António Lopes de Araújo
Foi uma figura fascinante de revolucionário, lutador pela República e contra a Ditadura Militar e o Estado Novo, que tem caído no esquecimento, apesar de ter legado á sua terra razões mais do que suficientes para ser lembrado.
Nasceu no lugar e freguesia da Marmeleira, do Concelho de
Mortágua, em 23 de Agosto de 1897. Era filho de Joaquim Lopes Pereira e de
Maria da Encarnação Araújo Lopes Pereira.
Alistou-se no Corpo de alunos da Escola de Guerra em 15 de
Fevereiro de 1918.
Em Janeiro de 1919 , fez parte de um grupo de cerca de 30
alunos da Escola de Guerra que desencadeou o ataque da bateria da Escola,
contra os monárquicos sublevados em
Monsanto, numa tentativa de derrubar a República. Essa mesma bateria seguiu
depois para o Norte, para combater a chamada Monarquia do Norte, e aí se
manteve até 13 de Março.Vendas Novas, Nov. 1922 (Curso de Alferes) – A.L.Araújo é o segundo da esquerda, em pé.
Foi promovido a alferes e 12 de Junho de 1919, e entrou para
o Regimento de Artilharia Ligeira nº 2 (Coimbra).
Alguns dos oficiais da guarnição de Coimbra, matriculados na Universidade – 1922. Pensamos tratar-se do primeiro indivíduo sentado à esquerda, ao cimo das escadas.
Foi promovido a tenente em 10 de Março de 1923.
Em Outubro de 1925 foi-lhe concedida licença para fazer os
preparatórios para o curso de Estado Maior.Depois da instalação da Ditadura Militar é preso pelo comando militar de Coimbra, no dia 22 de Novembro de 1927, acusado de fazer parte do comité revolucionário daquela cidade e enviado no dia seguinte para a “Casa de Reclusão Temporária “ do Forte de S. Julião da Barra.
Forte
de S. Julião da Barra, Dez. 1927
Em 28 de Janeiro de 1928 consegue fugir de bordo do barco
“Formoso”, quando este levantava ferro em Lisboa com destino aos Açores, para
onde seria deportado.
Em 15 de Novembro de 1928 é preso em Lisboa, por denúncia de
Gois Mota, ajudante da Procuradoria-Geral
da República e comandante da Brigada Naval da Legião Portuguesa, e dá entrada na Penitenciária de Lisboa.Em 10 de Janeiro de 1929 é transferido para S. Julião da Barra, de onde consegue fugir, descendo por uma corda, na noite de 18 para 19 de Janeiro de 1929.
Em 26 de Agosto de 1931, por ocasião de uma revolução frustrada, é preso na proximidade do Quartel de Campolide, e volta à Penitenciária de Lisboa.
Dois dias depois, em 28 de Agosto de 1931 é demitido do Exército (Ordem do Exército nº14, de 4 de Setembro de 1931).
Em 2 de Setembro de 1931, é deportado para Timor, embarcando
no navio “Pedro Gomes”. Chegou a Dili em 17 de Outubro de 1931, e à ilha de
Ataúro em 18 de Outubro de 1931. Abandonados nas piores condições, os
exilados em Ataúro voltaram a Dili três
meses depois, após a morte de um deles. Em 1932 encontrava-se em Hatolia a oeste de Dili, conforme documenta
a seguinte fotografia.
Hatolia, 22 de Fevereiro de 1932. Capitão Chaves, Coronel
Hélder, Lopes de Araújo e o estudante Salazar.
Em Novembro de 1932 consegue fugir de Timor, tendo
chegado a Marselha em 13 de Dezembro de 1932.
Em 2 de Maio de 1935, foi julgado à revelia no Tribunal
Militar Especial e condenado por atentar contra o governo, a 6 anos de prisão
maior.Apesar de ter sido amnistiado em 23 de Julho de 1940, manteve-se na clandestinidade, até meados de 1943.
Desde 1919, ano em que combateu os monárquicos, mas particularmente a partir de 1927, e até 1943, a vida de António Lopes Araújo foi um combate persistente contra a ditadura, uma aventura permanente cheia de riscos.
Em 1949 participa activamente na sessão de campanha eleitoral da candidatura de Norton de Matos à Presidência da República, realizada no Teatro Club de Mortágua, como nos dá conta o jornal Defesa da Beira de 6 de Fevereiro:
« Por
fim, o sr. dr. António Lopes Araújo, da Marmeleira, lê um vasto trabalho seu
sobre estatísticas, preços antigos e preços actuais, etc., que elucidaram a
assistência sobre o aumento de preços que têm sofrido todos os géneros. »
Casou em 1951 com Beatriz de Albuquerque Saraiva, que viria
a falecer em 18 de Janeiro de 1983. Lopes de Araújo faleceu dois anos mais
tarde. Foram grandes beneméritos de
algumas instituições como os Bombeiros
de Gouveia e de Mortágua e criaram o
Centro Balmar - Fundação de Beneficência e Cultura, que neste momento é
uma reconhecida Instituição Particular de Solidariedade Social, que tem
privilegiado a acção assistencial aos idosos e à infância.
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