Um
brasão de armas em estudo
A
frontaria da Capela de Nossa Senhora da Piedade, localizada na povoação de Vale
de Açores do concelho de Mortágua, na vizinhança da Casa Senhorial aí
existente, ostenta um belo brasão em calcário, em bom estado de conservação, embora
seja conhecida a tendência para a degradação dos monumentos construídos neste
tipo de material.
Estranhamente,
não conheço qualquer tentativa séria de interpretar esta obra de arte, que
certamente tem algo para nos contar sobre o passado da nossa terra.
Ocasionalmente surgem falsos “entendidos” que atribuem o
brasão aos Condes de Odemira, ou aos Duques do Cadaval, mas não é preciso um
conhecimento muito aprofundado sobre a matéria para concluir que não tem os
elementos que caracterizam os brasões
dessas famílias de donatários de Mortágua.
Basta
um simples olhar para excluir qualquer semelhança com estes brasões de armas.
Tentemos
pois analisar os diversos componentes do brasão.
O
“coronel” que encima o brasão atesta
nobreza do seu proprietário; na heráldica portuguesa costuma corresponder a um
Duque.
1ªpala
A
primeira pala apresenta no 1º e 4º quartéis
um conjunto de 3 flores-de-lis,
, correspondente aos Esteves
No
2º e 3º quarteis, uma águia estendida,
A
conjugação destes dois elementos leva-nos a pensar num brasão da família
Esteves da Veiga.
O
terceiro elemento, uma Cruz de Cristo suspensa, brocante sobre o esquartelado,
sugere a ligação à Ordem de Cristo, que a partir de 1472 passou a ter como
mestre D. Afonso V, sucedendo-lhe os outros reis seguintes.
O Padre António Carvalho da Costa, no 3º
tomo da Corografia Portugueza, e DescripçamTopografica do Famoso
Reyno de Portugal, de 1712, Pg. 57, informa-nos :
“Henrique Esteves da Veyga & Nápoles, que foy senhor das Honras,
& lugares de Molellos, Nandufe, Butulho Real, & Castanheyra no termo de
Besteyros, & de Mortagoa, & do Conselho del-Rey D. Affonso o Quinto, ao
qual, deyxando à parte os serviços, que lhe fez neste Reyno, & em Africa,
servio mais de hum anno na guerra de Castella quando foy o da excellente
senhora com cincoenca homens de pe, & vinte & dous de Cavallo à sua
custa,& a este serviço por ser tal, & aos que havia feyto neste Reyno,
& em Africa, chamou o dito Rey serviços de eterna memoria .”
Temos
pois a confirmação que Henrique Esteves
da Veiga, que segundo alguns historiadores não usaria ainda a designação de Nápoles ( que só seria introduzida na família pelo seu bisneto Diogo Esteves
da Veiga), foi Senhor de Mortágua. Sendo membro do Conselho de D. Afonso V, não
admira que tenha sido transformado em cavaleiro da Ordem de Cristo.
Há
no entanto que chamar a atenção para que no reinado de D. Afonso V, eram
senhores de Mortágua D. Afonso de Faro, 1º conde de Faro e 2º Conde de Odemira,
e D. Maria de Noronha, que fugiram para Espanha quando D. João II mandou
prender e executar vários nobres, entre os quais o Duque de Bragança, irmão do
conde D. Afonso de Faro.
Seria
D. João II a doar Mortágua a Henrique Esteves da Veiga, entre 1490 e 1495,
depois de a ter dado a sua irmã, em 1485. Esta quis consagrar-se à vida
religiosa, e ficou conhecida como Princesa Santa Joana, embora a Igreja não a
tenha reconhecido como santa. Morreu em 1490, vítima da peste.
A
interpretação da 1ª pala que acima explanamos achamo-la satisfatória. Mais
difícil é entender o significado da 2ª pala.
No
segundo e terceiros quarteis um leão
Brocante sobre o esquartelado, escudete com um anel.
Este elemento, pela sua singularidade não nos deixa dúvidas - corresponde às armas dos Menezes
Já
os outros elementos, são elementos constituintes de muitos outros brasões de
armas, mas não encontramos nenhum com esta combinação.
Podemos
admitir que correspondam a elementos heráldicos correspondentes aos antecedentes
de Henrique Esteves da Veiga pelo lado feminino.A avó chamava-se Margarida Anes Afonso de Menezes, sendo que no brasão dos Afonso constam o castelo e o leão, e no dos Menezes o escudete com anel.
A
mãe chamava-se Leonor Anes de Vasconcelos, e os Vasconcelos também incluem um leão no seu brasão de armas.
A
ausência de cores não nos ajuda a avançar mais na interpretação do brasão. Quem
vier depois de mim que acrescente o que conseguir investigar. Eu fico por aqui.
Como
nota final assinalamos que, logo em 1496, D. Manuel I, concedeu a Sancho de
Noronha o título de 3º Conde de Odemira e todas as honras e privilégios
inerentes, o que incluía a posse de Mortágua.
Há
no entanto que chamar a atenção para que no reinado de D. Afonso V, eram
senhores de Mortágua D. Afonso de Faro, 1º conde de Faro e 2º Conde de Odemira,
e D. Maria de Noronha, que fugiram para Espanha quando D. João II mandou
prender e executar vários nobres, entre os quais o Duque de Bragança, irmão do
conde D. Afonso de Faro.
Seria
D. João II a doar Mortágua a Henrique Esteves da Veiga, entre 1490 e 1495,
depois de a ter dado a sua irmã, em 1485. Esta quis consagrar-se à vida
religiosa, e ficou conhecida como Princesa Santa Joana, embora a Igreja não a
tenha reconhecido como santa. Morreu em 1490, vítima da peste.
A
interpretação da 1ª pala que acima explanamos achamo-la satisfatória. Mais
difícil é entender o significado da 2ª pala.
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