loison apoderou-se do Barril e de Mortágua. “

Tudo indica que, no dia 23 de Setembro de 1810, o general Loison, o célebre Maneta, que esteve presente nas três invasões francesas, tomou posse do Barril e de Mortágua, e provavelmente de outras povoações do concelho.

A Batalha de Mortágua existiu?

Assis e Santos refere um episódio que merece alguns comentários :
“ No dia 25, os 15.000 homens do general Reynier avançaram pela estrada real – Vale de Açores, Cortegaça, Santo António do Cântaro…Em Cortegaça deparou-se-lhes um pequeno contratempo: um fidalgo vianense, o major Luís Rêgo postou o regimento nº4 de caçadores no alto da serra do Meiral e mandou fazer fogo sobre a vanguarda do 2º exército.
Depois de causar baixas nas fileiras francesas e não pequena inquietação ao comando inimigo, o major Rêgo retirou para o Bussaco; todavia este pequeno combate, que ficou conhecido historicamente com o nome de batalha de Mortágua valeu-lhe e à sua unidade o mais rasgado louvor do general em chefe do exército anglo-português. O 2º exército prosseguiu a sua marcha, alcançando ainda no dia 25 à tarde a planura de Santo António do Cântaro, apenas a 500m das forças anglo-portuguesas que ocupavam o cume da Serra do Buçaco.”

O herói, por esta data tinha o posto de tenente-coronel (desde 21 de Janeiro de 1809), e não major, sendo seu nome completo Luís do Rêgo Barreto.
O episódio, nomeadamente a sua localização, não encontramos nenhum escrito que o confirme, e muito menos a sua histórica designação de batalha de Mortágua.
Na realidade, Lord Wellington, no ofício a D. Miguel Pereira Forjaz, secretário da guerra, datado de Coimbra, em 30 de Setembro de 1810  refere

: “O regimento de caçadores portuguezes nº 4, que se havia retirado para a direita das outras tropas, e os piquetes da terceira divisão de infanteria, que se achavam postados em Santo Antonio do Cantaro, comandados pelo major Smith do regimento 45, se bateram pela tarde com as avançadas do corpo de Regnier, havendo nesta occasião o regimento de caçadores nº4 mostrado aquella bizarra firmeza, que as tropas portuguezas hão depois manifestado.”
“ Além d’estes ataques as tropas ligeiras de ambos os exércitos se bateram durante todo o dia 27, e o regimento de caçadores nº4, e os regimentos nº1 e 16 dirigidos pelo brigadeiro general Pack, e comandados pelos tenentes coronéis Rego Barreto e Hill, assim como o major Armstrong, mostraram grande firmeza e bravura”

 O Marechal Beresford em ofício a Miguel Pereira Forjaz, relata:
“ O brigadeiro general Pack merece os meus agradecimentos, assim como os  corpos que estiveram debaixo das suas ordens, e os seus comandantes os tenentes coronéis Hill e Luiz do Rego, e o major Armstrong. A conducta do batalhão de caçadores nº4 merece ser particularmente mencionada assim pelo seu valoe em o ataque, como pela constancia com que sustentou por todo o dia o fogo do inimigo,”

O ajudante general Manuel de Brito Mozinho, na Ordem do Dia, datada do quartel general do Bussaco em 28 de Setembro de 1810, também refere o comportamento heróico  do batalhão de caçadores nº4 e do seu comandante, mas não há  qualquer referência ao episódio:
“ O batalhão de caçadores nº4 pela distincta coragem e constancia com que atacou o inimigo, e sofreu o seu fogo durante todo o dia, merece também os maiores elogios; e o tenente coronel Luiz do Rego Barreto e seus bravos officiaes e soldados receberão aprovação de sua excellencia.”

De tudo isto resulta que, ou não existiu o confronto referido, ou não ficou para a história qualquer memória dele.


Quem informou os franceses da possibilidade de contornar o Bussaco pela estrada do Boialvo ?

A decisão de Massena tentar dirigir-se a Coimbra atravessando a serra do Bussaco, parece ter sido baseada em três factores:

1-    Massena não acreditava que Wellington lhe oferecesse combate aberto depois de o ter evitado desde a entrada em Portugal.
2-    Massena desconhecia a quantidade e qualidade dos efectivos militares que Wellington conseguira reunir na serra do Bussaco.
3-    Massena não foi informado da existência de uma alternativa de trajecto, contornando a posição das forças luso-britânicas.

