terça-feira, 30 de maio de 2017

 
 
ANTÓNIO BARBOSA
 
Ao folhear uma Defesa da Beira de 1965, encontrei uma nota biográfica sobre António Barbosa, que morrera nesse ano, da autoria de Joaquim de Oliveira. Naturalmente que fiquei curioso, mas nunca tive oportunidade de ver nenhuma obra sua, até agora.
A sua filha, professora Cilinha Barbosa, teve a gentileza de me deixar ver  e fotografar as poucas obras que tem em seu poder, e que, embora captadas em condições deficientes, aqui publico.
 
Pintura inacabada - Manuel d'Arriaga


Auto-retrato, a carvão
 

António José de Almeida, desenho a carvão

Teófilo Braga 
 
Encontrei entretanto uma referência sobre ele num livro de Tomás da Fonseca.
Em 3 de Novembro de 1918, António Barbosa foi preso juntamente com outros sete mortaguenses, entre os quais Tomás da Fonseca. Foram enviados para a penitenciária de Coimbra onde permaneceram até 29 de Novembro de 1918. No ano seguinte Tomás da Fonseca publicou um livro intitulado Memórias do Cárcere, onde descreve os seus companheiros, e diz de António Barbosa:

«Criminoso número 5: António Barbosa. Operário decorador, foi sempre um republicano dedicado. Não tem ódios nem vaidades. Por isso ninguém compreendeu como ele, tão moço ainda, fez parte desta galeria de criminosos célebres. »
FONSECA, Tomás da: Memórias do Cárcere; França e Arménio, Livreiros Editores.Coimbra 1919


Transcrevo na íntegra o artigo de Joaquim Oliveira:
DEFESA DA BEIRA - 22 de Agosto de 1965
António Barbosa

(PINTOR)

Jovem ainda e sonhador, quando na alma radiosa lhe desabrochavam dezenas de aspirações, uma aspiração mais alta o dominava: queria ser Pintor.

Mas como poderia estudar a Arte sublime de Miguel Ângelo e Leonardo da Vinci, se era tão pobre e a sua família dispunha de tão minguados recursos?

- Um dia abalou para Coimbra. E naquele ambiente de romântica suavidade, inspirador de tantos dos maiores Poetas de Portugal, mais se lhe avivou a paixão de vir a ser um Artista.

E tomou uma resolução: trabalhar, suar, sofrer, ter mesmo encontros com uma senhora tão do meu conhecimento – a Fome, para se poder matricular na Escola Brotero. E assim fez, anos e anos, até finalizar o seu curso.

Mas…eis o pior: Num meio de embotada sensibilidade, o viver dum Artista como António Barbosa era difícil. O fotógrafo sempre teve , e tem, outras possibilidades: tira fotografia de pessoas ou paisagens, amplia-as e pode torná-las mais «bonitas», colorindo-as. O Pintor não. Este não vê apenas o que pinta: sente-o! Uma árvore que tenha de pintar olha-a como uma irmã vegetal. Vê-a – e sente-a! Sente-lhe o latejar da seiva como sente o bater do seu próprio coração! Por isso numa pintura original sempre existe parte da fusão de duas almas: da alma do Artista e do ser, ou coisa, que pinta.

Mas a época em que António Barbosa viveu não era propícia à florescência da sua maravilhosa Arte! E bem pode considerar-se infeliz uma época em que mais se aprecia, e quase glorifica, o músculo do que a beleza sublime produzida pelo talento!

A posse exclusiva do materialismo, longe de dar a felicidade cansa e desgosta como a satisfação dum prazer físico em que não entra a espiritualidade! – E assim o Pintor magnífico que era António Barbosa viu tão brutalmente despedaçarem-se-lhe as esperanças e quimeras contra a indiferença calosa de tal multidão como contra os rochedos se despedaçam as ondas do Mar!

Edgar Poe, genial Poeta norte americano, costumava beber demasiadamente, para esquecer a tragédia da sua vida.

Não seria de admirar que o Pintor António Barbosa se «alegrasse» de vez em quando, para sentir menos viva a sua mágoa!

