João Lopes de Morais - 2
Em 1872, Bernardo Mirabeau, lente catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, publicou um livro intitulado "Memoria historica e
commemorativa da Faculdade de Medicina nos cem anos decorridos desde a reforma
da Universidade em 1772 até o presente", editado pela Imprensa da Universidade, no qual traça um perfil de João Lopes de Morais, que transcrevemos, embora actualizando um pouco a grafia:
« No
lugar da Gândara, freguesia de Vale de Remígio, pertencente outrora á comarca
de Viseu, nasceu o dr. João Lopes de Morais a 6 de janeiro de 1783. Foram seus
pais António Lopes e D. Joana Maria.
Frequentou
com distinção a Faculdade de Medicina, e nela recebeu o grau de doutor em 29
de junho de 1817. Como se propunha seguir a carreira do professorado, deu o seu
nome para a classe dos opositores, e em 15 de junho de 1822 foi nomeado
ajudante de clínica para os hospitais da Universidade. Na promoção de 26 de
agosto de 1825 teve o despacho de demonstrador de matéria medica, com a
cláusula de não receber a ajuda de custo correspondente até se regularem os
negócios da Faculdade. Sobrevieram as comoções políticas, que tiveram o reino
em agitação desde 1828 até 1834, e como o dr. João Lopes de Morais preferisse
ao absolutismo um governo liberal, não só foi demitido do lugar que ocupava na
Universidade, mas até perseguido e clausurado nas cadeias de Almeida.
Já por
então era o dr. João Lopes conhecido em quási todo o reino como prático, de
quem se contavam sucessos clínicos de muita felicidade. Os serviços médicos,
que prestou em Almeida, aumentaram-lhe a reputação, e até lhe conciliaram as
simpatias dos adversários políticos. Depois do restabelecimento do governo
constitucional foi reintegrado no lugar que lhe pertencia na Universidade, e
ficou como terceiro lente regendo a cadeira de Aforismos.
Concentrava-se
nesta cadeira toda a patologia e a doutrina hipocrática. Pelas reformas que
teve a Faculdade de Medicina em 1836 e 1844 mudou-se para outra cadeira o
ensino da patologia externa, e o dr. João Lopes continuou a explicar
patologia interna e doutrina hipocrática. Por vinte anos ilustrou o ensino
d'estas ciências; e como ao cabo de tão longo período subisse a lente de
prima, conhecendo que a ultima quadra da vida mais pedia descanso de que o peso
de novos encargos académicos, solicitou e obteve a jubilação em 1855.
Retirou-se para a sua casa de Mortágua, e ali faleceu em 29 de outubro de
1860.
Gozou
o dr. João Lopes de Moraes de subidos créditos como medico e professor. Aquela
fronte saliente, que parecia comprimir e dificultar a mobilidade dos olhos,
revelava grande inteligência e profunda reflexão. E de facto eram estas as
faculdades que predominavam no dr. João Lopes, e que ele desenvolveu por meio
de aturado estudo sobre os livros e de longa experiência do mundo. Não deixou
escritos por onde os vindouros possam aquilatar o seu mérito científico, mas
deixou no professorado um nome ilustre e de tal reputação, que muitos o
apelidaram o Hipócrates português da nossa idade.»
Aqui fica mais um depoimento sobre esta interessante personalidade Mortágua.
MIRABEAU,
Bernardo Antonio Serra: Memoria historica e commemorativa da
Faculdade de Medicina nos cem anos decorridos desde a reforma da Universidade
em 1772 até o presente ; Imprensa da Universidade . Coimbra
1872
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