Gorada a tentativa de forçar a passagem através da serra do Bussaco, Massena decidiu avançar pela estrada de Mortágua para o Boialvo, contornando as forças do adversário pela direita, o que veio a provocar uma retirada precipitada do exército anglo-português que abandonou a serra do Bussaco, em direcção a Coimbra e posteriormente até às Linhas de Torres.
O general Barão de Marbot, ajudante de campo de Massena, nas suas “ Memórias sobre a 3ª invasão francesa” conta assim a sua história:

“ A determinação do marechal parecia tão positiva que, ao chegar a Mortágua, me encarregou, a mim e a Ligniville, de encontrar um habitante do subúrbio que pudesse indicar-nos um caminho que nos levasse a Boialvo, sem passar pelo Bussaco.
Tal foi extremamente difícil, porque toda a população tinha fugido quando os franceses se  aproximaram e uma das mais escuras noites opunha-se à eficiência das nossas buscas. Mas acabámos, por fim, por descobrir num mosteiro um velho jardineiro, que tinha ficado para tratar de um monge gravemente doente, junto do qual nos conduziu. O monge respondeu com candura a todas as questões. Tinha feito frequentemente caminho de Mortágua a Boialvo por uma estrada cujo entroncamento se situava a pouco menos de uma légua do convento onde estávamos e admirava-se que nós não conhecêssemos o tal entroncamento tanto mais que o nosso exército tinha passado em frente a ele quando seguia de Viseu para Mortágua. Conduzidos pelo velho jardineiro, fomos então conferir o que nos tinha dito o monge e reconhecemos, efectivamente, que uma excelente estrada se prolongava na direcção das montanhas que ela parecia contornar pela esquerda. …”

“ Ligniville e eu, contentes pela descoberta que tínhamos acabado de fazer, apressámo-nos a ir dar dar conta de tal ao marechal. Mas a nossa ausência tinha durado mais de uma hora e, quando o encontrámos, ele estava com o comandante Pelet, no meio de mapas e de cartas geográficas. Este último disse ter examinado de dia, com um telescópio, as montanhas, cuja configuração não indicava nenhuma passagem à nossa direita. Ele não podia acreditar, aliás, que, durante a sua estadia em Mortágua, o marechal Ney não tivesse mandado explorar as imediações e, como ele não tinha revelado a passagem, era uma prova que ela não existia. “

“Informado do estado de coisas pelo próprio Massena, que compreendia, finalmente, o erro que tinha cometido não dando a volta á posição dos inimigos pela direita, como o tínhamos aconselhado, Sainte-Croix convenceu-o a retomar o plano e, depois do consentimento do generalíssimo, partiu a galope, acompanhado por Ligniville e por mim, para Mortágua, para onde trouxe a sua brigada de dragões que estava acampada por perto.  Ao passar por este subúrbio, apanhámos o jardineiro do convento, que ao ver um quádruplo de ouro, concordou em nos servir de guia e desatou a rir quando lhe perguntámos se existia realmente um caminho para chegar a Boialvo!...”
“ Eis o que realmente se passou. Depois de ter marchado toda a noite de 28 para 29, o jardineiro dos Capuchinhos de Mortágua, posto à cabeça da coluna do general Sainte-Croix, tinha-nos levado por um caminho intransitável para a artilharia até Boialvo, isto é, até ao extremo flanco esquerdo do exército inglês, de maneira que todas as posições de Alcoba estavam extenuadas sem terem disparado um único tiro,….”

Esta descrição de Marbot é contestada por Vitoriano José César no seu livro “Batalha do Buçaco”. Na realidade, nunca existiu um convento na proximidade de Mortágua, e Marbot é o único a fazer esta referência, o que leva Vitoriano José Cesar a considerar este relato fantasioso, e  Marbot pouco credível, «nisto, como noutras coisas».
Há no entanto um autor de Mortágua, Assis e Santos, que procura, no seu artigo “Os franceses em Mortágua”, dar credibilidade a Marbot:

“ Segundo conta Marbot  foi o jardineiro dum convento, que deu a informação, confirmando-a depois um monge.

Em  Mortágua nunca houve convento, mas não devemos por isso acusar de falsidade esse autor.

É que havia neste concelho centos de caseiros do Convento de Santa Cruz de Coimbra – todos os moradores das freguesias de Pala e de Vale de Remígio viviam nessa situação – algum deles podia exercer aqui a profissão de jardineiro ou tê-la exercido em Coimbra, nos jardins de Santa Cruz.
Para quem conhece estes lugares, a versão de Marbot poderia ajustar-se à realidade identificando com um habitante da Gândara, vassalo e possivelmente mesmo exercendo o ofício de jardineiro no mosteiro suserano, o primeiro informador; e com o pároco de Pala, subalterno do convento de Santa Cruz e único pároco residente à beira da estrada que os oficiais franceses sondavam, o tal monge que confirmou.”

Um pouco  mais à frente, Assis e Santos muda um pouco a perspectiva:
“ Massena, logo informado pelo general Sainte-Croix, enviou o general Montbrun com uma força de cavalaria para explorar o caminho de Boialvo e o pobre do jardineiro informador teve de marchar na  frente a ensinar o caminho. Seriam pouco mais de 10 horas da manhã do dia 28 de Setembro quando aqui passou o general Montbrun e enveredou pela estrada de Pala; pouco depois do meio dia já tinha chegado a Boialvo; às 3 horas da tarde sabia que tinha a passagem livre por Avelãs de Caminho.*
*O caminho melhor seria por Águeda, mas nesta vila a chegada dos franceses seria logo assinalada pelas patrulhas do coronel Trant  que estava no Sardão. “