***

Mas era preciso viver- e sobreviver! E António Barbosa aceitou um cargo público: o de amanuense da Câmara Municipal. Exerceu-o com proficiência e dignidade até atingir a idade da sua aposentação. Marido e pai extremoso, foi uma personalidade bondosa e popularíssima!
 
***

Mortágua teve, e tem, a honra de ser berço de médicos distintos, advogados eloquentes, professores competentíssimos, comerciante e industriais activos, mas só um dos seus filhos era Pintor com um curso das Belas Artes: António Barbosa.

Morreu. Mas o seu nome será sempre lembrado.

Agosto de 1965
Joaquim de Oliveira
 

domingo, 28 de maio de 2017




Alfredo Cândido

Foi um artista polifacetado, mas que ficou mais conhecido pela caricatura, essencialmente de caracter político.
Vejamos uma pequena biografia que Osvaldo de Sousa escreveu sobre ele:

Ponte de Lima, 27/1/1879 —Lisboa, 27/7/1960).
Fez os seus estudos na Escola Industrial de Viana do Castelo, emigrando depois com toda a família para o Brasil, em 1895. Ai, ele e o irmão iniciaram a sua actividade jornalística como caricaturistas, publicando com grande sucesso em Portugal Moderno, O Dia, Jornal do Brasil, Larva, etc. (por vezes sob o pseudónimo de Jacques Dubois). O seu irmão permaneceu no Brasil, mas no principio do século Alfredo regressou a Portugal, prosseguindo a actividade de caricaturista em periódicos como Brasil-Portugal (1900-1907), O Vira (1906), A Garra (1907), O Matias, de que foi director e desenhador principal (1913), O Ze (1914), A Batalha (1925), O Espectro (1925), Os Sportsinhos, Sempre Fixe, Tic-Tac, Acção, etc. Ilustrou diversos livros. Foi director de Turismo. Revista de Propaganda de Portugal.

In SOUSA, Osvaldo Macedo de :As Caricaturas da Primeira República; Edições Tinta da China, 2010

Na verdade, para além dessa actividade, desenhava e pintava muito bem outros motivos. Existem na internet alguns quadros dele que se podem apreciar.

Quando procurávamos esclarecer outros assuntos, encontramos na DEFESA DA BEIRA de 25 de Janeiro de 1948 um interessante artigo sobre uma permanência de Alfredo Cândido em Mortágua, onde fez uma exposição de quadros com motivos locais que executou.
Dada a quantidade de quadros apresentados, presumimos que deve ter permanecido bastante tempo por estas paragens.
Vejamos o que dizia ao artigo:

 Motivos regionais
O lápis de Alfredo Cândido, o artista que transformou o «viveiro» do Jardim-Escola João de Deus, de Mortágua, num viveiro de motivos regionais, paisagens que a nós nos parecem toscas, sem merecimento, sem interesse, mas que o artista, em pinturas maravilhosas, imprimiu ao amplo salão um formidável aspecto digno de admirar-se e nas quais as criancinhas hão de recrear o seu olhar curioso e ávido de coisas belas.
Entre os desenhos paisagistas que fazem parte do friso que classificamos de regionalista, podem admirar-se:
- Um trecho das vizinhanças do jardim-Escola;
- Um lavrador, com a sua junta de bois, a lavrar a terra;
- Rigueiras – vendo-se, ao fundo, os contrafortes do Caramulo, e, ao lado, um trecho da pitoresca «Quinta da Velha».
- Jardim público, com o respectivo coreto, que alguém classificou de monumento ao músico desconhecido;
- Açude à ponte de Vale de Açores, com o respectivo moinho;
- Ermida de Nossa Senhora de Fátima, acoitada pela gigantesca sobreira;
- Uma visita panorâmica do Cabeço do Senhor do mundo, tendo, por fundo, a serra do Caramulo;
- Igreja de S. Gens, em Pala, vista do caminho da Palinha;
- A pitoresca ponte do Barril, tendo por fundo, o Barril de Cima;
- Uma rua de vale de Açores – casas típicas;
- Um trecho das eiras no alto do Outeiro;
-Um alpendre, no cimo do Cabeço, junto à capela do Senhor do Mundo;
- Ponte metálica do Caminho de Ferro, paralela á ponte de pedra, vista do Caneiro;
- Pelourinho de Mortágua;
- Um trecho da Rua de Trás, com todas as suas derrocadas;
- Um trecho do Chão de Calvos com a sua capela tradicional e entrada para o fontenário e ruínas da antiga casa da guarda;
- Casa na povoação da Gândara, onde nasceu D. Maria Isabel;
- Casa de residência do dr. Aníbal Dias e um recanto da sua entrada, onde se vê a legenda «Vila Maria Isabel»;
- Chafariz de Mortágua e edifício dos Paços do Concelho que lhe fica em frente;
- Ao centro – o Brasão de Mortágua. São 40 metros de friso com 80 centímetros de altura.

