Dr.
Artur Novais
Hoje queremos lembrar um filho de Mortágua que caiu
no completo esquecimento. Nascido no nº 14 da Rua de Aveiro,
que era a casa da sua avó, Artur Novais
acabaria por ir morar, ainda muito jovem, para Lisboa. A sua mãe, que enviuvou
cedo, voltou a casar e foi para a capital.
Licenciou-se
em Medicina em Lisboa e aí manteve
sempre a sua residência na Rua de Campolide.Casou com D. Irene, filha da 2ª esposa (D. Clarinda) do Sr. José Afonso, de Pala.
Trabalhava no Hospital dos Capuchos, era médico do pessoal do laboratório farmacêutico Vitória, e exercia clínica privada.
Médico de grande dedicação profissional e imensa generosidade, era conhecido por dar assistência a pessoas muito necessitadas, indo observá-las às “grutas” que existiam na mata de Monsanto, dando-lhe medicamentos, e por vezes até dinheiro para que pudessem comer.
Atingia situações de tamanho cansaço, que chegava a adormecer enquanto mexia o açúcar no café.
Não era homem de paixões políticas, mas nunca foi um apoiante do regime salazarista.
Se actualmente fosse vivo estaria muito contente. O Benfica, de que tanto gostava, ganhou o campeonato nacional…
Colhemos estas informações através de pessoas de Mortágua, que com ele conviveram em Lisboa. Infelizmente não pudemos aprofundar mais os dados acima referidos.
Acrescentamos uma transcrição de um nota, da qual não sabemos a autoria, publicada na
Defesa da Beira de 21 de Junho
de 1969
Dr.
Artur Novais
«
Que a sua natural modéstia e a amizade sincera com que desde sempre nos honrou
perdoe as linhas que lhe dedicamos, que elas são inteiramente justas e
merecidas sabem-no perfeitamente quantos o conhecem e admiram. Dificilmente,
muito dificilmente nos tempos que correm, se encontra uma pessoa com o seu
feitio e em especial no exercício da sua actividade profissional. Médico, com
letra maiúscula, que honra e dignifica a profissão que escolheu e a que
devotadamente se entrega, com alma e coração, com desprezo completo pela sua
saúde, pelo seu sossego e muitas vezes (tantas e tantas) pelos bens materiais.
Não errou a vocação, nasceu para ser médico e só o seu temperamento e boa
disposição permanente são como um bálsamo para os doentes. Por isso não tem
mãos a medir, por isso consegue trabalhar diariamente doze, quatorze, dezasseis
horas, sempre com um sorriso nos lábios, por isso é querido de todos quantos
com ele convivem. Jamais teve horas para as refeições, os seus telefones tocam
quase ininterruptamente, sinónimo duma actividade imensa, esgotante, cansativa…Na populosa, moderna e progressiva zona em
que vive, é pessoa muito conhecida,
popular e estimada, facto a que não é estranho, repetimos, o seu bom e generoso
coração. Para ele não importa saber se o cliente é rico ou pobre, se paga ou
não, o que conta é o doente, esse está em primeiro lugar; o resto é secundário.
Desde sempre assim trabalhou, grangeou muita fama, amizades nanja fortuna.
Ainda
recentemente num conhecido Laboratório de especialidades farmacêuticas para o
qual trabalha há 25 anos, foi homenageado por esse facto, demonstrando-lhe a
sua estima de forma inequívoca e altamente sintomática as centenas de pessoas
que ali trabalham. Escusado será dizer que uma grande parte da numerosa colónia
de mortaguenses em Lisboa lhe bate com frequência à porta, atodos procurando
atender e se possível redobrando a sua proverbial boa disposição. Para os seus
doentes não é somente o médico, é mais do que isso, é o amigo dedicado que vive
e sente os seus problemas, que presta carinhosa assistência, que apoia
moralmente.
Dr.
Artur Novais, médico distinto, feitio admirável, coração de oiro, caracter
integro, recto, honesto, mortaguense dos mais ilustres, nós o saudamos apetecendo-lhe
muitos anos de vida, muita saúde e muitas felicidades. Ele é bem merecedor de
tudo isso; pois que possa ainda por muito tempo continuar a exercer o
sacerdócio da medicina, como sempre o fez e como tão poucos o fazem,
infelizmente, e que nos desculpe estas pobres mas sinceras palavras, que só
pecam por não conseguirem traduzir aquilo que sentimos, toda a nossa admiração
e tanta ela é … »
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