domingo, 26 de junho de 2016


Manuel Simões Julião

Nos anos 50 do século passado, veio residir em Mortágua um homem que os mais idosos conheceram. Chamava-se Manuel Simões Julião, era natural da Pampilhosa, licenciado em Histórico-Filosóficas, e veio chefiar a Secretaria da Câmara Municipal da Mortágua.

 Pensamos que o acompanhante do Dr. Julião, é Manuel Branquinho, guitarrista e cantor consagrado, que gravou vários discos.
 
 
Sabemos que participou em iniciativas de caracter teatral e musical, que estão documentadas em fotografias da época, e a ele devo a minha primeira actuação pública, numa récita do Externato Infante de Sagres de Mortágua, em 1965.  Teve a gentileza e paciência de ensaiar, e acompanhar à viola o aluno de sua esposa, Dª Maria José Abreu, que tinha por incumbência cantar o “Manuel das Cebolas”. Mas eu, como a maioria dos habitantes do concelho, nunca me apercebi da sua real importância no panorama musical da chamada Canção de Coimbra. Só recentemente me apercebi que o Dr. Julião foi, na sua época, o mais proeminente cantor de Coimbra.

Fotografia extraída do Catálogo da Exposição "Mortágua, um olhar sobre o passado"
 
Depois de uma época  em que abundaram  em Coimbra cantores célebres (1920-1930), surgiu um período durante o qual poucos cantores se evidenciaram.
António Manuel Nunes, um dos mais dedicados estudiosos do fado de Coimbra, refere-se assim ao Dr. Julião:
«A crise de cantores arrastava-se desde 1935. Na primeira metade de Quarenta, os louros vão para o primeiro tenor e estudante de Letras Manuel Martins Catarino (Julião)*. Formado circa 1944-1945, era senhor de uma voz “pura e sonora , de grande efeito”, “potente e galvanizadora”..

* Manuel Julião por vezes assinava como Catarino, em homenagem ao seu pai.
Nunes, António Manuel . Da(s) Memória(s) da Canção de Coimbra, in Canção de Coimbra, Testemunhos Vivos. Edição D.G.A.A.C. 2002,Coimbra

José Anjos de Carvalho e António Manuel Nunes, em publicações nos blogs guitarradecoimbra.blogspot.com    e   guitarradecoimbra4.blogspot.com, informam-nos :
«Enquanto aluno, MSJ destacou-se como solista titular do naipe dos primeiros tenores do Orfeon de Raposo Marques (1943-44 e 1944-45). Neste organismo chegou a integrar os respectivos corpos directivos e a colaborar com o regente como júri de selecção de candidatos. Em 1944-45 dividiu os solos do Orfeon com outros dois serenateiros, Napoleão Amorim e Mário Mendes. A título de exemplo foi MSJ quem examinou Augusto Camacho Vieira nas provas de aptidão vocal para o Orfeon.»

Manuel Simões Julião não gravou qualquer disco.
É possível que haja  registos da sua participação em alguns eventos:
- Serenata do Centenário de Hilário,  no Pátio da UC em 4/06/1964 - teve transmissão na Emissora Nacional e na RTP.
- Homenagem a Lucas Junot, no pátio do Museu Machado de Castro em 25/07/1970
“Serenata” realizada por Manuel Julião/Manuel Branquinho em 1973, no auditório do Instituto de Antropologia, no âmbito dos encontros anuais de antigos estudantes promovidos pela AAEC, habitualmente  gravados por Condorcet Pais Mamede.

Como compositor, temos conhecimento de dois fados de sua autoria, que vieram a se gravados por outros cantores seus amigos, e que algumas vezes o visitaram em Mortágua.

Manuel Duarte Branquinho, no EP “Manuel Branquinho”, Porto, Orfeu, ano de 1968 gravou o tema:
MINHA MÃE (Ó minha mãe, minha mãe)
Música: Manuel Simões Julião; Letra: Manuel Simões Julião
Data: 1945


Oh minha mãe, minha mãe,
Oh minha mãe pobrezinha,
Guarde-te Deus lá nos céus,
Oh minha santa mãezinha.

Sou pobre, não sou ninguém,
É grande a minha pobreza;
Eu só vivo da saudade
Que é toda a minha riqueza.


Em 2007, Fernando Rolim  no CD “O regresso de quem nunca partiu”,  Ovação, gravou o outro fado

FADO DA LOUCA (Chamou-me louco uma louca)
Música: Manuel Simões Julião ; Letra: 1ª quadra de Manuel Simões Julião; 2ª quadra de Henrique de Miranda Martins de Carvalho
Data: 1949-1950


Chamou-me louco uma louca
Que me trata com desdém.
Sou louco mas é por ela,
(Ai2) Que é louca não sei por quem.

Todas as vezes que eu passo
Pela rua onde tu moras,
Eu coro quando te vejo
(Ai) E tu, ao ver-me, descoras

Manuel Simões Julião faleceu em Mortágua no dia 11 de Junho de 1982, estando sepultado no cemitério da Pampilhosa, Mealhada.

Nota: Exceptuando as informações de natureza pessoal, o texto é no geral copiado, sem qualquer intenção de plágio, de José Anjos de Carvalho e António Manuel Nunes, em publicações nos blogs guitarradecoimbra.blogspot.com  e   guitarradecoimbra4.blogspot.com, sem dúvida alguma, fontes indispensáveis a quem se queira debruçar sobre a Canção de Coimbra, pelo rigor e abundância de informação que disponibilizam nas suas publicações.

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