quarta-feira, 3 de maio de 2017


O Pelourinho de Mortágua

e O brasão dos donatários

Segundo Assis e Santos, o pelourinho de Mortágua, na actual versão, que será a terceira, terá sido desenhado e mandado reconstruir por D. Nuno de Noronha, doutor em Teologia e Mestre de Artes, que foi reitor da Universidade (1578) e Bispo de Viseu (1586) e da Guarda (1596), e que seria o provável tutor de seu sobrinho D. Sancho de Noronha, filho póstumo de D. Afonso de Noronha, senhor de Mortágua, que morreu em Alcácer-Quibir com D. Sebastião, em 4 de Agosto de 1578.
Era portanto donatário o 6ª conde de Odemira, D. Sancho de Noronha (1579-1641), e D. Nuno de Noronha seria, segundo o autor, talvez a única pessoa em Portugal capaz de conceber o Pelourinho de Mortágua.

 
É certo que a degradação provocada pelo tempo e possíveis tentativas de restauro mal sucedidas, pouco deixou para ver, mas o Dr. Assis e Santos (e só ele) consegue identificar uma série de elementos que o conduziram a um desenho que qualifica como o brasão dos donatários. E não falta lá quase nada; tem quarto-crescente lunar, sol sorridente, estrelas perfuradas, castelos com 3 torres, ponte romana, moinho de vento, 2 possíveis corvos e um monte de objectos ovoides no chão, ligados a um hipotético talo, que segundo o autor seria um cacho de uvas, certamente de um espécie rastejante.

Desenho de Assis e Santos

Esta reconstrução do brasão é absolutamente fantasiosa, já que o brasão dos Noronhas, e por consequência dos Condes d Odemira não se assemelha  em nada ao que foi descrito.


Brasão dos Condes de Odemira

Para justificar a presença das uvas no brasão, Assis e Santos apresenta um outro brasão, que existiria na capela da Nª Sr.ª do Carmo, esculpido em madeira, colocado acima da porta principal, a que o autor chama brasão antigo dos donatários.


Desenho de Assis e Santos

Frei  Agostinho de Santa Maria, situa a construção da capela e do pequeno convento consagrados a Nossa Senhora do Monte do Carmo, por ordem do Padre Sebastião do Monte Calvário, Prior da Igreja Paroquial de São Miguel da Marmeleira, na proximidade do ano de 1600. Em locais diferentes do texto, diz que a apresentação da freguesia é dos Duques do Cadaval, e mais adiante diz que o padroeiro era o Conde de Odemira.

Se a construção da  Igreja foi próxima de 1600, seria certamente o Conde de Odemira o Senhor de Mortágua, uma vez que o título de Duque do Cadaval só foi criado por D. João V, por decreto de 26 de Abril de 1648, a favor de D. Nuno Alvares Pereira de Melo.

Brasão dos Duques do Cadaval



De qualquer modo, não há correspondência com os brasões de qualquer dos possíveis donatários. O brasão dos Duques do Cadaval também não apresenta os elementos que o Dr. Assis refere.
Por isso só nos resta concluir que o Dr. Assis e Santos tinha uma frutuosa imaginação, ou que o donatário de Mortágua nessa época foi alguma outra figura que nós desconhecemos.
SANTOS, José Assis: O Pelourinho de Mortágua (1ª edição); Mortágua 1940
SANTOS, José Assis: O Pelourinho de Mortágua (2ª edição); Mortágua 1969
SANTOS, José Assis e: O Pelourinho de Mortágua -800 anos de historia; Quartzo Editora e Câmara Municipal de Mórtagua,; Mortágua. 2016
MARIA, Fr. Agostinho de Santa: Santuario Mariano e Historia das Imagẽs milagrosas de Nossa Senhora, tomo quarto. Officina de Antonio Pedrozo Galram. Lisboa 1712




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