quarta-feira, 3 de maio de 2017

 
 
 

Um brasão de armas em estudo

 
A frontaria da Capela de Nossa Senhora da Piedade, localizada na povoação de Vale de Açores do concelho de Mortágua, na vizinhança da Casa Senhorial aí existente, ostenta um belo brasão em calcário, em bom estado de conservação, embora seja conhecida a tendência para a degradação dos monumentos construídos neste tipo de material.
Estranhamente, não conheço qualquer tentativa séria de interpretar esta obra de arte, que certamente tem algo para nos contar sobre o passado da nossa terra. 



Ocasionalmente  surgem falsos “entendidos” que atribuem o brasão aos Condes de Odemira, ou aos Duques do Cadaval, mas não é preciso um conhecimento muito aprofundado sobre a matéria para concluir que não tem os elementos  que caracterizam os brasões dessas famílias de donatários de Mortágua.
 
Basta um simples olhar para excluir qualquer semelhança com estes brasões de armas.
Tentemos pois analisar os diversos componentes do brasão.
O “coronel” que encima o brasão atesta nobreza do seu proprietário; na heráldica portuguesa costuma corresponder a um Duque.
                
1ªpala                                                                                           
A primeira pala apresenta no 1º e 4º quartéis um conjunto de 3 flores-de-lis,
, correspondente aos Esteves
No 2º e 3º quarteis, uma águia estendida,
, correspondente aos Veiga.
A conjugação destes dois elementos leva-nos a pensar num brasão da família Esteves  da  Veiga.
O terceiro elemento, uma Cruz de Cristo suspensa, brocante sobre o esquartelado, sugere a ligação à Ordem de Cristo, que a partir de 1472 passou a ter como mestre D. Afonso V, sucedendo-lhe os outros reis seguintes.
O Padre António Carvalho da Costa, no 3º tomo da  Corografia Portugueza, e DescripçamTopografica  do  Famoso Reyno de Portugal, de 1712, Pg. 57, informa-nos :
 Henrique Esteves da Veyga & Nápoles, que foy senhor das Honras, & lugares de Molellos, Nandufe, Butulho Real, & Castanheyra no termo de Besteyros, & de Mortagoa, & do Conselho del-Rey D. Affonso o Quinto, ao qual, deyxando à parte os serviços, que lhe fez neste Reyno, & em Africa, servio mais de hum anno na guerra de Castella quando foy o da excellente senhora com cincoenca homens de pe, & vinte & dous de Cavallo à sua custa,& a este serviço por ser tal, & aos que havia feyto neste Reyno, & em Africa, chamou o dito Rey serviços de eterna memoria .”
Temos pois a confirmação que  Henrique Esteves da Veiga, que segundo alguns historiadores não usaria ainda a designação de Nápoles ( que só seria introduzida na família pelo seu bisneto Diogo Esteves da Veiga), foi Senhor de Mortágua. Sendo membro do Conselho de D. Afonso V, não admira que tenha sido transformado em cavaleiro da Ordem de Cristo.
Há no entanto que chamar a atenção para que no reinado de D. Afonso V, eram senhores de Mortágua D. Afonso de Faro, 1º conde de Faro e 2º Conde de Odemira, e D. Maria de Noronha, que fugiram para Espanha quando D. João II mandou prender e executar vários nobres, entre os quais o Duque de Bragança, irmão do conde D. Afonso de Faro.
Seria D. João II a doar Mortágua a Henrique Esteves da Veiga, entre 1490 e 1495, depois de a ter dado a sua irmã, em 1485. Esta quis consagrar-se à vida religiosa, e ficou conhecida como Princesa Santa Joana, embora a Igreja não a tenha reconhecido como santa. Morreu em 1490, vítima da peste.
A interpretação da 1ª pala que acima explanamos achamo-la satisfatória. Mais difícil é entender o significado da 2ª pala.
      
 
                                                              2ª pala
A 2ª pala mostra um castelo, aparentemente com 3 torreões no primeiro e quarto quarteis
No segundo e terceiros quarteis um leão
 
Brocante sobre o esquartelado, escudete com um anel.


Este elemento, pela sua singularidade não nos deixa dúvidas - corresponde às armas dos Menezes

Já os outros elementos, são elementos constituintes de muitos outros brasões de armas, mas não encontramos nenhum com esta combinação.
Podemos admitir que correspondam a elementos heráldicos correspondentes aos antecedentes de Henrique Esteves da Veiga pelo lado feminino.

A avó chamava-se Margarida Anes Afonso de Menezes, sendo que no brasão dos Afonso constam o castelo e o leão, e no dos Menezes o escudete com anel.

A mãe chamava-se Leonor Anes de Vasconcelos, e os Vasconcelos também incluem um leão no seu brasão de armas.
A ausência de cores não nos ajuda a avançar mais na interpretação do brasão. Quem vier depois de mim que acrescente o que conseguir investigar. Eu fico por aqui.

Como nota final assinalamos que, logo em 1496, D. Manuel I, concedeu a Sancho de Noronha o título de 3º Conde de Odemira e todas as honras e privilégios inerentes, o que incluía a posse de Mortágua.
 
 
 
 
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Há no entanto que chamar a atenção para que no reinado de D. Afonso V, eram senhores de Mortágua D. Afonso de Faro, 1º conde de Faro e 2º Conde de Odemira, e D. Maria de Noronha, que fugiram para Espanha quando D. João II mandou prender e executar vários nobres, entre os quais o Duque de Bragança, irmão do conde D. Afonso de Faro.
Seria D. João II a doar Mortágua a Henrique Esteves da Veiga, entre 1490 e 1495, depois de a ter dado a sua irmã, em 1485. Esta quis consagrar-se à vida religiosa, e ficou conhecida como Princesa Santa Joana, embora a Igreja não a tenha reconhecido como santa. Morreu em 1490, vítima da peste.
A interpretação da 1ª pala que acima explanamos achamo-la satisfatória. Mais difícil é entender o significado da 2ª pala.








 



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