Com muita pena nossa, não conseguimos até hoje nenhuma pista sobre a localização dessas obras, que seria interessante ver, quer pela qualidade do autor, quer pelo interesse histórico que hoje teriam. Se ainda existirem, é provável que pertençam a particulares, que, com alguma probabilidade, nem sabem a que é que dizem respeito…
 As medalhas de Tomás da Fonseca
 
As medalhas são uma forma de arte escultórica com grande número de admiradores, e que pelo facto de serem editadas em maior quantidade permite que sejam adquiridas por preços muito mais acessíveis do que as  esculturas. De qualquer modo, passada a fase de lançamento, a maioria delas deixam de estar ao alcance de quem as poderia querer adquirir.
Foi o que aconteceu com as que hoje mostramos. Não as compramos na altura, por não as termos visto, ou por não termos dinheiro disponível, e hoje não as encontramos.
Ainda assim, tivemos  a possibilidade de as ver e fotografar, e aqui deixamos as imagens que obtivemos:
 
1-Medalha da autoria de A.Belo Marques
 
 
 
 
Medalha da autoria de David Oliveira
 
 

 

 
 

Eugénio dos Santos Carvalho

Foi um oficial do exército, engenheiro e arquiteto, que atingiu os mais altos postos da sua profissão, chegando a inspector das Reais Obras de Arquitetura da Corte, arquiteto do Senado de Lisboa, Arquiteto da Marinha e Director da Casa do Risco.
Após o Terramoto de 1755, adquiriu grande notoriedade, sendo um dos principais responsáveis pela reedificação de Lisboa, juntamente com o engenheiro-mor Manuel da Maia e o engenheiro Carlos Mardel.
Grande parte do plano de recuperação de Lisboa é de sua autoria, principalmente da baixa pombalina. O anteprojeto da estátua de D. José no Terreiro do Paço, os edifícios da Alfândega, do Arsenal, da fábrica de tabaco e da Ribeira das Naus, terão saído dos seus traços.

Porque falamos dele?
Não há dúvidas que nasceu em Março de 1711 , na casa dos Carvalhos, na Rua Direita da Freguesia de Nossa Senhora dos Prazeres, em Aljubarrota, terra de onde era natural a sua mãe.
Quanto ao seu pai as informações são contraditórias:
1 -  Segundo História de Portugal – O Guia Online da História de Portugal,
« O pai de Eugénio dos Santos e Carvalho tinha como emprego, na altura, uma profissão que hoje seria equivalente a um mestre-de-obras e projetista…..
…..o seu pai era natural da região de Cantanhede. »
2- Segundo a Página SIGARRA- Universidade do  PORTO
«..Eugénio dos Santos e Carvalho nasceu…... no seio de uma família de pedreiros de Mortágua . Seu pai, António dos Santos, fora pedreiro e mestre de riscar obras e seu avô paterno, António de Carvalho, fora pedreiro. »

Para sermos honestos, não conseguimos ir mais longe na pesquisa, e se bem que a segunda hipótese nos fosse mais agradável, não temos onde nos basear para a apoiar.
Morreu em Lisboa, a 5 de Agosto de 1760 sendo  sepultado na Igreja de S. Francisco.

