Em 8 de Junho de 1958, realizaram-se eleições
para a Presidência da República, as primeiras que chegaram até ás urnas, desde
1926.
Depois da desistência de outros candidatos, a
Oposição acabou por concentrar o seu apoio no General Humberto Delgado. Há que
referir que este candidato, começou por ser um apoiante da ditadura, e um
salazarista dedicado. Depois de um estágio nos EUA, voltou com novas
perspetivas e entrou em conflito com o regime.
O general despertou um apoio entusiástico por
parte da população, que lhe manifestou publicamente a sua aderência à sua
candidatura, em toda a parte onde foi anunciada a sua passagem durante a
campanha eleitoral, como o demonstram as fotografias publicadas em alguns
jornais da época.
Chegou a acreditar-se, entre
a Oposição, que as eleições seriam livres e justas.
As promessas de alguns autarcas, como o de
Mortágua, asseguravam que nos seus concelhos assim seria.
Apesar de alguns sectores da oposição defenderem
que não havia condições para se realizarem eleições minimamente justas, a
expectativa de algo se conseguir mudar, contribuiu para que a candidatura
prosseguisse até final.
Desde logo, a percentagem de pessoas com
capacidade eleitoral era reduzida - numa população que no censo de 1960 contava
com
8182 647 residentes, o número de eleitores, em
1958, ficava-se por 1 198 322, inferior a 15%.
Muitas foram as dificuldades levantadas à
propaganda eleitoral d Humberto Delgado. A título de exemplo:
- a 16 de Maio a GNR impede o general de chegar á Póvoa do Varzim em
cortejo automóvel, forçando-o a entrar sozinho e a pé. À sua chegada a Lisboa
os apoiantes que o aguardavam são dispersados por cargas da GNR a cavalo, e
saem dos quartéis tanques de guerra pra ocupar posições estratégicas.
- a 18 de Maio, no final de um comício no Liceu Camões, são efectuadas cargas
de forças militares, policiais e da GNR sobre os apoiantes do general.
- a 3 de Junho a PIDE invadiu a sede da candidatura de HD na Avenida da
Liberdade, em Lisboa.
- a 5 de Junho –a PIDE deteve os elementos das comissões de apoio à
candidatura de Delgado em Chaves, Braga e Guimarães, e não diremos mais porque
para exemplo já basta.
No dia da eleição o governo publicou um decreto–lei
que proibia a Oposição de fiscalizar as assembleias de voto. Havia claro
propósito de falsear os resultados eleitorais, havendo mesmo nos arquivos da PIDE/DGS
documentos que descrevem em pormenor, métodos de viciação de resultados
eleitorais. Para além das fraudes de caracter local, como o daquela assembleia de
votos com 80 eleitores onde Américo Tomás teve 600 votos a seu favor, havia mesmo
indicações para que os resultados de Humberto Delgado não ultrapassassem uma
determinada fasquia.
Os resultados oficiais, referiram uma participação eleitoral de 71% de
votantes, e a 28 de Junho, o Supremo Tribunal de Justiça atribui
758.998 votos a Américo Tomás (75%) e 236.528 a Humberto Delgado (23%).
Houve no entanto assembleias
de voto, entre elas as de Mortágua, em que houve fiscalização da Oposição, neste
caso por compromisso do Presidente da Câmara, José Abreu. Em cerca de 400 dessas
assembleias de voto, Humberto Delgado ganhou as eleições.
No concelho de Mortágua que nessa
época contava com mais residentes do que actualmente (13 024 em 1960, 9 607 em
2011), e tinha 2 169 eleitores dos quais
votaram 1583 (73%), Humberto Delgado ganhou
com 56,6% (896) dos votos expressos, ficando Américo Tomás nos 43,4% (687).
Américo Tomás ganhou
no Sobral, em Almaça e em Tresoi, e perdeu nas restantes mesas eleitorais.
Na
sequência das eleições, Humberto Delgado e muitas individualidades apresentaram
o seu protesto e contestaram os resultados eleitorais , o que não teria qualquer
consequência prática.
Em
Mortágua este resultado teve uma consequência imediata – a substituição de José
Abreu por Artur de Gouveia Leitão.
GUERRA, João Paulo, em Diário Económico, Fevereiro de 1998, Nos 40 anos da campanha do general
Humberto Delgado
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