O Pelourinho de Mortágua
e O brasão dos donatários
Segundo
Assis e Santos, o pelourinho de Mortágua, na actual versão, que será a terceira,
terá sido desenhado e mandado reconstruir por D. Nuno de Noronha, doutor em
Teologia e Mestre de Artes, que foi reitor da Universidade (1578) e Bispo de
Viseu (1586) e da Guarda (1596), e que seria o provável tutor de seu sobrinho
D. Sancho de Noronha, filho póstumo de D. Afonso de Noronha, senhor de
Mortágua, que morreu em Alcácer-Quibir com D. Sebastião, em 4 de Agosto de
1578.
Era
portanto donatário o 6ª conde de Odemira, D. Sancho de Noronha (1579-1641), e
D. Nuno de Noronha seria, segundo o autor, talvez a única pessoa em Portugal
capaz de conceber o Pelourinho de Mortágua.
É
certo que a degradação provocada pelo tempo e possíveis tentativas de restauro
mal sucedidas, pouco deixou para ver, mas o Dr. Assis e Santos (e só ele)
consegue identificar uma série de elementos que o conduziram a um desenho que
qualifica como o brasão dos donatários. E não falta lá quase nada; tem
quarto-crescente lunar, sol sorridente, estrelas perfuradas, castelos com 3
torres, ponte romana, moinho de vento, 2 possíveis corvos e um monte de
objectos ovoides no chão, ligados a um hipotético talo, que segundo o autor
seria um cacho de uvas, certamente de um espécie rastejante.
Desenho de Assis e
Santos
Esta
reconstrução do brasão é absolutamente fantasiosa, já que o brasão dos
Noronhas, e por consequência dos Condes d Odemira não se assemelha em nada ao que foi descrito.
Brasão dos
Condes de Odemira
Para
justificar a presença das uvas no brasão, Assis e Santos apresenta um outro
brasão, que existiria na capela da Nª Sr.ª do Carmo, esculpido em madeira,
colocado acima da porta principal, a que o autor chama brasão antigo dos donatários.
Desenho
de Assis e Santos
Frei
Agostinho de Santa Maria, situa a construção da capela e do pequeno
convento consagrados a Nossa Senhora do Monte do Carmo, por ordem do Padre
Sebastião do Monte Calvário, Prior da Igreja Paroquial de São Miguel da
Marmeleira, na proximidade do ano de 1600. Em locais diferentes do texto, diz
que a apresentação da freguesia é dos Duques do Cadaval, e mais adiante diz que
o padroeiro era o Conde de Odemira.
Se a construção da Igreja foi próxima de 1600, seria certamente
o Conde de Odemira o Senhor de Mortágua, uma vez que o título de Duque do
Cadaval só foi criado por D. João V, por decreto de 26 de Abril de 1648, a
favor de D. Nuno Alvares Pereira de Melo.
Brasão dos
Duques do Cadaval
De qualquer modo, não há correspondência com
os brasões de qualquer dos possíveis donatários. O brasão dos Duques do Cadaval
também não apresenta os elementos que o Dr. Assis refere.
Por
isso só nos resta concluir que o Dr. Assis e Santos tinha uma frutuosa
imaginação, ou que o donatário de Mortágua nessa época foi alguma outra figura
que nós desconhecemos.
SANTOS, José Assis: O Pelourinho de Mortágua (1ª edição);
Mortágua 1940
SANTOS, José Assis: O Pelourinho de Mortágua (2ª edição);
Mortágua 1969
SANTOS, José Assis
e: O Pelourinho de Mortágua -800 anos de
historia; Quartzo Editora e Câmara Municipal de Mórtagua,; Mortágua. 2016
MARIA, Fr. Agostinho de Santa: Santuario Mariano e Historia das Imagẽs
milagrosas de Nossa Senhora, tomo quarto. Officina de Antonio Pedrozo
Galram. Lisboa 1712
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