Como curiosidade deixamos aqui a carta de arquiteto da Cidade concedida a Eugénio dos Santos Carvalho, que copiamos de Maria de Lurdes Ribeiro da Silva:

Eugénio dos Santos de Carvalho, 1750

[Carta de Arquitecto da Cidade dada a Eugénio dos Santos]

(...) Fazemos saber aos que esta nossa carta virem, que perante nôs pareceo por sua petição o Cappitão Eugenio dos Sanctos, dizendo nella ser architecto nesta corte, e que por fallecimento de seu sogro Manuel da Costa Negreiros, ficara vaga a occupação de Architecto da Cidade, e por que nelle supplicante concorriao as sircunstancias percissas para nelle ser provido o ditto officio: Pedia ao Senado lhe fizesse merce de o prover na propriedade do ditto officio. E (...) constou ser o supplicante Limpo de sangue, muito bem procedido e perito na arte da architectura, que com boa aceitação exercia nesta Corte havia annos, e ser genro de Manuel da Costa Negreiros fallecido, que com boa assistencia e capacidade havia servido de propriedade o mesmo officio, lhe demos o seguinte despacho para se lhe passar sua carta.
Passe se lhe carta na forma do estillo. Meza 22 de Agosto de 1750. (...) Por virtude do qual despacho, havemos por bem de o prover, como com effeito provemos ao ditto Eugenio dos Sanctos, na propriedade do officio de Architecto da Cidade, que pessuirá em todos os dias de sua vida, e com elle havera vinte mil reis de ordenado, pagos aos quarteis pella fazenda da Cidade (...), que ele em tudo guardara seu servisso e o do Senado, e o direito às partes: e será obrigado a cumprir as ordens do Senado, e a vir a elle todas as vezes que for chamado, e a hir as vistorias em q’ for precissa a sua assistencia; Por certeza do q’ lhe mandamos passar a presente por nôs assinada, e passada pella Chancellaria da Cidade (...). Lisboa 9 de Setembro de 175047.

47 AML-AH, Chancelaria Régia, Livro 11º de Consultas e Decretos de D. Maria I, [fl. 58doc.], transcrito por Maria de Lurdes Ribeiro da Silva, “Eugénio dos Santos e o estatuto do Arquitecto da Cidade”, op. cit., pp. 125-126.

O Grande Ignoro

Em tempos contava-se um anedota de um sujeito que nunca tinha visto aviões, e quando viu um a passar próximo perguntou ao amigo que o acompanhava o que era aquilo. O amigo que também não conhecia tal objeto logo respondeu: Ignoro. Ao que o primeiro retorquiu: Mas que grande ignoro!...

Assim estou eu. Já perguntei a várias pessoas o que era aquela construção que se encontra junto ao chafariz, mas toda a gente me diz: ignoro.
Ainda pensei que dentro um mês, no máximo dois, alguém mo saberia dizer, mas nada. Quando dizem é algo tão desencontrado, que rapidamente chego à conclusão que estão enganados.
Quase chego a pensar que quem mandou construir aquilo também não sabe para que serve. Mas não há dúvida que o Ignoro é grande. Só me falta saber quem é a anedota… será quem mandou construir o Ignoro? Ou será que é de nós, pagantes do Ignoro, que alguém se esta á a rir?

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Os pinos que a nortada trouxe...
 

A rua João Lopes de Morais era ladeada, no lado esquerdo de quem circula de automóvel, por uma fila de vasos com flores, que os jardineiros do município cuidavam com dedicação e bom gosto, dando cor e beleza á nossa vila.
Pois bem, chegou aí o vento Norte, que com a sua sensibilidade gélida, tratou de substituir as flores por uns 95 frios e cortantes pinos de aço inox. E ainda ficou com alguns de reserva...
 

Não conseguimos descortinar qualquer vantagem estética. Quando muito, terá a vantagem de não necessitar de manutenção. Talvez o executivo esteja a pensar em dispensar pessoal...
Mas em contrapartida antevemos alguns problemas. A começar pelo tamanho dos pinos. São pequenos, e é fácil alguém tropeçar num deles, especialmente em dias em que esteja muita gente nas ruas, e se propiciem as desatenções.
Quando forem as "tasquinhas" é provável que voltemos  a falar no assunto...
Outro problema é o formato. Aquele bordo cortante, absolutamente desnecessário, é uma ameaça a quem por azar deixar um automóvel aproximar-se. Consta-me que já aconteceu, mas se não aconteceu, é muito possível que aconteça. Esperemos que não seja ao Audi da Câmara, que gosta de andar "na brasa".