Apetece-nos dizer que, tal como a Marbot, não falta a Assis e Santos imaginação, mas o mesmo não diremos quanto ao rigor das suas afirmações.
André Delagrave, capitão e ajudante de campo de Junot, na sua obra “Campagne de L’Armée Française en Portugal, dans les années 1810 et 1811, avec un précis de celles qui l’ont précédée” conta-nos a coisa de modo diferente:

“…il doit être permis d’avouer ici que ce fut un malhereux paysan, qui servait de guide à une de nos colonnes, qui fut cause de la manoeuvre que l’armée fit la nuit suivante. Cet homme, spectateur des combats sanglans de toute cette journée, temoigna son étonnement de ce que les Français s’opiniàtraient à voulouir arriver à Coimbre par les routes de Saint-Antonio et de Busaco, si bien defendues par l’ennemi, tandis qu’il y en avait une autre plus à droite et beaucoup plus commode, par Avelena de Cima. Sur ce qu’il répondit avec intelligence et bonne foi à tous les reseignemens qu’on lui demanda, le general Sainte-Croix le prit pour guide, et fut immediatement avec deux regimens de dragons reconaitre le chemin que ce paysan avait indiqué. Le général revint quelques heures après, et rendit compte qu’effectivement le chemin était très-bon, et qu’il l’avait reconnu jusqu’au sommet de la montagne, sans qu’il y eût rencontré un seul ennemi.”

O Barão Fririon no seu livro “ Journal Historique de la Campagne de Portugal, entreprise par les Français sous les ordres du Maréchal Masséna, Prince D’Essling”, também nos dá a sua versão:
28 septembre. Le 2º corps garda la position qu’il avait prise la veille.

Un paysan portugais, qui s’était caché pour ne pas s’eloigner de ses foyers, fit connaître aux officiers de sa nation qui éttaient attachés à l’état-major-général son étonnement de voir les français s’obstiner de voulouir passer apr la route de Busaco por arriver à Coimbre, tandis qu’il y en avait une plus facile sur la droite par Avelans de Cima; il s’offrit à server de guide au général qui serait charge d’en faire la reconnaissance.”

O general Vitoriano José César no seu livro “Batalha do Buçaco” dá-nos a sua visão do assunto:

“ Por seu turno o general Sainte-Croix, explorando os arredores de Mortágua com o tenente Mascarenhas, encontrara um campónio, a quem o oficial português interrogou e que declarou haver um caminho praticável á artilharia e que ligava Mortágua com a estrada que ia de Tondela por Tourigo ao Sardão, admirando-se que na marcha de Vizeu para Mortágua não tivessem visto essa estrada..
Sainte-Croix comunicou imediatamente esta notícia a Massena (às 10 horas do dia 28 , e 3 horas da tarde, segundo outros), que ordenou ao general Montbrun que marchasse com toda a sua cavalaria e com a brigada Sainte-Croix a explorar todo o caminho, servindo o camponês de guia.

Ao mesmo tempo enviava as brigadas de sapadores para repararem a estrada nos pontos em que se tornasse necessário.

O general Montbrun chegava ao Boialvo depois meio-dia, e reconhecia a existência dum bom caminho, seguindo daqui a Avelãs do Caminho, não havendo necessidade de ir ao Sardão para entrar na estrada do Porto a Coimbra.
Enviou imediatamente Montbrun o seu relatório a Massena, e ao mesmo tempo tomava todas as medidas para se assegurar do desfiladeiro do Boialvo. Para isso fez ocupar o Boialvo por um regimento da brigada Sainte-Croix e escalonou os outros dois até às alturas que dominam a povoação; colocou a artilharia acavalo e um outro regimento em Vale de Carneiro e três outros na Aveleira.

Informado Massena da possibilidade do torneamento, deu as ordens necessárias para a marcha dos corpos do exército.”

Simão José da Luz Soriano, no seu livro “ História da Guerra Civil e do estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal “ conta a história do seguinte modo:
Convocando novamente um conselho militar, em que entraram o marechal Ney, e os generaes Reynier, Junot e Fririon, n’elle se decidiu tornear a posição defendida pelos aliados. Foram então chamados os officiaes portuguezes, para indicarem o caminho que em tal caso se deveria seguir, e como dissessem que não sabiam, Massena com eles se enfadou  bastante, mostrando-se áspero e desabrido, como se do seu desastre tivessem tido a culpa. Mandando depois chamar o general Montbrun, ordenou-lhe que fosse com um forte destacamento descobrir algum caminho, comissão que também deu aos generaes Lamote e Saint Croix. Foi este o que por fortuna de Massena, correndo o campo sobre a direita do seu exercito, alcançou um camponez, que se tinha escondido nas proximidades do conflicto,para não se afastar dos seus lares; foi elle quem…descobriu também aos officiaes portuguezes, pertencentes ao estado maior de Massena, o caminho que sobre a direita vem de Mortagua a Boialvo e d’aqui vae ao Sardão, caminho que corre pela garganta da serra do Caramullo.”

Hoje ficamos por aqui. Prometemos continuar a falar da 3ª invasão francesa, em futuras mensagens.

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