domingo, 7 de maio de 2017

    João Lopes de Morais - 2
 
Em 1872, Bernardo Mirabeau, lente catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra,  publicou um livro intitulado "Memoria historica e commemorativa da Faculdade de Medicina nos cem anos decorridos desde a reforma da Universidade em 1772 até o presente",  editado pela Imprensa da Universidade, no qual traça um perfil de João Lopes de Morais, que transcrevemos, embora actualizando um pouco a grafia: 
 
« No lugar da Gândara, freguesia de Vale de Remígio, pertencente outrora á comarca de Viseu, nasceu o dr. João Lopes de Morais a 6 de janeiro de 1783. Foram seus pais António Lopes e D. Joana Maria.
Frequentou com distinção a Faculdade de Medicina, e nela recebeu o grau de doutor em 29 de junho de 1817. Como se propunha seguir a carreira do professorado, deu o seu nome para a classe dos opositores, e em 15 de junho de 1822 foi nomeado ajudante de clínica para os hospitais da Universidade. Na promoção de 26 de agosto de 1825 teve o despacho de demonstrador de matéria medica, com a cláusula de não receber a ajuda de custo correspondente até se regularem os negócios da Faculdade. Sobrevieram as comoções políticas, que tiveram o reino em agitação desde 1828 até 1834, e como o dr. João Lopes de Morais preferisse ao absolutismo um governo liberal, não só foi demitido do lugar que ocupava na Universidade, mas até perseguido e clausurado nas cadeias de Almeida.
Já por então era o dr. João Lopes conhecido em quási todo o reino como prático, de quem se contavam sucessos clínicos de muita felicidade. Os serviços médicos, que prestou em Almeida, aumentaram-lhe a reputação, e até lhe conciliaram as simpatias dos adversários políticos. Depois do restabelecimento do governo constitucional foi reintegrado no lugar que lhe pertencia na Universidade, e ficou como terceiro lente regendo a cadeira de Aforismos.
Concentrava-se nesta cadeira toda a patologia e a doutrina hipocrática. Pelas reformas que teve a Faculdade de Medicina em 1836 e 1844 mudou-se para outra cadeira o ensino da patologia externa, e o dr. João Lopes continuou a explicar patologia interna e doutrina hipocrática. Por vinte anos ilustrou o ensino d'estas ciências; e como ao cabo de tão longo período subisse a lente de prima, conhecendo que a ultima quadra da vida mais pedia descanso de que o peso de novos encargos académicos, solicitou e obteve a jubilação em 1855. Retirou-se para a sua casa de Mortágua, e ali faleceu em 29 de outubro de 1860.
Gozou o dr. João Lopes de Moraes de subidos créditos como medico e professor. Aquela fronte saliente, que parecia comprimir e dificultar a mobilidade dos olhos, revelava grande inteligência e profunda reflexão. E de facto eram estas as faculdades que predominavam no dr. João Lopes, e que ele desenvolveu por meio de aturado estudo sobre os livros e de longa experiência do mundo. Não deixou escritos por onde os vindouros possam aquilatar o seu mérito científico, mas deixou no professorado um nome ilustre e de tal reputação, que muitos o apelidaram o Hipócrates português da nossa idade.»
 
 Aqui fica mais um depoimento sobre esta interessante personalidade Mortágua.
 
MIRABEAU, Bernardo Antonio Serra: Memoria historica e commemorativa da Faculdade de Medicina nos cem anos decorridos desde a reforma da Universidade em 1772 até o presente ; Imprensa da Universidade . Coimbra 1872
 
 
 


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