Temos uma dúvida final. Porque é que em determinadas zonas do passeio não há pinos. Será para permitir o estacionamento em zonas "privilegiadas", como se vê nesta fotografia?
Uma inundação em Mortágua

Já há uns anos que não acontece uma inundação séria em Mortágua, e para os mais novos isso é um fenómeno que nunca viram. Mas pode acontecer a qualquer momento. As fotografias que hoje publicamos são da autoria do engenheiro António Lourenço, obrigatoriamente anteriores a 1965, ano em que foi inaugurado o edifício actual da Câmara Municipal.



Para quem não conheceu, esta era a rua João Lopes de Morais. Ao fundo á direita estão edifício antigo da Câmara Municipal, por trás do chafariz; ao fundo à esquerda estão os armazéns Lobo, e  entre os dois edifícios, a Rua de Trás.


 Este era o aspecto da Rua de Aveiro, também chamada Rua da Vala, vendo-se á direita a casa do Sr. Manuel Lourenço, e à esquerda o respectivo Peugeot.
 
Esta fotografia mostra a zona da vala, à esquerda da rua de Aveiro, para quem se dirige ao centro da vila.

 

 
Esperemos não ver imagens actuais deste tipo, mas se tal acontecer, convém saber que não é a primeira vez ...

quinta-feira, 25 de maio de 2017


Um maestro da Banda Filarmónica de Mortágua

Não sei se existe documentação que permita reconstituir a história da Filarmónica de Mortágua desde o seu início. Admitindo que existam muitas lacunas, qui deixo um pequeno contributo que desencantei nas minhas deambulações pelo espaço virtual.
Não sei durante quanto tempo, a Filarmónica de Mortágua teve a dirigi-la um maestro chamado António Augusto dos Santos. Este maestro nasceu a 22 de Agosto de 1850 em Casal Novo, da freguesia de Molelos e concelho de Tondela. Faleceu a 24 de junho de 1928, com a idade de 77 anos.
De concreto sabemos que em Maio de 1893, dirigiu a Filarmónica de Mortágua na Festa de Santa Cruz, no Vimieiro, num despique “acirrado” com a sua antiga filarmónica de Santa Comba Dão.
Ainda no ano de 1893 terá abandonado a Filarmónica de Mortágua, para fundar a Filarmónica Fraternidade de S. João de Areias.
Fotografia da Filarmónica Fraternidade
Temos a informação que anteriormente foi fundador de uma filarmónica em Carregal do Sal, e dirigiu a filarmónica de Cabanas de Viriato, e a Filarmónica Filantropia (Música Nova) de Santa Comba Dão.

 Bibliografia:
 

 
NUNES, António Nunes da Costa Neves: António Augusto dos Santos (1850-1928), Fundador da Filarmónica Fraternidade de S. João de Areias. Artigo publicado no jornal Defesa da Beira, n. 3685, p. 12 (26 Fev. 2016); n. 3686, p. 11 (04 Mar. 2016); n. 3687, p. 10 (11 Mar. 2016); n. 3688, p. 13 (18 Mar. 2016); n. 3690, p. 11 (01 Abr. 2016); n. 3691, p. 13 (08 Abr. 2016), Santa Comba Dão (alterado e acrescentado).

O dever de defender a Pátria em 1808

 

Após a 1ª invasão, e antes de desencadeada a 2ª invasão francesa, foi publicado um decreto real, determinando os deveres dos portugueses  quanto à defesa do território, e as penas decorrentes do seu incumprimento. Assinado pelos Governadores do Reino, porque a Família Real e a Corte se encontravam no Brasil… incluindo é claro os Duques do Cadaval, senhores de Mortágua.

Decreto Real

Sendo a defesa da Pátria o primeiro dever que a honra, a razão, e a mesma natureza impõem a todos os homens, quando uma Nação bárbara, desprezando os direitos mais sagrados que no mundo se conhecem, intenta reduzi-los á escravidão, roubando as suas propriedades, destruindo a sua Religião, violando os Templos, e cometendo as maiores atrocidades, que a perversidade dos costumes, e a inumanidade pode fazer imaginar; e achando-se infelizmente Portugal ameaçado de sofrer todos estes males, sem que tenham os seus habitantes outro algum meio de evitar os horrores a que se vêm expostos, que não seja o de recorrer ás armas para repelir pela força as perversas, sinistras e odiosas intenções dos seus inimigos: Sou servido determinar, que toda a Nação Portuguesa se arme pelo modo que a cada um for possível: que todos os homens, sem excepção de pessoa, ou classe, tenham uma espingarda, ou pique com ponta de ferro de doze a treze palmos de comprido, e de todas as mais armas que as suas possibilidades permitirem. Que todas as Cidades, Vilas, e Povoações consideráveis se fortifiquem tapando as entradas, e ruas principais com dois, três e mais traveses, para que, reunindo-se aos seus habitantes todos os moradores dos Lugares, Aldeias, e Casais vizinhos, se defendam ali vigorosamente quando o inimigo se apresente: que todas as Camaras, e na Cidade de Lisboa todos os Ministros dos Bairros remetam no espaço de oito dias, depois da publicação deste Meu Real Decreto, ao General Governador das Armas da respectiva Província, uma Relação das Pessoas que pela sua actividade, desembaraço, bom comportamento, e pela afeição dos Povos, forem mais capazes para os comandar, preferindo em iguais circunstâncias os que já forem Oficiais de Ordenanças; declarando aqueles dos ditos Oficiais, que, pela sua idade, moléstias, ou más qualidades, não deverem exercer os postos que ocupam: que todos os Generais encarregados dos Governos das Armas nas Províncias dividam os seus Governos em Distritos grandes, e nomeiem, um Oficial de reconhecida actividade e probidade, seja de Tropa de Linha, Milícias, ou Ordenanças, a quem todos os Capitães Mores, e mais Oficiais de Ordenanças obedecerão em virtude da mesma nomeação, para que passando ás diferentes Povoações do seu Distrito, examinem o estado das Companhias, nomeiem para Oficiais delas (das Pessoas escolhidas pelas Camaras) as que julgarem mais dignas e capazes, as quais começarão desde logo a exercer os seus lugares, e receberão depois as competentes nomeações dos sobreditos Generais: que todas as Companhias se reunirão nas suas Povoações todos os Domingos, e Dias Santos para se exercitarem no uso das armas que tiverem, e nas evoluções militares, compreendendo todos os homens de idade de quinze até sessenta anos. Finalmente, que toda a pessoa que se não armar, recusando concorrer com a Nação em geral para a defesa da Pátria, seja presa, e fique incursa na pena de morte, e que igualmente incorram na mesma pena de morte todos aqueles que fornecerem qualquer socorro ou auxilio aos inimigos com viveres, ou de outra maneira: que pela mesma razão seja queimada e arrasada aquela Povoação que se não defender contra os agressores deste Reino, e lhes franquear a sua entrada, sem lhes fazer toda a resistência possível. E mando a todos os Generais, e Governadores das Armas das Províncias, ao Intendente Geral da Policia, e a todos os Corregedores, Ouvidores, Juízes de Fora, e Ordinários, e geralmente a todos os Oficiais Militares de Justiça ou Fazenda, concorram para o cumprimento de tudo quanto neste meu Real Decreto vai determinado, o qual será afixado em todos os lugares públicos das Cidades, Vilas Lugares, e Povoações deste Reino; para que chegue ao conhecimento de todos os seus Habitantes.

O Conselho de Guerra o tenha assim entendido, e faça executar. Palácio do Governo em 11 de Dezembro de 1808.

 = Com três Rúbricas dos Senhores Governadores do Reino.

Impresso na Impressão Regia.

 

quarta-feira, 24 de maio de 2017


Sobre o livro Mortálacum

Antes que o Câmara de Mortágua o reedite

A Câmara de Mortágua patrocinou em 2016 a reedição do livro O pelourinho de Mortágua, que fez acompanhar de um piedoso prefácio da Professora Dr.ª Maria Alegria Fernandes Marques que diz : «Embora não seja de esperar - muito menos exigir - um grau elevado de rigor histórico na obra de Assis e Santos, ela merece ser celebrada, tal qual o faz hoje, o Município de Mortágua. Assis e Santos é uma figura conhecida e lembrada na terra, cuja memória não é demais enaltecer; a sua obra é – passadas tantas décadas – ainda a base do conhecimento do seu passado.». A afirmação contém em si algo de contraditório – não seria de esperar que algo com pouco rigor histórico, constituísse base de conhecimento. Mas seria de esperar que alguém com créditos firmados lesse a obra com mais atenção e fizesse um comentário com mais rigor…

Em 1961, Joaquim da Silveira, em artigo publicado na Revista Portuguesa de Filologia  intitulado  Uma explicação sobre “Mortágua”, falando sobre o livro Mortálacum comenta : «Nessa monografia, que me parece geológica e topograficamente valiosa (Sem poder dizer o mesmo no ponto de vista histórico e menos ainda quanto a etimologias…)».

Se eu bem entendo, o livro carece de valor histórico e não merece crédito quanto às etimologias.

Mesmo sob o ponto de vista geológico, a obra pareceu-me ter algumas coisas de duvidosa natureza científica. Mas como o meu conhecimento de geologia é muito exíguo, para não dizer nulo, decidi pedir a opinião de um geólogo credenciado, professor associado convidado do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Coimbra, que teve a simpatia de ler o livro Mortálacum e transmitir-me o seu parecer:

 Livro: MORTÁLACUM, de José Assis e Santos
1-Capítulo: História do Terreno

À medida que fui lendo as páginas que o Sr. Dr. José Assis e Santos dedica à geologia da zona de Mortágua verifiquei que os conhecimentos e informações nelas referidos mostram um grau de conhecimento geológico muito restrito quando comparado com textos científicos, relativos à mesma região, já existentes à data em que o livro foi terminado.
Aliás, o próprio autor estava bem ciente do nível dos seus conhecimentos geológicos ao afirmar (págs. 16/17):

“ Porque não tenho a honra de ser geólogo, não pode ser completa nem isenta de desacertos de pormenor a súmula de geologia local que vai seguir-se.”

 “Oxalá que este humilde e embrionário esboço geológico dos nossos terrenos desperte a atenção dos geólogos de carreira para os problemas não estudados até agora que se acumulam neste exíguo espaço de uma légua quadrada onde o destino centrou a nossa existência.”

O Dr. José Assis e Santos também não se informou de trabalhos científicos existentes na época em que o livro foi escrito.
Efetivamente, em 1944, o Boletim da Sociedade Geológica de Portugal, vol. 4, edita um trabalho muito bem documentado, com o título NOTES SUR LA MORPHOLOGIE ET LA GÉOLOGIE DU BASSIN DE MORTÁGUA da autoria do geólogo francês Pierre Birot (DOCTEUR ÈS LETTRES CHARGÉ DE MISSION À L'INSTITUT FRANÇAIS AU PORTUGAL).
A minúcia do trabalho efetuado por este autor só pode ter sido possível a partir de estadias prolongadas em Mortágua ou em zonas próximas.
É estranho que o Dr. José Assis e Santos que, pela sua profissão de médico, percorria regularmente todo o concelho nunca se tenha deparado com o geólogo Pierre Birot.
O nível de conhecimento geológico desta zona, já se encontrava, na época, num patamar de desenvolvimento científico aprofundado.

A leitura comparativa dos dois trabalhos torna claras as fragilidades científicas do livro o que torna inviável qualquer tipo de trabalho de revisão de texto.                                                                       

 21/05/2017

Será que alguém ficou esclarecido?

LINHA DA BEIRA ALTA

O traçado da linha da Beira Alta, foi contestado por muitos cidadãos que achavam não ser o mais adequado, aquele que acabou por ser adoptado. Vejamos uma peça da imprensa da época (1873), que ilustra essa discussão.

 
BOLETIM DO DIA

Neste país todos são doutores, todos entendem o melhor, sobre todos os assuntos, todos são enciclopedistas, e mais ainda, infalíveis, e por tal forma que não admitem senão a força dos seus argumentos, e esta às vezes nem aos seus autores convence, embora venha a lume eivada das paixões, que os dominam.
As linhas férreas internacionais que cinquenta e cinco deputados recomendaram à câmara, são consideradas por insuspeitos como de pequeno valor para o país! E sem consideração, os terrenos que cortam! Referindo-se à linha da Beira Alta, de Tomar a Almeida, argumentam com Mortágua, a grande e importante povoação que atravessa!! Falando depois em tantas povoações, parece que podiam ainda juntar a Fragua, Castro Daire, Lamego e passar mesmo o Douro para o outro lado!! Mortágua é importante, Lousã, Seia, Gouveia e Celorico, essas não prestam, e os tais homens inteligentes entendem que o caminho de ferro deve antes caminhar por meio de pinhais, através de serras, do que cortar os terrenos cultivados aproximando-se das nossas fábricas; e servir aos melhores e mais valiosos centros de produção!!!
Há coisas que fazem pasmar, e não merecem mesmo grande discussão.
A verdade é que todos se recusam neste país ao aumento de impostos, mas todos querem caminhos de fero a passar-lhes pela porta, e as dificuldades nas construções e as queixas amargas, e os protestos contra os deputados, e as ignorâncias duns e as espertezas doutros, estão consubstanciadas em se não decretarem tantos caminhos quantos os desejos daqueles que com eles pretendem melhorar de condições.
Fatal desgraça é esta! Quando lemos, ou ouvimos defender uma causa, fugindo da argumentação para o sarcasmo, taxando de pouco sabedores os que seguem  a opinião contrária, pensamos logo, que a razão não é muita, mas que a paixão dominou o espírito do orador ou do escritor, para o deixar embrenhado no meio das suas mais desencontradas conclusões, e descendo de contradição em contradição acabar nas inexactidões, que nos não parecem argumento assaz valioso.
O Tiro de Guerra em Mortágua
 
Mortágua, durante vários anos no primeiro terço do século XX, teve muitos entusiastas do tiro desportivo, chegando alguns deles a atingir posições de notoriedade, a nível nacional. A notícia que hoje transcrevemos é já de uma fase final desse ciclo, e pensamos que o correspondente que envia a notícia, é quase de certeza César Anjo.









De Mortágua
25 DE AGOSTO – Terminou hoje a disputa da Taça Portugal-América, a prova mais importante do tiro de guerra que tem lugar em terras de província. Concorreram 20 atiradores, tendo-se classificado pela seguinte ordem:
1º, do Porto, Guilherme Joaquim de Mesquita, posse nominal da taça, medalha de ouro, 12% das inscrições, 300 cartuchos e diploma de honra, 156 pontos.
2º, de Lisboa, campeão de Portugal em tiro de guerra, Rafael Afonso de Sousa, medalha de vermeille, diploma de honra, 8% das inscrições, 250 cartuchos, 146 pontos.
3º, Tenente-coronel Francisco António Real, medalha de prata, diploma de honra, 200 cartuchos, 143 pontos.
4º , Amadeu Paz Olímpio, de Coimbra, 138 pontos.
5º, Alberto Morais Lobo, de Mortágua, 134 pontos.
6º, Benjamim Cró, de Mortágua, 124 pontos.
7º, Amândio Aires Baptista, de Mortágua, 123 pontos.
8º, Mário Rodrigues, de Lisboa, 115 pontos.
9º, Arnaldo Lourenço, de Mortágua, 114 pontos
10º, António Duarte, de Mortágua, 112 pontos.
11º, José Gonçalves, de Mortágua, 102 pontos.
Houve uma desistência a meio da prova.
Notou-se, e com razão, a falta de elementos de Porto e Espinho, que tinham o dever moral de visitar Mortágua. – C.